A partir de 1º de agosto, país terá linha direta para facilitar o contato do governo com parentes e amigos de indivíduos que se juntaram ao Estado Islâmico. Iniciativas de esclarecimento e inserção social são mais eficazes que operações armadas, segundo especialistas.
IEKATERINA SINELSCHIKOVA | GAZETA RUSSA
No dia 1º de agosto, a Câmara Pública da Rússia lançará uma linha direta para pessoas cujos parentes e amigos compartilham da ideologia do Estado Islâmico, organização reconhecida no país como terrorista, ou que já tenham partido para lutar com o grupo.
Métodos linha-dura resultaram no aumento da brutalidade no Cáucaso Foto: Váleri Matitsin/TASS
Segundo os representantes da câmara, diante da atual situação, esse tipo de recurso se tornou uma necessidade. A linha direta vai oferecer apoio psicológico e conselhos de como evitar se tornar uma vítima de recrutadores.
“Decidimos criar essa linha depois da fuga da estudante Varvára Karaulova”, disse à Gazeta Russa a presidente da comissão da CP para o Desenvolvimento da Diplomacia Social e Apoio a Russos no Exterior, Elena Sutormina.
Karaulova, que havia sido recrutada por radicais islâmicos, foi detida em junho na fronteira entre a Turquia e a Síria.
Nos últimos meses, a imprensa e as autoridades russas ressaltaram a ameaça da presença do EI dentro das fronteiras do país. Alguns veículos denunciaram as tentativas de recrutamento de jovens muçulmanos e imigrantes no interior da Rússia, que estariam sendo convencidos a aderir ao grupo por um salário de 50 mil rublos ao mês (US$ 880).
Também surgiu na internet um vídeo que relata a fidelidade do mundo clandestino do Cáucaso do Norte ao Estado Islâmico.
Para o diretor do Instituto de Estudos Orientais da Academia de Ciências da Rússia, Vitáli Naumkin, “ainda é cedo para entrarmos em pânico por causa disso”.
“O juramento virtual não significa que todas as facções do Cáucaso do Norte sejam agora comandadas por um único centro”, disse Naumkin à Gazeta Russa. “E as agências de aplicação da lei já começaram a usar medidas eficazes para travar qualquer ação.”
Consciência em jogo
O principal método do Kremlin para lidar com os radicais no país ainda se baseia em operações de força. Mas, segundo os especialistas, só adotar uma postura linha-dura contra o EI é pouco eficaz.
“Dá a sensação de que esses radicais se evaporam, mas aí se passam três ou quatro anos e eles começam as atividades mais uma vez, porque o meio que os faz mover nunca foi eliminado”, afirma o professor de Estudos Regionais e Política Externa da Universidade Estatal Russa de Ciências Humanas, Serguêi Markedonov. “É preciso mais soft power.”
Diversos indivíduos em comunidades muçulmanas já se comunicam com as autoridades por meio de iniciativas de soft power, que exaltam a influência exercida pela diplomacia e pela cultura, entre outros meios.
“Não pegamos ninguém pelo braço e o prendemos. A nossa luta é pelo esclarecimento. O trabalho de identificação e detenção pertence às forças de segurança”, contou à Gazeta Russa o primeiro vice-presidente do Conselho de Muftis da Rússia, Ruchan Abbiassov.
“Sabendo que seus pontos de vista não são aceitos aqui, os recrutadores não dão as caras”, explicou Abbiassov. “As comunidades, por enquanto, estão focadas na leitura dos ensinamentos.”
Voltar é preciso
Em 2010, uma Comissão para a Adaptação de Combatentes foi criada no Daguestão. “Métodos semelhantes de soft power já vinham sendo usados para lidar com indivíduos que tinham lutado ao lado de radicais armados”, conta Varvara Pakhomenko, consultora da ONG International Crisis Group na Rússia.
“Muitos deles não chegaram a cometer crimes graves. Eles tiveram a chance de voltar à vida civil. Isso é muito importante: ter a possibilidade de voltar”, diz Pakhomenko. “As próprias pessoas se entregavam.”
No entanto, durante os preparativos para os Jogos Olímpicos de Sôtchi, no ano passado, o diálogo foi interrompido, e os métodos linha-dura resultaram no aumento da brutalidade.
“Não é por acaso que hoje o Daguestão e a Tchechênia são líderes no número de pessoas que partem para a ‘jihad’ na Síria”, diz a especialista.
A comissão retomou recentemente seus trabalhos, mas, por enquanto, apenas na República da Inguchétia. “Vemos que no poder estão pessoas que compreendem a necessidade dessas medidas”, conclui Pakhomenko.
“Decidimos criar essa linha depois da fuga da estudante Varvára Karaulova”, disse à Gazeta Russa a presidente da comissão da CP para o Desenvolvimento da Diplomacia Social e Apoio a Russos no Exterior, Elena Sutormina.
Karaulova, que havia sido recrutada por radicais islâmicos, foi detida em junho na fronteira entre a Turquia e a Síria.
Nos últimos meses, a imprensa e as autoridades russas ressaltaram a ameaça da presença do EI dentro das fronteiras do país. Alguns veículos denunciaram as tentativas de recrutamento de jovens muçulmanos e imigrantes no interior da Rússia, que estariam sendo convencidos a aderir ao grupo por um salário de 50 mil rublos ao mês (US$ 880).
Também surgiu na internet um vídeo que relata a fidelidade do mundo clandestino do Cáucaso do Norte ao Estado Islâmico.
Para o diretor do Instituto de Estudos Orientais da Academia de Ciências da Rússia, Vitáli Naumkin, “ainda é cedo para entrarmos em pânico por causa disso”.
“O juramento virtual não significa que todas as facções do Cáucaso do Norte sejam agora comandadas por um único centro”, disse Naumkin à Gazeta Russa. “E as agências de aplicação da lei já começaram a usar medidas eficazes para travar qualquer ação.”
Consciência em jogo
O principal método do Kremlin para lidar com os radicais no país ainda se baseia em operações de força. Mas, segundo os especialistas, só adotar uma postura linha-dura contra o EI é pouco eficaz.
“Dá a sensação de que esses radicais se evaporam, mas aí se passam três ou quatro anos e eles começam as atividades mais uma vez, porque o meio que os faz mover nunca foi eliminado”, afirma o professor de Estudos Regionais e Política Externa da Universidade Estatal Russa de Ciências Humanas, Serguêi Markedonov. “É preciso mais soft power.”
Diversos indivíduos em comunidades muçulmanas já se comunicam com as autoridades por meio de iniciativas de soft power, que exaltam a influência exercida pela diplomacia e pela cultura, entre outros meios.
“Não pegamos ninguém pelo braço e o prendemos. A nossa luta é pelo esclarecimento. O trabalho de identificação e detenção pertence às forças de segurança”, contou à Gazeta Russa o primeiro vice-presidente do Conselho de Muftis da Rússia, Ruchan Abbiassov.
“Sabendo que seus pontos de vista não são aceitos aqui, os recrutadores não dão as caras”, explicou Abbiassov. “As comunidades, por enquanto, estão focadas na leitura dos ensinamentos.”
Voltar é preciso
Em 2010, uma Comissão para a Adaptação de Combatentes foi criada no Daguestão. “Métodos semelhantes de soft power já vinham sendo usados para lidar com indivíduos que tinham lutado ao lado de radicais armados”, conta Varvara Pakhomenko, consultora da ONG International Crisis Group na Rússia.
“Muitos deles não chegaram a cometer crimes graves. Eles tiveram a chance de voltar à vida civil. Isso é muito importante: ter a possibilidade de voltar”, diz Pakhomenko. “As próprias pessoas se entregavam.”
No entanto, durante os preparativos para os Jogos Olímpicos de Sôtchi, no ano passado, o diálogo foi interrompido, e os métodos linha-dura resultaram no aumento da brutalidade.
“Não é por acaso que hoje o Daguestão e a Tchechênia são líderes no número de pessoas que partem para a ‘jihad’ na Síria”, diz a especialista.
A comissão retomou recentemente seus trabalhos, mas, por enquanto, apenas na República da Inguchétia. “Vemos que no poder estão pessoas que compreendem a necessidade dessas medidas”, conclui Pakhomenko.