Retirada deve começar 'nas próximas horas'. Chefe de grupo rebelde diz que acordo inclui retirada de civis, mas embaixador da Rússia na ONU cita apenas os rebeldes.
Por G1
A Rússia e a Turquia chegaram a um acordo nesta terça-feira (13) para a retirada rebeldes da cidade de Aleppo, na Síria. A informação foi dada por Yaser al Yousef, chefe do grupo rebelde Nuredin al Zinki, e confirmada pelo embaixador da Rússia na ONU, Vitaly Churkin. Yaser al Yousef disse que o acordo inclui a retirada de civis, mas segundo Vitaly Churkin vale apenas para os rebeldes.
Imagem desta terça-feira (13) mostra a destruição na cidade de Aleppo, na Síria (Foto: Youssef Karwashan / AFP) |
A retirada deve ocorrer "nas próximas horas", segundo as fontes. A Rússia apoia o regime do presidente Bashar al-Assad, enquanto a Turquia dá apoio aos rebeldes. O regime de Damasco está prestes a retomar a cidade das mãos dos rebeldes. O governo já controla Aleppo ocidental e suas tropas tomaram três quartos das cidade desde que entraram no enclave, por terra, em 27 de novembro, com o apoio de ataques aéreos contínuos.
"Foi alcançado um acordo para a evacuação dos habitantes e rebeldes com suas armas leves dos bairros sitiados de Aleppo", indicou Yousef, acrescentando que acordo "entrará em vigor nas próximas horas" e que foi concluído "sob liderança da Rússia e da Turquia". Uma autoridade militar síria disse que a retirada de rebeldes começará às 5h (horário local) desta quarta-feira (1h, pelo horário de Brasília).
"Agora [Aleppo] ficará sob o controle do governo sírio, então não há necessidade de que os civis restantes saiam, e há acordos humanitários", disse Churkin. "O acordo é para que os combatentes saiam. Os civis podem ficar, podem ir a locais seguros, podem aproveitar os acordos humanitários. Ninguém vai ferir os civis", afirmou.
Um integrante do grupo rebelde Jabha Shamiya disse à Reuters que espera-se que a maioria das 50 mil pessoas que ainda estão na cidade deixe as áreas rebeldes. Uma fonte do governo turco afirmou que eles devem seguir para a província síria de Idlib.
Símbolo da guerra
Aleppo, que já foi a capital econômica da Síria, virou o símbolo da guerra que devasta o país desde março de 2011 e que já provocou mais de 300 mil mortes. As forças do governo ocupam a zona oeste da cidade e desde julho deste ano formam um cerco contra os rebeldes, que controlam bairros do leste.
Segundo a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), a guerra da Síria deixou mais de 300 mil mortos desde o início em março de 2011.
Nos últimos quatro anos, o centro histórico de Aleppo tem sido um dos fronts de guerra. Seus vestígios guardam marcas incessantes dos combates do grupo dos rebeldes, donos dos bairros do leste, às forças do regime, que controlavam o oeste.
Mais cedo, a Reuters informou que, segundo um rebelde sírio que luta em Aleppo, deve haver uma trégua completa nesta noite.
Reunião de emergência
O Conselho de Segurança da ONU convocou uma nova reunião de emergência para esta quarta-feira, a pedido de França e Reino Unido, para discutir a situação em Aleppo e as supostas execuções de civis na cidade por parte das tropas leais ao regime.
"Aleppo está sofrendo seus dias mais obscuros. Temos relatórios críveis de assassinatos brutais de famílias, execuções sumárias, incluindo crianças e mulheres, casas incendiadas com pessoas dentro, ataques contra hospitais. E a lista segue", afirmou aos jornalistas o embaixador francês na ONU, François Delattre.
"Francamente, a situação em Aleppo vai além das palavras, além da vergonha", disse Delattre, ressaltando que "crimes de guerra" estão sendo cometidos diariamente na principal cidade do norte da Síria.
De acordo com a ONU, tropas pró-governo da Síria executaram 82 civis, entre eles mulheres e crianças, em quatro distritos de Aleppo, palco de uma batalha para expulsar os grupos rebeldes.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, citou as atrocidades e pediu que todos façam o possível para deter o massacre.
"Todos os combatentes, particularmente as forças governamentais e seus aliados, devem cumprir a obrigação de respeitar os civis e seguir as normas da guerra e dos direitos humanos", disse Ban.