Analista explica foram feitas as negociações das operações aéreas russas iniciadas na quarta-feira (30) no país árabe.
GUEVORG MIRZAIAN | GAZETA RUSSA
Na última quarta-feira (30), a Rússia entrou oficialmente no conflito sírio. Observadores se impressionaram com a prontidão da intervenção russa. Em 29 de setembro, o presidente Vladímir Pútin informou sobre as intenções de Moscou de lutar contra o EI (Estado Islâmico), e já na manhã de 30 de setembro, o Conselho da Federação (Senado russo) concedeu permissão e no decorrer do dia as forças aéreas russas já realizaram seu primeiro ataque.
Na realidade, a organização da operação durou algumas semanas, ou até meses. E seu detalhe mais complicado foi não a preparação técnica, mas política. Moscou buscou acordar os detalhes da operação com todas as partes interessadas (mais especificamente, com aqueles que concordaram com esse diálogo).
Foi possível, acima de tudo, alcançar um acordo com os principais vizinhos do país árabe - Israel e Turquia -, já que era preciso criar com eles mecanismos para evitar incidentes bélicos.
Aparentemente, os fatos simplesmente foram colocados diante de turcos e israelenses, e os acordos, propostos. E ambas as partes responderam com uma afirmativa. Foi preciso, porém, assegurar Tel-Aviv de que as armas russas não cairiam em mãos do grupo libanês Hezbollah.
EUA e Europa
Com Estados Unidos e Europa, entretanto, foi mais difícil encontrar diálogo. Dois problemas atrapalhavam uma parceria efetiva dos EUA e UE com a Rússia: de que lado lutar e contra quem.
A essência do primeiro problema estava no fato de que esses países se recusavam categoricamente a lutar ao lado de Assad. EUA e UE consideram que o presidente sírio deva sair - e imediatamente. Já Moscou e Teerã se recusam a entregar Assad.
Como resultado, as partes agora têm um compromisso, e tais países deram seu consentimento. Eles concordaram que Assad não deva sair imediatamente, mas após o fim das atividades bélicas e da guerra civil. Especialmente, ele não deve participar das novas eleições presidenciais.
O último a se render foi Washington. Apenas na virada da noite de 29 a 30 de setembro (no horário de Moscou), John Kerry admitiu que a Síria precisa não da derrubada de Assad, mas de uma "transição suave e dirigida".
Teerã e Moscou, por sua vez, mostraram não ser contra tal transição. O presidente iraniano Hassan Rohani deu a entender que não exclui a possibilidade de reforma na Síria, e Vladímir Pútin expressou, em 30 de setembro, esperança de uma "posição ativa e flexível" do presidente Assad, "em sua prontidão ao compromisso em nome de seu país e de seu povo".
Opositores ou EI?
O segundo empecilho para os acordos era a incerteza sobre quem a Rússia bombardearia na Síria: o EI ou todos os opositores do regime oficial de Damasco. Antes de sua viagem aos EUA, Pútin disse claramente que as forças aéreas russas poderiam atacar todos os que lutassem contra o governo legítimo sírio, que estariam todas nas mãos do EI.
EUA e Europa exigiram que Moscou se limitasse ao bombardeamento de posições do EI, mas, no final das contas, cedeu. Há boatos de que a oposição síria está sendo obrigada a se sentar para negociar com Assad e fechar acordos políticos, não desviando, assim, as forças do governo da luta contra os terroristas.
Sim, há detalhes que precisam ser resolvidos na operação, como, por exemplo, unir uma coalizão mais ampla, fechar acordos mais claros sobre as atividades de coordenação com a coalizão norte-americana.
Mas tudo isso pode ser feito durante o curso da operação, cujo início não poderia mais ser adiado. A cada dia o EI fortalece suas posições. Além disso, os parceiros poderiam mudar sua posição das mais diversas maneiras sob a influência de pressões externas ou fatores internos.
Guevorg Mirzaian é pesquisador do Instituto dos EUA e Canadá da Academia Russa de Ciências.