Tillerson presidiu na sede das Nações Unidas em Nova York sua primeira reunião ministerial dos 15 membros do Conselho de Segurança dedicada à crise com Pyongyang
O Estado de S. Paulo
NAÇÕES UNIDAS - O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, lançou nesta sexta-feira um chamado para frear a ameaça nuclear representada pela Coreia do Norte, pedindo que a China exerça sua "influência econômica" para controlar seu aliado e evitar assim "consequências catastróficas". Segundo ele, o risco de um ataque norte-coreano nuclear contra o Japão ou a Coreia do Sul é "real". Tillerson presidiu na sede das Nações Unidas em Nova York sua primeira reunião ministerial dos 15 membros do Conselho de Segurança dedicada à crise com Pyongyang.
Rex Tillerson, secretário de Estado dos EUA, tentará endurecer no Conselho de Segurança da ONU as respostas às ameaças nucleares da Coreia do Norte | Foto: AP Photo/Cliff Owen |
"Não atuar agora ante o problema de segurança mais premente do mundo poderá ter consequências catastróficas", declarou o chefe da diplomacia americana, numa campanha de pressão sem precedentes para forçar a Coreia do Norte a parar seu programa nuclear e balístico.
O secretário americano afirmou diante do Conselho que "todas as opções devem permanecer sobre a mesa" contra a Coreia do Norte, que pode, segundo ele, realizar um ataque nuclear contra a Coreia do Sul e o Japão, ou até mesmo contra os Estados Unidos.
"A ameaça de um ataque nuclear norte-coreano contra Seul ou Tóquio é real, e é provavelmente uma questão de tempo antes que a Coreia do Norte desenvolva a capacidade de atingir o território dos Estados Unidos", declarou o diplomata.
Sinal da urgência da questão para os Estados Unidos, cujos territórios como o Havaí ou a costa noroeste poderiam estar ao alcance dos mísseis norte-coreanos, Tillerson declarou à rádio pública americana que seu país não excluía um diálogo direto com o regime do líder Kim Jong-Un.
"Obviamente, essa seria a maneira como nós gostaríamos de resolver isso", assegurou Tillerson. "Mas Pyongyang deve estar pronto para discutir a agenda correta", que significa a desnuclearização da Península Coreana e não apenas um congelamento de seu programa nuclear, acrescentou.
Influência da China
Neste sentido, o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, defendeu na ONU o diálogo com a Coreia do Norte como "a única opção correta" para tentar resolver a crise com Pyongyang por seus programas nucleares e balísticos.
Além disso, o chanceler chinês advertiu contra ações militares em resposta à ameaça norte-coreana. "O uso da força não resolve as diferenças e só levará a maiores desastre", apontou.
Wang Yi defendeu a necessidade da "desnuclearização da península e a manutenção do regime internacional de não-proliferação nuclear, a fim de evitar o caos na região".
Falando com a ajuda de uma tradutora, o ministro chinês voltou a apresentar a proposta de Pequim de congelar os programas militares nuclear e balístico da Coreia do Norte, aliada da China, em troca do fim dos exercícios militares entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul, ligados por um tratado de aliança.
Ele também pediu a retomada das negociações a seis entre a Coreia do Norte, Coreia do Sul, Japão, Rússia, Estados Unidos e China. O diálogo durou de 2003 a 2009, sem sucesso.
Assim com o governo de Barack Obama, a equipe de Donald Trump conta com a China para pressionar a Coreia do Norte. Tillerson reiterou seu pedido a Pequim para que exerça "sua influência econômica" para obrigar Pyongyang a parar seus programas armamentistas. "Devemos fazer a nossa parte, mas a China representa 90% do intercâmbio comercial norte-coreano", alertou o diplomata americano.
O regime comunista multiplicou nos últimos anos seus lançamentos de mísseis balísticos e realizou cinco testes nucleares subterrâneos, incluindo dois em 2016.
Estes programas militares valeram ao país uma série de resoluções e sanções internacionais da ONU. De acordo com especialistas, essas medidas punitivas, no entanto, tiveram pouco impacto sobre Pyongyang.
Risco de confronto
Neste contexto, o vice-chanceler russo, Gennady Gatilov, advertiu que "a retórica juntamente com um show imprudente de força levam a uma situação em que o mundo se pergunta se haverá ou não uma guerra". "Uma medida mal interpretada pode levar a consequências das mais assustadoras e lamentáveis", alertou o ministro russo.
Após tomar posse em 20 de janeiro, Trump baixou o tom das ameaças de recorrer à força e tem privilegiado a diplomacia, apesar das ameaças lançadas há várias semanas por Washington e Pyongyang.
Na quinta-feira à noite, o presidente americano reiterou sua preferência por uma solução negociada, ressaltando o risco de um confronto militar.
"Existe a possibilidade de um grande, grande conflito" com a Coreia do Norte, garantiu Trump à agência Reuters. "Gostaríamos de resolver as coisas pela via diplomática, mas é muito difícil".
Trump provocou polêmica na quinta-feira ao propor que Seul pague pelo escudo antimísseis americano que está implantando para contrabalançar a ameaça da Coreia do Norte e cujo custo chega a um bilhão de dólares.
Os primeiros elementos do sistema THAAD (Terminal High Altitude Area Defense) já chegaram ao campo de golfe onde serão instalados, 250 km ao sul de Seul, o que provocou os protestos de Pequim em um contexto de fortes tensões na península.
Mas Seul respondeu que, segundo os termos dos acordos sobre a presença militar americana no país, a Coreia do Sul fornece o terreno para o sistema THAAD e as infraestruturas, enquanto Washington paga por sua implantação e funcionamento. (AFP)