Os grupos sírios armados por diferentes partes da máquina de guerra dos EUA começaram combates entre si na zona entre a cidade de Aleppo e a fronteira turca, evidenciando quão frágil é o controle americano sobre as formações que os EUA financiaram e treinaram durante a guerra civil na Síria, escreve o Los Angeles Times.
Sputnik
As hostilidades se intensificaram nos últimos dois meses. Em meados de fevereiro, a milícia Fursan al Haq (Cavaleiros da Justiça), apoiada pela CIA, foi expulsa da cidade de Marea, situada a 20 quilômetros para norte de Aleppo, pelas Forças Democráticas da Síria, que recebem armas do Pentágono.
Soldados do YPG © REUTERS/ Rodi Said |
É de sublinhar que Marea foi o berço de muitos militantes islamistas que se levantaram contra o presidente sírio Bashar Assad durante o início da assim chamada Primavera Árabe, em 2011. Foi por muito tempo uma base muito importante no abastecimento de mercadorias e militantes que chegavam da Turquia a Aleppo. Entretanto, as Forças Democráticas da Síria, que recentemente ocuparam a cidade, são por 80 por cento compostas por curdos, de acordo com os militares americanos, o que provocou a indignação de muitas facções árabes na área, especialmente as de caráter islamista.
No início, os diferentes grupos operavam em partes separadas da Síria – as Forças Democráticas da Síria apoiadas pelo Pentágono no nordeste do país e os grupos armados pela CIA mais a ocidente. Mas, de acordo com o jornal americano Los Angeles Times, os ataques da aviação russa enfraqueceram os grupos islamistas no nordeste da Síria. Isso criou uma oportunidade para expansão da zona de ação dos grupos curdos até aos arredores de Aleppo, onde eles enfrentaram as fações apoiadas pela CIA.
Os confrontos entre os grupos que recebem ajuda americana mostram as dificuldades que os EUA enfrentam para coordenar as dezenas de grupos armados que tentam derrubar Assad, lutar contra o Daesh e realizar hostilidades uns contra os outros simultaneamente.
“É uma guerra complicada com muitos lados e na qual as nossas opções são severamente limitadas”, disse um oficial americano em condição de anonimato.
“Sabemos que precisamos de um parceiro no terreno. Não podemos derrotar o ISIL [Daesh] sem esta parte da equação, então tentamos construir este tipo de relações”, acrescentou.
Quem são estes grupos e qual é o papel da CIA e do Pentágono?
No ano passado, o Pentágono ajudou à criação de uma nova coalizão militar, as Forças Democráticas da Síria. O objetivo foi armar o grupo, prepará-lo para retomar o território ao Daesh no leste da Síria e proporcionar informação para os ataques aéreos americanos. O grupo é dominado por formações curdas, como as Unidades de Proteção Popular (YPG). Algumas fações árabes foram incluídas de propósito para que as Forças Democráticas da Síria não fossem consideradas como um exército invasor curdo. Porém, o general Joseph Votel, do Comando de Operações Especiais dos EUA, disse neste mês que 80 por cento dos efetivos das Forças Democráticas da Síria são curdos.
A CIA, por sua vez, tem o seu próprio centro operacional na Turquia, que dá apoio aos grupos rebeldes na Síria, nomeadamente proporciona os mísseis antitanque TOW provenientes dos armazéns militares da Arábia Saudita.
A maior diferença entre os dois patrocinadores é que as ações do Pentágono fazem parte do esforço dos EUA contra o Daesh, enquanto o apoio dos rebeldes por parte da CIA é parte do plano separado dos EUA de pressão constante sobre o governo de Bashar Assad para que este inicie negociações, escreve o Los Angeles Times.