A força aérea turca abateu um caça russo Su-24 nesta terça-feira (24), na fronteira com a Síria. Moscou reconheceu a procedência do avião, mas negou veementemente que ele tenha violado o espaço aéreo turco, como acusou Ancara. De acordo com a imprensa turca, os dois pilotos conseguiram se ejetar e um deles teria morrido depois de capturado por rebeldes sírios. Este é o primeiro caça russo abatido deste o início da intervenção militar de Moscou na Síria, em 30 de setembro. O incidente foi classificado como "muito sério" pelo Kremlin.
Imagens da televisão mostram queda do Su-24 na fronteira entre Síria e Turquia | REUTERS/Reuters TV/Haberturk TVATTENTION EDITORS |
Em comunicado, o ministério russo da Defesa descreveu que "hoje (24), sobre o território sírio e por causa de tiros supostamente provenientes do solo, um avião Su-24 pertencente às forças aéreas russas enviadas à Síria, caiu. O texto ainda destaca que o aparelho "se encontrava exclusivamente no espaço aéreo sírio", contrariando a posição da Turquia, que afirma que o avião "foi abatido de acordo com as regras de abordagem depois de ignorar os avisos e violar o espaço aéreo turco".
Em uma declaração publicada na internet, o Estado Maior turco afirmou que dez advertências foram emitidas num espaço de cinco minutos antes do ataque. "Por volta de 9h20 (no horário local), um avião de nacionalidade desconhecida violou o espaço aéreo turco, apesar de múltiplas advertências. Dois de nossos aviões F-16, que patrulhavam o setor intervieram", explicaram as forças armadas. De acordo com o porta-voz do presidente Vladimir Putin, Dmitri Peskov, "não é possível fazer declarações sem dispor de todas as informações", mas o Kremlin classificou o incidente como "muito sério".
O avião voava a 6 mil metros de altitude quando foi atingido, em "circunstâncias que ainda estão sendo investigadas", de acordo com Moscou. Ainda segundo a Defesa russa, "o destino dos pilotos é incerto, mas, segundo as primeiras informações, eles conseguiram ejetar".
A mídia turca exibiu imagens do avião em chamas no céu e, depois, despencando no chão. O canal de televisão CNN-Turk afirmou que um dos dois militares teria morrido em consequência de ferimentos, depois de ser capturado por rebeldes sírios turcomenos, que combatem o regime Bashar al-Assad nas montanhas próximas da zona fronteiriça.
Um grupo rebelde enviou imagens à Reuters que mostram um homem morto no solo, com marcas de feridas graves. Ele aparece cercado de militantes que explicam tratar-se de um piloto russo. Um combatente, que vazou o vídeo à agência de notícias, assegurou que o homem morreu, mas não citou o segundo piloto. Na região, operam diversos grupos insurgentes, entre eles a frente Al-Nusra, afiliada da Al-Qaeda.
Pouco depois de anunciar o ataque ao caça, a Turquia entrou com uma queixa contra a Rússia na ONU e na Otan. Nesta quarta-feira, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, se encontra com altos funcionários turcos em Ancara. Em uma breve declaração à AFP, o chanceler afirmou que o incidente "não altera o programa" deste encontro.
Divergência antiga
Desde o início da intervenção militar russa ao lado do regime de Damasco, os incidentes fronteiriços entre Ancara e Moscou se multiplicaram. No dia 3 de outubro, a força aérea turca interceptou e forçou um avião militar russo a dar meia-volta, também sob acusação de invasão do espaço aéreo. Na época, o Kremlin culpou as "más condições meteorológicas" pelo incidente.
Em 16 de outubro, o exército turco também abateu um drone "de fabricação russa" que penetrou o céu turco. Washington afirmou que era "quase certo" que o aparelho pertencia à aviação russa, o que Moscou sempre negou. Nos últimos dias, a tensão voltou a crescer, depois de uma série de bombardeios russos que, segundo Ancara, atingiu vilarejos de minoria turcófona na Síria. A Turquia convocou o embaixador da Rússia para advertir sobre as "sérias consequências" desta operação.
As divergências entre Ancara e Moscou sobre a Síria são antigas. A Rússia, ao lado do Irã, é o último apoio internacional ao presidente Bashar al-Assad que, na opinião do mandatário turco Recep Tayyip Erdogan, deve deixar o cargo imediatamente. Ao lado dos Estados Unidos, da Europa e dos países árabes, a Turquia e a Rússia participam das discussões em Viena sobre uma solução política para o conflito sírio que, desde 2011, deixou mais de 250 mil mortos e 4 milhões de desabrigados.