Marinha garante que projeto não irá copiar sistemas dos navios franceses.
ALEKSÊI TIMOFEITCHEV | GAZETA RUSSA
Após a recusa oficial da França em vender à Rússia dois navios do tipo Mistral, devolvendo o pagamento que já havia sido feito por Moscou, a Federação Russa apresentou dois projetos de embarcações que, segundo seus criadores e especialistas navais, podem se tornar bons substitutos dos equipamentos franceses.
Modelo de navio do projeto Priboi apresentado no fórum Ármia-2015. Foto:Aleksandr Vilf/RIA Nóvosti
Em meados de junho passado foi apresentado no fórum Ármia-2015 (Exército-2015, em tradução livre), na região de Moscou, a maquete de um navio de desembarque universal que faz parte do projeto Priboi (“ressaca marítima”, em russo). O navio foi apresentado por um representante da Marinha russa como “nossa resposta ao Mistral”.
Apesar dessa definição, a Marinha garante que o projeto do navio não irá copiar funções e sistemas técnicos dos navios franceses, e que todos os equipamentos e armamentos serão produzidos na Rússia. "Temos uma ideologia de trabalho das tropas de desembarque marítimo um pouco diferente. Por isso, simplesmente não vamos fazer uma cópia exata do Mistral", disse Oleg Botchkarev, vice-presidente do conselho do complexo militar-industrial da Marinha da Rússia.
Para o capitão e primeiro vice-presidente da Academia de Problemas Geopolíticos da Rússia, Konstantin Sivkov, as declarações proferidas são "um tributo ao momento político: já que não nos entregaram os Mistrais, nós mesmos os construiremos".
Segundo a ficha técnica, o Priboi é menor do que o Mistral: enquanto a embarcação francesa tem deslocamento de 21 toneladas e consegue levar a bordo 16 helicópteros, o navio russo terá deslocamento de 14 toneladas e terá capacidade para oito helicópteros. O projeto Priboi deverá terminar no final de 2016, quando então o governo russo irá tomar a decisão de encomendar ou não o navio. A Marinha russa já declarou que gostaria de adquirir quatro embarcações do tipo.
Lavina e Nossorog
O Priboi não é a única “resposta ao Mistral” que a Rússia está desenvolvendo. Poucos dias depois de sua apresentação, a mídia russa divulgou uma outra alternativa ao Mistral: o projeto Lavina (“avalanche”, em russo). Trata-se de um porta-helicópteros que, ao contrário do Priboi, é maior do que o Mistral, com um deslocamento de 24 toneladas e capacidade para transportar até 16 helicópteros.
Para, Andrêi Frolov, editor-chefe da revista sobre equipamentos militares “Eksport Voorujenii”, neste momento a Rússia está precisando de navios de desembarque de qualquer tipo, já que sua atual frota de desembarque está bastante envelhecida.
Assim como muitos analistas militares russos, Konstantin Sivkov argumenta que os Mistrais não farão falta ao país, uma vez que foram projetados para resolver problemas de desembarque a grandes distâncias da costa. Sivkov salienta que, nesse aspecto, o principal objetivo da Marinha russa "não é desembarcar homens no meio do Atlântico, mas assegurar a defesa de nossa costa e dar apoio à divisão marítima do exército".
Para isso são necessários outros navios, como aqueles construídos ainda durante a União Soviética e conservados até hoje no projeto Nossorog (“rinoceronte”, em russo), que, devido a suas características, lembra o Priboi. Com a desistência da compra dos Mistrais, a Marinha russa pode optar por fazer uso dos dois Nossorogs que ainda restam, enquanto não forem construídos substitutos para eles.
O valor do Mistral
Mas as tarefas que o Mistral consegue realizar não se limitam ao transporte de tropas por longas distâncias e à cobertura aérea das operações de desembarque. Para Andrêi Soiustov, doutor em História e especialista em história e problemas contemporâneos da Marinha, o aspecto mais importante para a Rússia existente nesses navios é o uso do sistema francês de monitoramento e controle. "Para nós os Mistrais eram vistos não como uma plataforma flutuante para helicópteros, mas como uma espécie de navio de comando para agrupamentos marinhos em partes remotas do oceano", definiu ele.
Mesmo tendo apresentado apenas projetos preliminares, especialistas acreditam que os construtores navais russos conseguirão dar conta do recado e fornecer à Marinha navios de desembarque de nova geração. Segundo Andrêi Frolov, podem surgir dificuldades, mas a construção dos navios é "uma questão de tempo e dinheiro".