Dirigindo-se às tropas americanas posicionadas no exterior na quinta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usou a mensagem de Ação de Graças para obter uma "vitória" no Afeganistão e "dar a Deus graças" pela liberdade estadunidense.
Sputnik
Falando no resort Mar-a-Lago, Trump, sem modéstia, comentou que "todos comentam" sobre o progresso das tropas "nos últimos meses desde que assumi". O presidente se referia à recente mudança de política essencialmente permitindo que os militares dos EUA ampliem seus esforços no Afeganistão como bem entender.
Militantes do Talibã © AFP 2017/ Noorullah Shirzada |
"Não estamos lutando mais para simplesmente zanzar por aí — estamos lutando para ganhar", acrescentou o republicano. "Estamos realmente ganhando… Nós sabemos como ganhar".
Falando para o programa da Rádio Sputnik, Loud & Clear, o professor de estudos internacionais da Trinity College, Vijay Prashad, avaliou que ouvir Trump comentar sobre a situação da guerra no Afeganistão "foi doloroso por várias razões". O acadêmico aludiu ao aumento de bombardeios e da presença de tropas americanas no país devastado pela guerra.
O aumento acentuado no número de tropas não é o único problema a preocupar Prashad. Como Trump ajustou as regras sobre como as autoridades militares podiam se autoconduzir, a alta patente das tropas aproveitou a oportunidade para começar a bombardear instalações de produção de ópio para atingir o fluxo de receita do Talibã.
"Você quer parar as exportações de ópio, mas que alternativa você propõe para o povo do Afeganistão? Ao bombardear as instalações de produção de ópio, você vai alienar um grande número de pessoas — os civis em grande parte — que se voltarão para o Talibã".
"Este é precisamente o que aconteceu para o Talibã no início da ocupação americana e vai ser uma repetição", disse o professor, que também é o autor de "The Death of The Nation e The Future of the Arab Revolution" (A morte da nação e o futuro da revolução).
Acabar com toda a agricultura de papoula não é uma opção para os civis que vivem em áreas controladas pelo Taliban, avalia Kiriakou.
"Quando eu estava com o Comitê de Relações Exteriores do Senado para dialogar com fazendeiros afegãos de papoula e perguntar o porquê deles estarem cultivando papoula de ópio quando poderiam estar crescendo trigo de inverno, eles olharam para mim como eu estivesse louco. A maioria me disse que se não quisessem cultivar a planta em uma área controlada pelo Talibã, o grupo mataria a eles e todas as suas famílias".
Para Prashad, essa deveria ter sido uma lição aprendida para os americanos após a guerra no Vietnã.
"Você não ganha [uma guerra] bombardeando, não ganha soltando napalm e agente laranja e destruindo a agricultura".
Embora não seja claro para Prashad o que poderia ser considerado uma vitória par Trump, o especialista acredita que a queda na produção de opiáceos pode ser usada como "uma grande propaganda" capaz de transparecer a imagem de "missão cumprida".
"Haverá reivindicações muito grandes [de uma vitória], mas essas afirmações não serão fundamentadas pela realidade".