Frota que os EUA anunciaram em direção à Península Coreana fez manobras conjuntas com a Austrália
Jan Martínez Ahrens | El País
Washington - Todos participaram da narrativa do engano. Os almirantes, o secretário de Defesa e até o presidente. A Administração Trump viveu nesta terça-feira um momento constrangedor ao se descobrir que a frota nuclear de dissuasão que supostamente se dirigia à Península da Coreia para mostrar os dentes ao regime de Pyongyang nunca tomou essa direção, mas navegou no sentido contrário. O disparate, mantido durante 10 dias sem retificação e finalmente revelado pela mídia norte-americana, enlameia a credibilidade da cúpula militar, incluindo o secretário de Defesa, Jim Mattis, e põe em dúvida o rigor de sua estratégia em um dos conflitos mais voláteis e delicados do planeta.
A ordem era clara. O almirante Harris Harris anunciara que o porta-aviões nuclear Carl Vinson e seu poderoso grupo de combate se dirigiam de Cingapura para a Coreia. Era 8 de abril e dois dias antes os Estados Unidos haviam bombardeado o regime sírio. Energizados pelo ataque às tropas de Bashar al-Assad, os militares explicaram que o deslocamento naval tinha como objetivo responder à Coreia do Norte, cuja corrida “temerária, irresponsável e desestabilizadora” para conseguir um míssil intercontinental com capacidade atômica a havia transformado no “perigo número um da região” Em 11 de abril, o antigo tenente-general Mattis confirmou publicamente a missão e no dia seguinte o próprio presidente insistiu em que havia sido “enviada uma poderosa armada”. A possibilidade de um ataque preventivo se agigantou.
O mundo começou a tremer. A escalada da tensão era alimentada por Washington e Pyongyang. As armas estavam sobre a mesa. Tudo se encaixava. Exceto um detalhe: o porta-aviões, segundo The Washington Post e The New York Times, se achava naquele momento a 5.600 quilômetros da Península Coreana e navegava em direção contrária, especificamente no rumo do Índico para participar de manobras conjuntas com a Marinha australiana.
Ninguém teria sabido se a própria Armada não tivesse divulgado na segunda-feira uma série de fotografias tiradas no dia anterior do navio cruzando o Estreito de Sunda, entre Java e Sumatra. A mais de 5.000 quilômetros de seu teórico destino.
Agora, algumas fontes militares afirmaram que não se corrigiu a tempo o itinerário da frota, prefixado para as manobras conjuntas, e outras indicaram que se quis dar tempo à China para que pressionasse a Coreia do Norte. De qualquer modo, o porta-aviões, desta vez, sim, se dirige à Península Coreana. E chegará a seu destino na semana que vem. Supostamente.