Questionamento sobre quais bases da Otan estão localizadas na Turquia e no interesse de quem são usadas aumenta após recusa de Ancara em liberar voo de observação russo.
Evguêni Krutikov | Vzgliad | Gazeta Russa
No início do mês, a Rússia deveria ter realizado um voo de observação ao longo da fronteira turco-síria, mas o acesso ao espaço aéreo turco foi negado pelas autoridades locais.
Próxima a locais com potencial de conflitos, base de Incirlik é estratégica para Otan Foto:AP |
Ao negar o voo de observação, porém, Moscou alega que Ancara violou o tratado internacional de céus abertos assinado entre os países que visa a prevenir tensões militares, permitindo que as nações observem destacamentos militares dentro das zonas fronteiriças.
Em nota publicada após a recusa, o Ministério da Defesa russo se referiu às ações da Turquia “como um precedente perigoso e uma tentativa de ocultar a atividade militar ilegal perto da fronteira com a Síria”.
A decisão também aumenta as suspeitas sobre o possível uso de instalações da Otan pela Turquia para fins próprios, sugere um especialista militar entrevistado pela Gazeta Russa. A seguir, ele descreve as estruturas da Otan na região e a serviço de quem estariam trabalhando.
Base aérea de Incirlik
Com o início dos combates no Iraque, a base aérea de Incirlik – usada tanto por turcos, como por norte-americanos – começou a patrulhar o espaço aéreo a norte do paralelo 36.
Para isso, foi, então, ali posicionada a chamada 39º unidade (Air Wing) de apoio às Forças Aéreas dos Estados Unidos na Europa, com um contingente de até cinco mil pessoas.
Em troca, a Turquia utiliza a aeronave de reabastecimento aéreo Boeing KC-135 Stratotanker para fins pessoais.
Considerando que esta base é relativamente próxima de locais com elevado potencial de conflitos, ela também é de grande importância para a Otan.
Sede em Izmir
Izmir abriga a sede que coordena os palcos de combate a partir do sudeste do país. Mas, ao que tudo indica, a parte russa não pretendia sobrevoar Izmir – além de estar longe da atual zona militar, as cerca de 300 aeronaves turcas ali estacionadas operam principalmente contra a Grécia.
Existe ainda a base aérea de Konya, onde está posicionada a unidade de reconhecimento por radar. No total, existem 20 aeródromos turcos com diferentes pistas de pouso que podem ser usadas pela Otan em tempos de paz e outros 100 para uso quando em guerra.
As bases aéreas de Erzurum, Murted e Balıkesir, assim com a de Incirlik, possuem armamento nuclear. De acordo com estimativas variadas, apenas no território da Turquia, as forças da Otan possuem centenas de dispositivos nucleares de diferentes potências.
No final de 2014, a Turquia e os Estados Unidos concordaram em usar Incirlik também para a implantação de drones militares norte-americanos, com o objetivo de apoiar as operações da coalizão ocidental contra o Estado Islâmico (Ei).
Interesse próprio
Em geral, o interesse dos Estados Unidos em relação à base de Incirlik ora diminuía, ora aumentava de novo, dependendo do grau de atividade de preparação das operações ofensivas no Curdistão, incluindo as repetidas tentativas para reconquistar a cidade de Mosul do Estado Islâmico.
Nos momentos em que Washington recusava apoio aos curdos, passava então para o uso da aviação tradicional com concentração de porta-aviões no Golfo Pérsico. Mas bastava começar de novo a se falar em uma ofensiva ao Curdistão iraquiano para surgir a necessidade de se usar a base geograficamente mais próxima.
Já a Turquia, tem minado consistentemente as tentativas norte-americanas de consolidação em Incirlik, pois isso significaria uma cooperação mais estreita dos Estados Unidos com os curdos – o que Ancara rejeita veementemente.
A recusa da parte turca em permitir que os aviões russos sobrevoem a base não é prova, portanto, de “preocupação da aliada” em relação às posições dos EUA na região, mas pode indicar que Ancara estaria usando a base da Otan para interesses exclusivamente próprios.