Pequim afirma que THAAD cobre parte de seu território e prejudica sua própria força de dissuasão; Pyongyang acusou Washington de levar a península coreana para a beira de uma guerra nuclear
O Estado de S.Paulo
PEQUIM - A China pediu nesta terça-feira, 2, a suspensão "imediata" do sistema antimísseis americano THAAD (Terminal High Altitude Area Defense) na Coreia do Sul, horas depois da instalação do dispositivo, mas elogiou a atitude aberta do presidente americano, Donald Trump, a respeito da Coreia do Norte.
Pequim denuncia há vários meses a instalação do dispositivo, anunciado por Washington em 2016 em resposta ao programa nuclear e balístico da Coreia do Norte. A China afirma que o THAAD cobre parte de seu território e prejudica sua própria força de dissuasão.
"A posição da China é clara e firme. Somos contrários à instalação do sistema THAAD e pedimos às partes envolvidas que interrompam imediatamente a instalação. Tomaremos as medidas necessárias para defender nossos interesses", afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Geng Shuang.
Na segunda-feira 1.º, o coronel Rob Manning, porta-voz das forças americanas na Coreia do Sul, anunciou que o sistema THAAD já estava "operacional", com a "capacidade de interceptar os mísseis norte-coreanos". Outra fonte americana, que falou na condição de anonimato, indicou, no entanto, que o sistema instalado alcançou apenas a "capacidade inicial de interceptação".
O porta-voz chinês expressou, ao mesmo tempo, satisfação com as declarações de Trump, que estaria disposto a fazer uma reunião com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, "sob as circunstâncias adequadas". Washington afirmou nas últimas semanas que a opção militar a respeito da Coreia do Norte "está sobre a mesa". "Tomamos conhecimento das declarações da parte americana e dos sinais positivos que transmitem", disse Geng.
Proteção
"A prioridade urgente é tomar medidas para reduzir a tensão. E uma das medidas eficazes para fazer isto é retomar as negociações de paz com a Coreia do Norte", completou o porta-voz.
A China, assim como os EUA, denuncia o programa nuclear e balístico da Coreia do Norte. Washington, no entanto, deseja que Pequim faça mais para convencer o regime norte-coreano a abandonar seus projetos.
Pequim sugere há várias semanas que a Coreia do Norte suspenda seu programa nuclear e balístico, e pede o fim das manobras militares organizadas pelos EUA na Coreia do Sul. A proposta foi rejeitada por Washington, que quer que Pequim aplique mais estritamente as sanções adotadas pela ONU contra o regime norte-coreano.
De acordo com especialistas, a primeira bateria de mísseis defensivos do sistema THAAD instalada na Coreia do Sul não é suficiente para proteger todo o território sul-coreano e seriam necessárias de duas a três baterias para cobrir o país. Mas a presença do sistema modifica o equilíbrio estratégico entre Pyongyang e Seul, limitando o poder de destruição dos norte-coreanos.
"Não é a arma absoluta, isto não existe, mas oferece uma proteção crucial para as tropas americanas e sul-coreanas na península, reforçando a dissuasão e a postura defensiva das tropas", disse Thomas Karabo, especialista em defesa antimísseis do centro de pesquisas CSIS, com sede em Washington.
O financiamento do escudo foi recentemente objeto de discussão entre o governo americano e Seul. Trump considerou "apropriado" que a Coreia do Sul pague por este sistema, que tem custo calculado em US$ 1 bilhão. O governo sul-coreano rejeitou a ideia.
A China aprovou uma série de medidas de restrição comercial a respeito da Coreia do Sul, ao que parece uma represália à instalação do THAAD.
Acusação
Ainda nesta terça-feira, a Coreia do Norte acusou os EUA de levarem a península coreana para a beira de uma guerra nuclear depois que dois bombardeiros estratégicos americanos realizaram exercícios de treinamento com as forças aéreas da Coreia do Sul e do Japão.
As duas aeronaves supersônicas B-1B Lancer foram mobilizadas em meio à crescente tensão sobre o desenvolvimento dos programas nuclear e de míssil da Coreia do Norte em desafio a sanções da ONU e a pressão de Washington.
O porta-voz do Ministério da Defesa da Coreia do Sul, Moon Sang-gyun, disse em uma coletiva de imprensa em Seul que o exercício conjunto de segunda-feira foi conduzido para desencorajar as provocações da Coreia do Norte.
Pyongyang afirmou que as aeronaves conduziram um "exercício de lançamento de bomba nuclear contra objetos importantes" em seu território, em um momento em que Trump e "outros militaristas americanos estão pedindo para fazer um ataque nuclear preventivo" na Coreia do Norte.
"A imprudente provocação militar está empurrando a situação da península coreana para a beira de uma guerra nuclear", informou a agência de notícias oficial da Coreia do Norte, KCNA. (AFP e REUTERS)