Ancara anunciou que sua campanha militar de larga escala no Norte da Síria terminou com sucesso. O momento em que o fato foi divulgado levou muitos a pensarem que a decisão poderia estar ligada à visita do secretário de Estado americano, Rex Tillerson, à Turquia e ao próximo referendo sobre a nova Constituição do país.
Sputnik
O cientista político Aleksandr Asafov insistiu que a declaração feita pelo Conselho de Segurança Nacional turco tinha sido planejada para coincidir com a visita de Tillerson, já que o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, bem como vários outros altos responsáveis oficiais, pretendia usar esta operação como moeda de troca durante as respectivas conversações.
Tanques turcos em operação na fronteira com a Síria © AP Photo/ IHA via AP |
Além disso, Erdogan poderia usar a operação Escudo do Eufrates para tentar exercer pressão sobre Washington para obter a redução, ou mesmo o cancelamento total, da sua assistência prestada aos curdos sírios.
"Erdogan quer receber ‘carta branca' para atuar de forma independente e proteger seus interesses na região", disse o analista ao canal RT.
Está planejado que Tillerson deverá chegar à Turquia em 30 de março. O diplomata principal dos EUA vai se encontrar com o presidente Recep Tayyip Erdogan e com o chanceler Mevlut Cavusoglu para discutir a campanha contra o Daesh encabeçada pelos EUA e travada em território iraquiano e sírio, bem como a exigência de Ancara para extraditar o clérigo recluso Fethullah Gulen, acusado por Ancara de ter arquitetado o golpe de Estado falhado de julho de 2016.
Vladimir Avatkov, chefe do Centro de Estudos Orientais, Relações Internacionais e Diplomacia Pública, não acha que a decisão turca de terminar oficialmente seu envolvimento no conflito sírio esteja diretamente relacionada com a visita de Tillerson.
"Se há uma ligação, ela não é direta. Os turcos têm estado em processo de busca de um equilíbrio. Eles também tentam encontrar um novo lugar no mundo e na região. Neste contexto, os encontros com os parceiros russos e americanos são muito importantes para Ancara", afirmou.
Avatkov indicou que as autoridades turcas talvez tenham decidido terminar a campanha devido ao referendo sobre a nova Constituição que está marcado para 16 de abril.
Na opinião dele, Ancara vai beneficiar de ter encerrado a operação num ponto alto e não a ter arrastado até um ponto no qual já teria de enfrentar desafios geopolíticos ou militares.
Ambos os analistas afirmaram que a Turquia pode iniciar outra campanha militar na Síria em qualquer momento.
"Erdogan demonstrou que a Turquia tem um Exército experiente, capaz de completar missões na região. Terminamos com sucesso a Operação Escudo do Eufrates e poderíamos, por exemplo, dar início a uma operação Espada do Eufrates que teria como alvo tanto o Daesh como os curdos. Tal retórica é bem possível", afirmou Asafov.
Ancara lançou a operação Escudo do Eufrates em 24 de agosto para expulsar o Daesh das cidades e povoados localizados na fronteira da Síria com a Turquia.
A intervenção militar também visou prevenir que as forças curdas avançassem para ocidente e ligassem as áreas por eles controladas em uma região com uma só fronteira.
Os militares turcos e o Exército Livre da Síria libertaram as cidades de Al-Bab e Jarabulus como parte da campanha, criando uma zona tampão no Norte da Síria.