Míssil teleguiado e bomba de trajetória corrigível estão em uso na Síria.
ALEKSANDR VERCHÍNIN | GAZETA RUSSA
Há muito tempo a guerra deixou de ser o confronto de tanques, armadas e divisões de infantaria. O papel decisivo que antes cabia ao fogo da artilharia, à investida dos tanques ou à resistência dos soldados pertence hoje às capacidades das novas armas, incluindo armamentos de alta precisão.
Avião russo Su-34 armado com bombas KAB-500 realiza uma ataque na província de Raqqa, controlada pelo EI. Foto: TASS |
A operação das forças aeroespaciais militares russas na Síria, iniciada em 30 de setembro de 2015, já é conhecida por ser a operação que fez uso mais abrangente de armas de precisão na história das Forças Armadas da Rússia. A unidade da Força Aérea russa estacionada no Oriente Médio, formada por 50 aeronaves de combate, recorre ativamente ao uso de mísseis teleguiados e de mísseis com detecção automática do alvo, além de bombas aéreas de trajetória corrigível, armamentos antes só reconhecidamente utilizados pelo exército norte-americano.
Os mísseis teleguiados X-25 e X-29 não dão qualquer chance às formações móveis dos islamistas e atingem com eficácia suas áreas fortificadas. O raio de ação desses mísseis é superior a 10 km e a sua ogiva, que pesa várias centenas de quilos, permite o carregamento de uma carga explosiva considerável. O ataque ao alvo ocorre na velocidade do voo do míssil, que chega a alcançar os 400 metros por segundo. Dessa forma, o míssil consegue perfurar até mesmo a blindagem de estruturas de concreto com espessura de até 2 metros, ao mesmo tempo que sua zona de destruição não ultrapassa os 15 metros.
O aspecto mais interessante dessa arma é seu sistema de detecção do alvo. No caso dos mísseis russos, utiliza-se o laser e o sistema de determinação teleguiada do alvo. Em ambos os casos ocorre o registro do alvo com a ajuda de um laser ou uma câmera montada no próprio foguete. A imagem da câmera é comparada com as coordenadas do mapa da região previamente inseridas na memória do computador de bordo.
A detecção por laser tem suas limitações: sua execução requer a participação de um segundo aparelho voador, ou o raio do laser terá que ser lançado da própria aeronave, o que limita significativamente sua mobilidade. No entanto, em ambos os casos se obtém a mais alta precisão de ataque: alvos de tamanho pequeno, cujas dimensões não ultrapassem os 2 metros, são destruídos em 85% dos casos. Isto permite o uso de mísseis mesmo em espaços de grande densidade habitacional, como é o caso das cidades sírias.
Bombas de trajetória corrigível
Além dos mísseis, está sendo utilizando na Síria outro armamento do complexo militar-industrial russo. As bombas da série KAB-500 combinam em si o efeito devastador com a alta precisão do ataque. Isso se obtém graças ao fato de elas terem incorporado um sistema de autodeterminação da trajetória até o alvo. Enquanto as bombas comuns, como aquelas utilizadas na Segunda Guerra Mundial, eram armas de destruição em massa lançadas de uma grande altitude e que transformavam em paisagem lunar vastos territórios, as bombas com trajetória corrigível funcionam de um modo radicalmente diferente.
Uma bomba dessas, mesmo depois de lançada da aeronave, consegue se desviar consideravelmente da sua trajetória vertical até 8 km de distância. Isso permite às aeronaves lançarem a bomba longe do território ocupado pelo inimigo, evitando assim o risco de um contato direto com ele. Foi precisamente com bombas KAB-500 que foi destruída na Síria uma fábrica de bombas artesanais mantida por terroristas.
Mas, à disposição da aviação russa, existe ainda um outro tipo de bomba aérea, a KAB-250, que voa para o alvo com a ajuda de um sistema russo de localização por satélite Glonass, semelhante ao GPS. Ela pode ser lançada de um aparelho em uma velocidade supersônica, o que abre um grande leque de possibilidades de aplicações não só para a aviação de ataque, mas também para os caças modernos.
Produção de mísseis
O governo russo anunciou desde o início do conflito na Síria que apostaria no uso de armamentos de alta precisão. Isso exigiu um grande esforço da indústria de defesa nacional, que só recentemente começou a se afastar das armas convencionais de ampla difusão, e as fábricas de mísseis táticos passaram a operar em regime ininterrupto.
Essas fábricas surgiram em 2002 como resultado da fusão de duas dezenas de empresas fabricantes de componentes para mísseis de alta precisão e bombas. A sua produção é bastante variada e vai desde os mísseis teleguiados do tipo ar-terra acima descritos até mísseis manobráveis para ataques a curta distância, bombas aéreas com trajetória corrigível e mísseis antinavios. Particular atenção é dispensada às armas antissubmarino.
O sistema Paket-E Foto: Press Photo |
Para combater submarinos inimigos, esse conjunto de fábricas criou projetos únicos. O sistema Paket-E, por exemplo, está armado com mísseis de alta velocidade, que conseguem ao mesmo tempo atingir o alvo inimigo e interceptar um torpedo já lançado. Além disso, especialistas russos em armamento desenvolveram mísseis aéreos antissubmarinos e bombas teleguiadas antissubmarinas. O volume de negócios anual da corporação de mísseis é superior a US$ 1 bilhão e sua produção é amplamente exportada para outros países.