Moscou e Washington vêm mantendo consultas intensivas sobre as formas de solucionar a crise síria. Derrubada de líder sírio pode sair de foco por receio de avanço do EI, mas especialistas não acreditam que EUA vai desistir de ideia depois de gastos no conflito.
EKATERINA TCHULKÔVSKAIA | GAZETA RUSSA
Setembro vem sendo marcado por intensivas consultas entre Moscou e Washington sobre a questão da Síria. Diplomatas e militares dos dois países já se encontraram para discutir a prevenção de possíveis incidentes na região, embora um combate conjunto ao Estado Islâmico (EI) ainda não esteja nos planos.
Kerry (dir.) em encontro com chanceler russo Serguêi Lavrov no início do ano. Segundo norte-americano, país está “pronto para negociação” Foto:Reuters |
As autoridades norte-americanas podem atualmente obter informações sobre a cooperação entre Moscou e Damasco através do canal de comunicação restaurado entre os ministérios da Defesa dos Estados Unidos e da Rússia. No entanto, o destino do presidente sírio Bashar Al-Assad ainda é motivo de controvérsia entre os países.
Enquanto os Estados Unidos buscam aliados para derrubar Assad, Moscou insiste que os próprios sírios decidam o destino de seu líder sem interferência externa.
Gueôrgui Mírski, pesquisador sênior do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais da Academia Russa de Ciências (Imemo Ran, na sigla em russo), aponta, no entanto, mudanças na retórica dos EUA. “Embora Washington insista na queda de Assad, não estipula prazo para isso nem descarta a presença dele nas negociações”, disse à Gazeta Russa.
Exemplo disso é a declaração do secretário de Estado dos EUA, John Kerry, no sábado passado (19). “Estamos prontos para a negociação. Mas e Assad, estará disposto a negociar? A Rússia está pronta para trazê-lo à mesa de negociação e encontrar uma saída para a crise?”.
As mudanças do posicionamento dos EUA em relação ao presidente sírio podem estar relacionadas ao acordo sobre o programa nuclear do Irã, assinado em julho. “Após o acordo com Teerã, Assad deixou de ser um aliado do inimigo”, disse Mírski.
Além disso, o pesquisador garante que o principal adversário dos Estados Unidos na Síria hoje é o EI, e não Assad. “Se os extremistas do EI chegarem ao poder na Síria, isso será um duro golpe para a segurança de toda a região. E Obama entrará para a história como o presidente norte-americano que entregou Damasco aos terroristas.”
Três saídas, uma aposta
Embora cautelosos ao fazer previsões, os especialistas sugerem três cenários possíveis para o futuro da Síria: um acordo com Assad, um acordo sem Assad e o prolongamento do conflito.
“O cenário no qual Assad está incluído é o menos provável, porque os EUA já gastaram muitos recursos em prol de sua deposição e simplesmente não podem admitir a derrota”, disse à Gazeta Russa Tatiana Tiúkaeva, professora do Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscou (Mgimo, na sigla em russo).
Opinião semelhante é compartilhada por Mírski. “Para os Estados Unidos, Assad é um mal menor em comparação com o Estado Islâmico. Porém, se Obama concordar em deixa-lo no poder, recairá sobre ele uma avalanche de críticas”, destacou.
Ambos os especialistas concordaram também que seria preferível manter o regime sírio, porém com afastamento de Assad. “Essa pode ser a melhor saída, mas sua implementação é dificultada pelo posicionamento de lideranças regionais da Turquia, da Arábia Saudita e do Qatar”, afirmou Tiúkaeva. “O mais provável é o prolongamento do conflito.”
Israel em alerta
O reforço da cooperação militar entre Rússia e Síria geraram desconforto com o governo de Israel. No início da semana, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu viajou para Moscou em caráter de urgência, acompanhado por chefes das agências de segurança do país.
Em reunião com Pútin, as partes concordam em criar um grupo encarregado de desenvolver um mecanismo para coordenar ações nas “esferas aérea, marítima e eletromagnética” e minimizar os riscos de colisões acidentais, especialmente no ar, e outros incidentes na Síria.