Nova doutrina marítima dá mais ênfase à segurança da região.
DENIS KUNGUROV | GAZETA RUSSA
Na última semana de agosto, a Rússia realizou pela primeira vez exercícios militares na costa do Ártico, com o objetivo de aumentar a defesa de suas instalações industriais na região polar norte. No ponto mais setentrional da Rússia, a ilha Taimir, a Frota do Norte russa juntou sob o seu comando mais de mil soldados e dezenas de diferentes tipos de equipamento militar.
Os exercícios envolveram 14 aeronaves, todos aviões não tripulados, e mais de 30 tipos de equipamento militar, entre os quais veículos de reboque polivalentes, incluindo o militar blindado MT-LBV, veículos de combate BMD-2 das forças paraquedistas, quadriciclos para atividades de inteligência e operações de desembarque.
Severomorsk |
A esquadra naval foi liderada pelo navio antissubmarino Severomorsk e por dois navios de desembarque, o Kondopoga e o Gueorgui Pobedonosets. O principal objetivo das forças armadas russas foi realizar exercícios em uma região desconhecida e treinar a interação de diferentes tipos de tropas sob um único comando. O objeto-chave de defesa escolhido foi o grupo de fábricas de Norilsk, que está incluído na lista de lugares estratégicos da região.
Disputa por recursos naturais
O início de exercícios militares em grande escala no Ártico se deve às alterações da nova doutrina marítima da Rússia, aprovada pelo presidente russo, Vladímir Pútin, em 26 de julho de 2015, que deu bastante ênfase às regiões do Ártico e Atlântico.
Ainda em 2014, Pútin disse em uma reunião do Conselho de Segurança da Federação Russa que os interesses da Rússia no Ártico poderiam estar em risco devido à instabilidade global. O presidente estava se referindo às reivindicações dos países do bloco ocidental quanto aos recursos naturais do Norte e à probabilidade do uso de força na região. Além da Rússia, a plataforma ártica de petróleo e gás é reivindicada pela Noruega, Canadá, EUA e Dinamarca.
A zona de influência da Rússia inclui 106 bilhões de toneladas de reservas de petróleo e gás. Já Noruega, Canadá e Dinamarca reivindicam um território com 60 bilhões de toneladas de reservas para cada país. Essa vantagem leva os russos a se preocuparem com o território disputado e a antecipar qualquer tipo de ação na área, sobretudo pelo fato de a Otan (Aliança do Tratado do Atlântico Norte) realizar anualmente vários exercícios na região, mobilizando de 10 a 15 mil soldados. "Pelo menos três ou quatro vezes por ano, os submarinos norte-americanos da classe Virginia e Seawolf entram no Ártico", informou À Gazeta Russa em condição de anonimato o comandante de um dos submarinos da Frota do Norte.
Apesar do clima de ameaça, a Rússia não pretende tomar ações bélicas, preferindo recorrer ao Direito Internacional. No início de agosto de 2015, o governo da Federação Russa entregou à ONU um imenso número de evidências científicas que corroboram o seu direito sobre 460 mil quilômetros quadrados de território ártico. O argumento fundamental se baseia na prova de que as partes do conjunto territorial submarino do Ártico Central têm formação de natureza continental.
Renovação de frota
Em 2014 o Kremlin criou um comando estratégico unificado no Ártico. Pútin está seguro de que nos próximos dez a 15 anos haverá uma grande alteração climática na região e o gelo vai derreter, abrindo vias navegáveis durante nove meses por ano. Devido a isso, a Rússia pretende renovar e aumentar a sua Frota do Norte até 2020.
Atualmente a Rússia possui 37 quebra-gelos, dos quais seis são nucleares, enquanto o Canadá tem seis embarcações do tipo, os EUA, quatro e a Noruega, uma. Mas esses quebra-gelos não conseguem ser eficazes para fins militares. "A Rússia necessita de navios polivalentes, que em tempo de paz cumpram funções de proteção da costa e, em caso de incidentes militares, necessitem de apenas um dia para se transformar em embarcações de combate equipadas com armas. Exemplos de embarcações do tipo já existem na Marinha Sueca e os canadenses estão encomendando navios semelhantes", disse o especialista em marinha militar Aleksandr Mozgovoi à Gazeta Russa.
“Na Mostra Internacional de Defesa Marítima de São Petersburgo, realizada em julho de 2015, o Centro de Pesquisa Estatal Krilov apresentou o conceito de uma nova embarcação polivalente. Na proa desse navio existe uma base técnica de instalação rápida de canhões e, na popa, um depósito de munição", contou Mozgovoi.
Melhoras na infraestrutura da região também estão sendo feitas em ritmo acelerado. Nos próximos anos serão abertos ao longo das fronteiras do Ártico 16 portos de águas profundas, 13 aeroportos, dez estações de busca e salvamento e dez estações de radar e sistemas de defesa antiaérea. Parte delas ficarão localizadas nas bases militares soviéticas a serem restauradas.