O governo alemão admitiu atividades "extralegais" realizadas por militares norte-americanos na base de Ramstein.
Sputnik
Após ser repetidamente interpelado pelo partido de oposição Die Linke, o governo da Alemanha admitiu que a Força Aérea norte-americana usa a base de Ramstein para controlar ataques de drones no âmbito de operações antiterroristas e também para realizar assassínios ilegais.
Base militar Ramstein, Alemanha © AFP 2016/ JEAN-CHRISTOPHE VERHAEGEN
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A respectiva informação foi divulgada pelo parlamentar alemão Andrej Hunko em uma conversa com a Sputnik Alemanha.
O deputado, do partido Die Linke, disse que o governo alemão admitiu finalmente a ocorrência destas atividades:
"É muito estranho. Nós estávamos perguntando sobre o papel da base de Ramstein na guerra de drones dos EUA por dois anos. Após declarações de pilotos de drones, o público sabia por muito tempo que Ramstein é o maior centro de controle desta 'guerra de drones'. Agora, após muitos desmentidos, finalmente há a confissão de que Ramstein desempenha esta função", disse Hunko.
Localizada em Rhineland-Palatinate, a base militar alemã é o quartel-general da Força Aérea dos EUA na Europa e também é usada como base da OTAN.
Em agosto, o lado norte-americano informou o governo federal da Alemanha sobre a utilização da base de Ramstein como centro de controle de drones, mas Berlim aguardou até o início de dezembro para divulgar a informação.
"Eles [as autoridades alemãs] não diriam nada se nós, a oposição, não perguntássemos de novo. A exigência de informação feita ao exército norte-americano pelo governo federal só aconteceu por causa da nossa pressão, dos deputados. De fato, os EUA só oficialmente admitiram o papel que Ramstein desempenhava na guerra de drones em agosto."
A pedido do Die Linke, o governo da Alemanha disse que em Ramstein estão sendo realizadas operações de "planejamento, monitoramento e avaliação".
Como resultado, o partido de oposição está realizando uma campanha para fechar a base militar, tendo em conta que as operações de drones norte-americanos violam a legislação alemã e internacional. E agora o governo é obrigado a realizar uma investigação das atividades na base militar, destacou Hunko.
"Estas operações de drones estão sendo realizadas no quadro da assim chamada guerra contra terrorismo, em que terroristas suspeitos são atingidos por drones. Os terroristas são alvejados com base em listas criadas pelos EUA e divulgadas pelo presidente americano todas as terças-feiras. Há também as assim chamadas execuções extralegais em países contra os quais os EUA não realizam campanhas militares, como o Iêmen ou o Paquistão," destacou.
Em julho a administração de Barack Obama divulgou que entre 64 e 116 civis foram assassinados em 473 ataques de drones na Líbia, Paquistão, Somália e Iêmen desde o início da presidência dele em 2009.
A administração foi criticada por variadas organizações não-governamentais, que apontam números completamente diferentes. Estas indicam o assassinato de 1.000 civis em ataques de drones norte-americanos durante o mesmo período de tempo.
Segundo a investigação do Bureau of Investigative Journalism, baseado em Londres, só no Paquistão os EUA realizaram 424 ataques de drones desde 2004 que mataram entre 424 a 966 civis, inclusive 207 crianças.
No Afeganistão foram registrados desde 2015 pelo menos 845 ataques de drones dos EUA que mataram entre 124 e 181 civis.
Um dos princípios da legislação internacional que deve ser respeitado pelas forças militares é a lei da proporção, que exige que o dano colateral, quer dizer o número de vidas civis e danos aos bens de civis, não deve desproporcionado em relação à necessidade de ações militares.
O Die Linke declara que os ataques de drones em questão violam este princípio e chama a adotar uma convenção internacional em relação ao problema.
"Eles matam estes ou aqueles terroristas, mas também matam muitas pessoas inocentes. Para muitas pessoas nestas regiões há o medo constante de que um drone possa lhes atingir em qualquer instante," explicou Andrej Hunko.