Um político turco de oposição polemiza com o presidente turco Recep Tayyip Erdogan que anteriormente numa entrevista ao CNN criticou os países que apoiam o regime sírio de Bashar Assad, inclusive a Rússia.
Sputnik
Segundo Erdogan, “estes países apoiam o regime terrorista que leva à divisão do país”.
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Porém, o ex-deputado do maior partido oposicionista turco, o Partido Popular-Republicano, e ex-embaixador Onur Oymen não concorda com as declarações de Erdogan sobre “a necessidade de tomar todas as medidas para derrubar o regime ditatorial na Síria”.
“No mundo moderno existem muitos países com tipo de governação autoritário. É possível criticar e censurá-los. Mas apoiar grupos armados para derrubar governos num país é uma estratégia que viola as normas de direito internacional e contradiz os fundamentos modernos de estadismo. A raiz do problema consiste exatamente nisso. Nós dizemos ‘que a Turquia esteja fora de quaisquer conflitos’. Fechem as suas fronteiras, eliminem todas as possibilidades de os terroristas passearem através do seu território e tomem a posição neutra em relação aos conflitos internos nos países vizinhos. Desde os tempos de criação da República Turca até os tempos recentes seguimos estritamente o princípio de não envolvimento nos assuntos internos dos outros países. Mas agora afastamo-nos deste princípio. E a Turquia neste momento está pagando por este erro tático de política externa”, opina.
Onur Oymen sublinhou que as maiores críticas dos países ocidentais em relação ao regime sírio estão ligadas com o fato que a Síria transfere através do seu território armas iranianas para a organização Hezbollah no Líbano:
“Talvez se a Síria e o Irã não estivessem ligados por tal colaboração, o Ocidente não criticasse Assad de maneira tão aguda”.
“Seja de que maneira for, neste momento a Síria é representada pelo governo legítimo. Gostemos dele ou não, vocês não têm direito de derrubá-lo de maneira violenta com uso de armas. Este é um momento-chave. O ministro do Exterior russo senhor Lavrov deu uma contribuição significativa para a assinatura do Acordo de Genebra, mas agora quase ninguém se lembra dele. Entretanto este documento contém a base para a solução política do problema. Os americanos, por um lado, falam da necessidade de diálogo político e, por outro lado, treinam e equipam com amas as forças que visam derrubar pela violência o governo legítimo da Síria. Nisso consiste a contradição principal das relações internacionais sobre a questão da crise síria neste momento. ”
O ex-deputado apoiou a crítica de Erdogan em relação aos países ocidentais, que não fazem o suficiente para resolver o problema dos refugiados:
“Enquanto a Turquia assume o difícil fardo de ajudar os refugiados sírios, outros países, sobretudo os europeus e os EUA, não planejam dar quaisquer passos para aliviar a tarefa. A mesma situação aconteceu durante a crise no golfo Pérsico, quando em duas semanas 450 mil refugiados deixaram o Iraque e entraram na Turquia. Muitos deles queriam entrar na Europa, mas esta última aceitou um número muito pequeno deles. É por isso que nós censuramos a política europeia dura e fechada ao diálogo em relação à questão de refugiados. O problema deve ser resolvido a partir de uma posição de humanismo e caridade. Milhares de refugiados morreram tentando chegar à Itália vindos da Líbia, e às ilhas gregas vindos da Turquia. Enquanto isso, os países ocidentais declaram que respeitam os direitos humanos. Mas parece que eles esquecem que o direito à vida é um direito humano essencial. E deste modo o Ocidente priva as pessoas deste direito, porque os problemas na Líbia, da Síria e de outros países da região aparecem não por culpa destas pessoas. Os refugiados não têm responsabilidade em tudo isso. Por mais triste que seja, mas nem os países do Oriente, nem do Ocidente passaram o exame de humanismo. A situação dos refugiados é um exemplo patente”.
A Síria está envolvida em uma guerra civil desde março de 2011. O governo de Bashar Assad luta contra vários grupos rebeldes e organizações paramilitares, incluindo a Frente al-Nusra e o grupo terrorista Estado Islâmico, proibido na Rússia.