Em entrevista à Sputnik Turquia, o chefe da cátedra do Oriente Médio e da África do Instituto Turquia Século XXI e doutor em ciências políticas, Serhat Erkmen, analisa a situação na Síria e apresenta seus prognósticos quanto ao futuro do conflito.
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Os quarteirões orientais e do sul de Aleppo continuam sendo libertados de agrupamentos jihadistas, em especial, dos militantes da Frente al-Nusra, pelo Exército Livre da Síria.
Idlib, Síria © REUTERS/ Khalil Ashawi
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Neste âmbito, os temas mais discutidos estão relacionados ao futuro da região de Idlib, que fica perto da fronteira com a Turquia, e para onde vão os jihadistas que concordam ceder e deixar Aleppo.
Ao caracterizar o sucesso do Exército Sírio em Aleppo como "um ponto de viragem" no conflito sírio, Erkmen frisou que o controle de Aleppo, exercido pelas tropas governamentais, garantirá às autoridades sírias uma vantagem diplomática considerável quando todos estiverem sentados à mesa das negociações.
Os avanços das forças governamentais em Aleppo têm grande significado do ponto de vista psicológico. Nesta etapa, é presenciada uma "reviravolta psicológica" a favor do Exército Sírio no placar dos confrontos com os agrupamentos armados.
"O mantimento de controle do centro de Aleppo é um grande êxito do ponto de vista da motivação", afirmou especialista à Sputnik Turquia.
Segundo Erkmen, a libertação de Aleppo não significa o fim dos confrontos na Síria, pois o Daesh (grupo terrorista proibido na Rússia) está impregnado no país.
"Nas regiões oriental, nordeste e noroeste do país continuam violentos conflitos. Não se deve esperar que eles terminem nos próximos 3 ou 4 meses, pois trata-se de um processo que pode levar até mesmo 2 anos. Todos falam que o Daesh vem sofrendo uma derrota após a outra e será logo eliminado, mas é preciso entender os traços específicos deste agrupamento", afirmou.
"Combatendo em Al-Bab, Raqqa e Mossul, os militantes do Daesh de súbito atacam Palmira. Não dá para comparar a capacidade de combate do Daesh com a de outros agrupamentos no território sírio, por ser muito mais alta. Isto deve ser levado em consideração", acrescentou o acadêmico.
O analista acredita que as hostilidades se intensificarão na província de Idlib:
"Creio que, em um futuro próximo, a partir de fevereiro, o centro de confrontos poderá ser deslocado à região de Idlib. Lá, supostamente, começará mais uma campanha militar de larga escala. Idlib é um território densamente povoado e compacto, onde estão atuando inúmeros grupos armados. Tal fato leva a crer que as ações militares possam durar muito mais do que 2 a 3 meses."
Na opinião do especialista turco, quando os confrontos em Idlib se intensificarem, as relações russo-turcas enfrentarão um novo desafio.
"Ambos os países têm suas próprias expectativas em relação ao processo de regularização na Síria. De alguma forma, Idlib pode ser uma espécie de teste para as relações bilaterais entre a Turquia e a Rússia, pois se os dois países conseguirem chegar a um acordo duradouro, isto poderá determinar o desenvolvimento de eventos em Idlib, mudando o curso da cidade. Mas deve-se levar em consideração que a situação em Idlib está intrinsicamente ligada à situação na cidade de Al-Bab, enquanto esta — à de Raqqa. Se, no decorrer deste processo, Mossul for libertada ou qualquer outra força avançar na direção de Raqqa, a disposição das forças pode mudar completamente."