Com base instalada perto da cidade síria de Latakia, Moscou garante que ataques aéreos servem apenas de apoio ao exército local. Aparato transferido para interior da Síria se refere a fornecimentos regulares, segundo autoridades russas.
NIKOLAI SURKOV | GAZETA RUSSA
O Kremlin não confirmou a notícia divulgada pelo canal norte-americano CNN sobre o transporte de sistemas de artilharia de fabricação russa de Latakia, onde está situada a base russa na Síria, para o interior do país.
Tropa russa instala bomba em caça SU-34, na base de Hmeimim, no oeste da Síria Foto:AP |
“A CNN pode estar confundindo as coisas. Eles até confundem Pútin com Iéltsin”, disse a jornalistas, na terça-feira (6), o assessor de imprensa do Kremlin, Dmítri Peskov.
No início da ofensiva russa, o chefe da administração do governo, Serguêi Ivanov, já havia declarado que o país iria se limitar a ataques aéreos à Síria, conforme pedido feito pelo presidente Bashar al-Assad.
Além disso, a Rússia não considera a possibilidade de uma operação terrestre na Síria, já que a execução das atuais tarefas na região não requer esse tipo de intervenção, garante Nikita Mendkovitch, especialista do Conselho da Rússia para assuntos internacionais.
“O objetivo é reduzir a ameaça do EI por meio do apoio a ações militares do governo legítimo da Síria. A experiência nos primeiros dias da operação mostrou que os ataques aéreos permitiram obter significativos sucessos táticos e estabilizar a linha da frente”, disse Mendkovitch à Gazeta Russa.
“[A notícia da CNN] é, provavelmente, sobre armamento que está sendo entregue ao Exército sírio conforme contratos militares pré-estabelecidos. É artilharia síria, não nossa.”
Segundo Vladímir Khrustalev, da Lifeboat Foundation, o volume de armas e equipamento militar divulgado pelo canal norte-americano não ultrapassa os limites habituais de armas entregues regularmente a Assad. “Não existem provas concretas para podermos falar de uma futura operação terrestre”, arremata.
Sem recursos nem interesse
Apesar de a iniciativa russa mostrar resultados, o observador Leonid Issáev, da Escola Superior de Economia, garante que não será possível vencer o Estado Islâmico sem uma operação terrestre.
“O apoio aéreo ajuda as forças do governo a segurar os territórios controlados por elas. O Exército sírio sofreu grandes perdas em anos anteriores e não consegue fazer mais. Para conseguir mais, é preciso enviar tropas terrestres para a Síria”, avalia o especialista.
Issáev ressalta, porém, que a Rússia não dispõe de recursos suficientes para uma intervenção terrestre. “Também podemos acabar prejudicando Assad, porque, quanto maior for a nossa presença na Síria, mais forte será a reação do Ocidente, da Arábia Saudita e da Turquia.”
O Kremlin não estaria disposto a repetir os erros da União Soviética, segundo o especialista. “Espera-se que em algum momento a Rússia diminua as operações aéreas e não se entre mais a fundo no conflito sírio”, afirma.
Já Vassíli Belozerov, copresidente da Associação dos Cientistas Políticos do Exército, acredita que a “presença das tropas russas no espaço aéreo sírio seja tal que provoca sérios danos no Estado Islâmico, e isso é o suficiente”.