A ofensiva antiterrorista da Turquia contra os combatentes curdos do PKK está completando uma semana. Nesta sexta-feira (31), cerca de 30 caças atacaram as posições do grupo no norte do Iraque. Em entrevista nos estúdios da RFI, o embaixador da Turquia na França, Hakki Akil, explicou por que o país elegeu como alvo a guerrilha curda, quando o mundo aguardava um combate mais intenso contra outra célula extremista, o grupo Estado Islâmico (EI).
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Segundo Akil, existe uma confusão da opinião pública internacional sobre o episódio. O atentado terrorista do grupo Estado Islâmico à cidade de Suruç, na Turquia, no dia 20 de julho, não teria sido o estopim para o início dos ataques turcos ao PKK.
O embaixador da Turquia na França, Hakki Akil, nos estúdios da RFI em Paris.
“Os ataques do PKK contra nós começaram a partir de 11 de julho, bem antes do atentado de Suruç”, explica o embaixador. “Com o acordo de paz 2013, os terroristas do PKK deveriam deixar o território turco e eles não o fizeram. Nós havíamos preferido fechar os olhos para isso, achando que era preciso mais tempo”.
O embaixador diz que o PKK teria se aproveitado do atentado de Suruç perpetrado pelo EI. Como a maioria das vítimas era curda, o grupo teria visto no episódio uma oportunidade para voltar a atuar. “Quando eles viram que ganharam a simpatia da opinião pública, acharam que a conjuntura estaria favorável e recomeçaram os ataques contra nós. Ou eles expulsam de nosso território os terroristas que estão entre eles, ou nós não cometeremos o mesmo erro de tentar um acordo de paz novamente”, afirmou Akil.
Por que o PKK e não o EI?
O representante turco na França também utilizou números para legitimar a ação de seu país contra o PKK e comparou a atuação do grupo a do Estado Islâmico, que atua na vizinha Síria. “Foram feitos mais de mil ataques aéreos contra o grupo Estado Islâmico, sendo que eles não mataram mais do que algumas dezenas de ocidentais. Já o PKK matou mais de 30 mil cidadãos turcos. Portanto, é legítimo que Turquia se defenda deles.”
Nestes sete dias de ofensiva contra os curdos, Ancara realizou apenas um ataque contra o EI. A ofensiva desta sexta-feira – a oitava contra as posições curdas do norte do Iraque – deixou vítimas civis: pelo menos cinco pessoas morreram e uma dezena ficou ferida.
Do lado dos rebeldes curdos, o balanço das operações é de 260 mortos, segundo as autoridades turcas, que afirmam ter ferido o irmão de Selahettin Demirtas, vice-presidente do HDP, partido pró-curdo que teve grande progressão nas últimas eleições turcas.
Já o líder do HDP tenta relançar negociações de paz entre Ancara e a rebelião. Ele diz que o PKK estaria pronto para reabrir o diálogo, mas o primeiro-ministro turco promete que sua campanha antiterrorista seguirá “até que a rebelião se renda”.
Entenda a crise:
Quem são os curdos: é um grupo étnico que vive em um território geográfico chamado Curdistão, que não existe de fato como um Estado. O Curdistão se divide em partes de vários países: Iraque, Irã, Síria, Armênia e Azerbaijão, mas a maior parte fica na Turquia.
Quem é o PKK: o Partido dos Trabalhadores do Curdistão é uma organização que, desde 1984, realiza luta armada contra a Turquia, com objetivo de obter mais autonomia para a região curda que fica dentro do território turco. Um acordo de paz foi fechado em 2013, mas a Turquia diz que o PKK não respeita o cessar-fogo.
Quem é o grupo Estado Islâmico: também chamado de Isis ou Daech, o grupo atua principalmente no Iraque e na Síria, próximo à fronteira com a Turquia. No último 22 de julho, realizou um atentado na cidade de Suruç, na Turquia, que vitimou principalmente curdos. O grupo é combatido tanto pelo Estado turco quanto pelos curdos do PKK, que também lutam entre si.
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