Líderes da política externa de Arábia Saudita, EUA, Rússia e Turquia se reuniram em Viena na sexta-feira (23) para discutir soluções à questão síria. Embora coalizão ampliada anti-Estado Islâmico comece a avançar, concessões ainda são mínimas.
ÍGOR RÔZIN | GAZETA RUSSA
O chanceler russo Serguêi Lavrov considerou “não fácil, porém útil” a reunião acerca do conflito sírio com o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, e os líderes da política externa da Arábia Saudita e da Turquia nesta sexta-feira (23), em Viena.
Feridun Sinirlioglu (Turquia), John Kerry (EUA), Adel al-Jubeir (Arábia Saudita) e Serguêi Lavrov (Rússia) Foto:AFP/East News |
O evento marcou o primeiro encontro entre Lavrov e Kerry desde o início da operação militar russa na Síria, no final de setembro. Depois de conversações a portas fechadas, os dois se uniram aos ministros saudita, Adel al-Jubeir, e turco, Feridun Sinirlioglu.
O conteúdo das negociações não foi prontamente disponibilizado à imprensa, mas as avaliações do encontro variaram entre os participantes. A repórteres, Kerry disse estar “de que a reunião foi construtiva e produtiva”, mas o ministro árabe negou consenso entre as partes.
O quarteto anunciou, porém, a realização de uma nova reunião, que deve acontecer dentro de uma semana.
Em paralelo, Lavrov se encontrou ainda com o ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Nasser Yudeh, que resultou em um acordo de coordenação militar em suas ações no país.
Grande passo, mas lento
Em entrevista após as reuniões na capital austríaca, Lavrov deu a entender que não houve qualquer acordo sobre a saída do presidente sírio Bashar al-Assad e que o grupo não planeja conduzir as negociações nesse formato.
O ministro russo voltou a ressaltar a necessidade de conversações entre Assad e as diversas forças da oposição, “com o apoio ativo dos players externos”.
A expectativa russa é que o grupo de discussão seja estendido a outros participantes como Irã e Egito, e, futuramente, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Jordânia e países de influência na região.
“Era claro que em uma única reunião não seriam encontradas soluções, mas as divergências são tão acentuadas que só o fato da reunião ter acontecido já é um grande passo”, diz a diretora do Centro Ásia e Oriente Médio do Instituto Russo de Estudos Estratégicos, Elena Suponina.
“Os países estão sondando na prática um possível modelo de coalizão internacional”, completa.
A resolução em continuar as conversações foi outro ponto positivo apontado por Boris Dolgov, membro do Centro de Estudos Árabes e Islâmicos do Instituto de Estudos Orientais. “Mas o ritmo do processo de negociação não deve alterar muito”, alerta.
Sem perder a face
O destino político de Assad continua a ser uma das barreiras para o avanço da coalizão internacional, e a opção mais realista seria deixar por enquanto esse tema fora da agenda e concentrar-se na luta contra o terrorismo, garantem os especialistas.
“Se houver vontade política, o problema de al-Assad consegue se resolver”, diz Suponina.
“Mas a grande questão é saber se existe vontade política por parte de Obama, especialmente tendo em conta que os Estados Unidos já estão em época pré-eleitoral.”
Diante de cenário semelhante está a Turquia, que na próxima semana realiza eleições para o Parlamento, e o presidente Tayyip Erdogan precisa obter maioria parlamentar. Por isso, segundo Leonid Issaev, professor de ciência políticas na Escola Superior de Economia, abandonar a exigência da saída de Assad significaria assumir o fracasso político do líder turco.
“Eu não consigo imaginar como Erdogan, com seu estilo autoritário de governo, surgiria perante o seu próprio eleitorado como um político fraco”, diz Issaev.
O fornecimento de armas a outros grupos fundamentalistas sírios, como a chamada oposição moderada, é outro obstáculo nas negociações. “A liderança atual chefiada por Erdogan é formada por moderados oriundos da Irmandade Muçulmana [organização proibida na Rússia] turca, que tem ligação com a Irmandade Muçulmana da Síria”, afirma Dolgov.
O conflito sírio, que já se arrasta por quatro anos e meio, vem colocando à prova sobretudo a reputação de Moscou e Washington. “O principal é encontrar uma saída para que nenhum saia prejudicada. Só que ninguém parece querer ceder, apesar da compreensão plena de toda a situação”, arremata Issaev.