Ádamo Luiz Colombo da Silveira – TC Comandante do CI Bld
DefesaNet
1. INTRODUÇÃO
O emprego de blindados em área humanizada está inserido no contexto atual de operações de amplo espectro no manual de campanha EB 20 – MF 10.103 (Operações). O manual destaca a participação da tropa blindada em operações ofensivas, defensivas e de estabilização.
Foz do Iguaçu (PR) – Exercício de Experimentação Doutrinária - Foto: Seção de Comunicação Social do 34º BIMec |
A análise dos tipos de operações com blindados em área humanizada é muito abrangente, carecendo de uma limitação teórica. Limita-se pois o estudo nas viaturas blindadas de combate fuzileiro (VBC Fuz) ou blindadas de transporte de pessoal (VBTP) em área humanizada.
Na análise das VBC Fuz e das VBTP, destaca-se as limitações impostas pelo material ao emprego tático da fração e as capacidades destacadas do pelotão nesse tipo de operação, particularmente no combate desembarcado, limpeza de instalações e reduções das posições de armas anticarro furtivas e para destruição de viaturas blindadas leves.
A seguir, será analisado o emprego de blindados dentro do escopo da função de combate movimento e manobra, nas operações ofensivas em área humanizada, destacando os principais meios blindados empregados nesse contexto operativo.
2. DESENVOLVIMENTO
O largo emprego de tropas de fuzileiros no combate confinado da localidade é uma premissa quase universal aos planejadores militares nos dias atuais. No conflito da Segunda Grande Guerra os combatentes deslocavam-se pelas ruas, muitas vezes sob a proteção oferecida pelos carros de combate, num conflito onde ainda não se tinha popularizado o emprego das armas anticarro.
O pós 2ª Guerra Mundial foi marcado pela escalada armamentista e pelo desenvolvimento de novas tecnologias, onde pode-se reforçar o surgimento e desenvolvimento de potentes armas anticarro para fazer face aos blindados. Essa tecnologia revolucionou a tática de combate na localidade, exigindo das tropas blindadas uma maior proteção contra essa ameaça.
As tropas de fuzileiros, particularmente nos conflitos árabe-israelenses, como o do Líbano em 1982, utilizaram-se de viaturas blindadas de transporte de pessoal – VBTP M113 – para prover uma maior mobilidade e proteção às suas tropas no interior das localidades. Essa proteção era dada essencialmente contra disparos de armas de pequeno calibre, não sendo suficiente contra a nova ameaça anticarro dos mísseis e lança-rojões.
As vulnerabilidades das VBTP, como baixa blindagem e poder de fogo limitado a metralhadoras como armamento principal, ficaram evidentes principalmente quando as VBTP eram dissociadas dos carros de combate (CC), faltando-lhe um maior apoio de fogo para a manobra dos fuzileiros dentro das cidades.
Nesse contexto, surgiram principalmente no final dos anos 70 e 80 do século passado, as viaturas blindadas de combate de fuzileiros. Normalmente dotadas de um canhão de grande cadência de tiro de calibre superior a 20mm, sistemas optrônicos de direção e controle de tiro e blindagem maior que as VBTP da geração anterior, incrementaram o poder de combate das tropas de fuzileiros.
Aliadas aos CC, as VBC Fuz alteraram a balança do poder relativo de combate, já que agora as tropas de fuzileiros podiam combater a maior parte do tempo embarcadas sob a proteção da viatura.
Para contrabalançar essa inovação, as tropas regulares e insurgentes passaram a incrementar seu poder de defesa anticarro (AC), aprimorando principalmente as táticas de combate. Tornou-se comum, como foi verificado no conflito da Chechênia em 1994, a realização de tiros de emboscada dos pontos mais elevados, largo uso de obstáculos nas vias de acesso para barrar o avanço das viaturas.
Nos conflitos mais recentes, como no Iraque, Afeganistão e Síria, essa tática de combate de emboscada AC sofreu o incremento do emprego de dispositivos explosivos improvisados com alto poder de destruição, mesmo para as viaturas blindadas agora dotadas de maior proteção.
Para minimizar os efeitos anteriormente mencionados, verifica-se a necessidade de empregar as VBTP / VBC Fuz em estreita coordenação com os CC. As viaturas blindadas devem ser os elementos de apoio, emassando os fogos em prováveis postos de tiro e posições fortificadas do inimigo, além de combater viaturas blindadas inimigas no interior da localidade.
Esse apoio cerrado irá proporcionar a cobertura necessária aos fuzileiros blindados para as ações de limpeza das instalações no combate ofensivo. Em contrapartida, os fuzileiros desembarcados realizam a limpeza de posições de armas anticarro e a designação desses alvos para eliminar essa ameaça aos blindados.
3. CONCLUSÃO
O combate moderno, particularmente em área edificada, exigiu uma rápida evolução dos meios e também das táticas de combate com blindados. Nesse cenário, surgiram as VBTP/VBC Fuz, dotados de maior blindagem, grande poder de fogo, potentes optrônicos para detecção e engajamento de alvos e, sistemas de comando, controle e comunicações flexíveis.
Essas viaturas blindadas com maior poder de fogo, blindagem e mobilidade, fizeram surgir armas anticarro mais potentes e a adoção de novas táticas de combate defensivo em localidade, como o emprego combinado de obstáculos e dispositivos explosivos improvisados.
Aos comandantes militares, impõem-se a adoção de uma tática agressiva e de iniciativas que visem suplantar essas ameaças. Assim, o emprego combinado de fuzileiros desembarcados apoiados pelas VBTP/VBC Fuz e coordenados até o nível pequena fração, fará com que as tropas atacantes de uma localidade obtenham sucesso no combate ofensivo.
O ambiente de combate em localidade é complexo e de múltiplas ameaças para a tropa blindada. Somente o emprego coordenado de todas as potencialidades da viaturas blindadas com seus fuzileiros desembarcados, farão com que a tropa atacante de uma localidade obtenha sucesso na conquista de seus objetivos.
Nesse sentido, conclui-se que o Centro de Instrução de Blindados (CI Bld), é peça fundamental na difusão e padronização do conhecimento tático para as pequenas frações da tropa blindada, através de seus estágios táticos.