Em uma matéria exclusiva, o colunista da Sputnik Internacional, Suliman Mulhem, partilha seus prognósticos quanto à política dos EUA na Síria após a posse de Trump.
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À medida que o conflito sírio se aproxima do seu 6° aniversário, é percebido um sentimento comum de otimismo entre os apoiadores do regime, com a Rússia intensificando sua assistência militar e a hipótese de Donald Trump pôr fim ao apoio prestado à oposição.
Terroristas da Frente Fateh al-Sham © AFP 2016/ Alice Martins
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Desde o início da desordem na Síria, o governo norte-americano tem buscado tirar o presidente Bashar Assad do seu cargo, usando todas as artimanhas possíveis para consegui-lo. Entretanto, houve uma especulação generalizada sobre o envolvimento de Donald Trump no combate a tais grupos como o Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e em muitos outros países) e possível interesse de trabalhar ao lado das forças de Assad e da Rússia.
Ahrar al-Sham é uma das facções mais poderosas que estão lutando contra o Exército Árabe da Síria e seus aliados. A Rússia já tentou classificar esta organização como um grupo terrorista, mas os EUA foram contra tal medida.
O governo norte-americano também criticou a Força Aérea russa por atacar este grupo. Ahrar al-Sham fala abertamente sobre suas intenções de impor as leis da sharia por toda a Síria, além de ter colaborado com a Frente Fatah al-Sham (ex-Frente al-Nusra), que antigamente era parte da organização terrorista Al-Qaeda.
Ao contrário do Daesh, que visa estabelecer um califado internacional, Ahrar al-Sham indicou que se interessa somente em impor as leis de sharia na Síria. Este "somente" é problemático, pois pode causar transtornos para muitas minorias, que seriam perseguidas pelo grupo.
Vale ressaltar que se o grupo alcançar seus objetivos na Síria, ela poderá ampliar seus planos, visando, eventualmente, estabelecer o Estado Islâmico além das fronteiras sírias.
Afinal, tais grupos prosperam através da violência, guerra e expansão agressiva. Deste modo, ao ajudar este grupo, os EUA estão pondo em risco, de forma incoerente, não só a si mesmos, mas também os outros países.
É pouco provável que Trump continue apoiando este grupo. De fato, muitos combatentes de oposição na Síria ficaram profundamente angustiados quando a vitória do republicano sobre Hillary Clinton veio à tona.
Percebeu-se que a política externa de Hillary, especialmente sobre a Síria, contrastava drasticamente com a de Trump. Aparentemente, ela defendia a criação de uma zona interditada de voo sobre a Síria e o fornecimento de mais apoio militar à oposição armada. A Rússia possui ativos avançados na Síria, inclusive vários caças e sistemas de mísseis superfície-ar. Isto a deixa de mãos desatadas para prevenir a criação de uma zona interditada de voo.
Mesmo com a ajuda substancial dos seus aliados, os rebeldes de Aleppo não foram capazes de romper o cerco no Leste da cidade. No início, eles conseguiram ganhar alguns pontos, especialmente no bairro controlado por Assad, mas as forças pró-governamentais tiveram sucesso em reverter todas suas realizações em apenas alguns dias com pouco apoio aéreo. As forças governamentais em Aleppo são compostas de unidades do Exército Sírio, milícias palestinas Liwa al-Quds, combatentes do Partido Social Nacionalista Sírio, Hezbollah e os milicianos xiitas iraquianos.
A Rússia e a Síria deram aos rebeldes e civis várias oportunidades de deixar Aleppo, mas as forças de oposição preveniram a população civil de fugir da área. Recentemente, foi divulgada uma gravação de protestos em Aleppo, cujos participantes apelavam aos rebeldes para deixar a região. Supostamente, em uma parte do vídeo, é possível ver homens armados disparando balas reais contra os manifestantes.
Quanto às ações do presidente recém-eleito dos EUA, quem viver verá, mas parece que ele ao menos cortará o apoio aos rebeldes. Talvez ele até se contente em deixar Assad no poder como parte do plano para combater terrorismo e ajudar a Síria a voltar para a vida normal. Mesmo sem assistência do Ocidente, as forças de Assad vêm ganhando vantagem na maior parte das frentes de batalha sírias.
Alguns analistas sugeriram que Trump poderia continuar o mesmo rumo da política externa norte-americana, armando e apoiando a oposição, inclusive grupos islamistas, tais como Ahrar al-Sham.
No final das contas, a decisão de Trump pode tomar dois caminhos: dar um papel significativo na tomada de decisões aos seus conselheiros e ocupar uma posição de "testa-de-ferro" ou executar suas promessas eleitorais.