Relatório aponta que fabricantes de armamentos da Rússia registraram aumento de quase 50% na receita em apenas um ano. Empresas de EUA e Europa, porém, ainda dominam os negócios.
Matthias von Hein | Deutsch Welle
Conflitos dominam as manchetes: seja na Síria ou no Iraque, na Ucrânia ou no Mar da China Meridional – para mencionar apenas alguns exemplos. Por esse motivo, a constatação de que os gastos militares caem pelo quarto ano consecutivo é um dos resultados mais surpreendentes do novo relatório do Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (Sipri) sobre as cem principais empresas de defesa e armamentos, divulgado nesta segunda-feira (14/12).
A diminuição, no entanto, é pouco acentuada: segundo o Sipri, em 2014, a soma das receitas de todas as cem principais empresas produtoras de armas em todo o mundo foi de 401 bilhões de dólares. Isso significa uma queda de 1,5% em relação a 2013. Outra constatação foi que o peso do comércio mundial de armamentos continua a pender para o lado da Rússia.
"Os fabricantes de armamentos russos registraram um enorme aumento de vendas. De 2013 a 2014, as firmas russas que estão na lista das cem principais empresas aumentaram as suas receitas em quase 50%. Atualmente, 19 fabricantes russos fazem parte dessa lista. Em 2013, eram somente dez", explica Peter Wezemann, que trabalhou no relatório do Sipri.
EUA dominam mercado
Esse aumento, porém, não deve obstruir a visão: com uma parcela de mercado de mais de 80%, fabricantes de armas dos EUA e Europa ainda dominam os negócios. Somente os EUA possuem 38 empresas de armamentos entre as top 100, cujas vendas perfazem mais da metade da receita das citadas na lista, ou seja, 54,4%.
Outra coisa que chama a atenção no relatório deste ano em relação ao do ano passado: novos atores provenientes de países menores ou novas empresas se tornam visíveis no mercado. Entre os novos países na lista, estão Turquia e Coreia do Sul, cita Wezemann.
Contrariando a tendência de declínio da venda de armas na Europa, em 2014, as empresas bélicas alemãs registraram uma receita consideravelmente maior do que em 2013: um aumento de quase 10%. Isso se deve especialmente à venda de submarinos.
Segundo Wezemann, entre os principais compradores de submarinos da empresa ThyssenKrupp estão Israel, Turquia e Coreia do Sul. A empresa de armamentos Rheinmetall, por sua vez, se beneficia do renovado interesse alemão em veículos blindados.
De acordo com o colaborador do Sipri, esse desenvolvimento está ligado à crise na Ucrânia. A nova ascensão da violência armada na Europa, mas também no Oriente Médio, "fortaleceu a ideia de que o Exército é importante", diz Wezemann.
O especialista destaca que Suécia e Alemanha, por exemplo, vão aumentar o seu orçamento militar – o que viria a beneficiar, em primeira instância, as indústrias bélicas nacionais. "Os clientes mais importantes das empresas de armamentos são, de longe, os seus próprios governos", afirma.
Alemanha, país exportador de armas
A Alemanha está entre os principais exportadores de armas. Na Europa, o país ocupa a primeira posição. E isso apesar do anúncio do vice-chanceler federal e ministro alemão da Economia, Sigmar Gabriel, de agir de forma muito mais restritiva em relação a exportação de armas.
Tanque alemão Leopard 2 A7 |
O fornecimento de tanques de guerra por parte da empresa Krauss-Maffei Wegmann, que ocupa o 83° lugar na lista das top 100, para países como a Arábia Saudita e Qatar, não se encaixa bem com as declarações de Gabriel. A partir deste ano, esses dois países passaram a se envolver em combates no Iêmen. Os contratos para essas transações, no entanto, foram assinados há vários anos. Na época, não havia guerra no Iêmen, e Gabriel ainda não era ministro.
O que faltou no relatório do Sipri foi a China. De lá, infelizmente, não há nenhum dado confiável, lamenta o especialista em armamentos de Estocolmo. Wezemann deixa claro, no entanto, que a China é um fabricante de armas extremamente importante. O relatório do Sipri aponta que seis companhias chinesas estão entre as 20 primeiras do ranking, e que um fabricante de aviões está até mesmo entre as dez principais empresas de produção de armamentos.
Wezemann aponta dois fatores para o crescimento da indústria bélica chinesa: em primeiro lugar, nos últimos dez anos, os gastos militares na China têm registrado um aumento forte e ininterrupto. Além disso, o país está exportando muito mais armas para o exterior.