A recente declaração do presidente Vladímir Pútin sobre a incorporação de 40 mísseis balísticos ao arsenal russo provocou uma onda de acusações de quebra do Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Start, na sigla em inglês). Russos alegam que palavras de Pútin foram deturpadas, e que se trata apenas de modernização das forças nucleares.
Guevorg Mirzaian | Gazeta Russa
Na última terça-feira (16), o presidente russo Vladímir Pútin declarou que “este ano as forças nucleares [da Rússia] vão incorporar mais 40 de novos mísseis balísticos intercontinentais, capazes de superar qualquer sistema de defesa antimíssil”. Pouco depois, alguns políticos ocidentais, encarando o anúncio de Pútin como o início de uma nova corrida armamentista, não pouparam críticas à liderança russa.
“Isso não ajuda em nada a esfriar a escalada dos conflitos”, disse o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest. Já o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, declarou que “a retórica militar [do Kremlin] não se justifica, é perigosa e desempenha um papel desestabilizador”, enquanto o comandante das forças da Otan na Europa, Philip Breedlove, se referiu à Rússia como uma “potência nuclear irresponsável”.
No entanto, a questão foi analisada sob um ponto de vista diversos por alguns observadores russos. “A atualização do arsenal nuclear da Rússia não é surpresa para ninguém. Ela se enquadra no programa de modernização das Forças Armadas, e o número de mísseis é ainda menor do que o previsto”, disse à Gazeta Russa o professor Dmítri Ofitserov-Belski, da Escola Superior de Economia.
Além disso, Pútin teria falado não apenas sobre mísseis, mas das Forças Armadas como um todo. “Ele também disse que em breve será colocado ao serviço do Exército o cruzador submarino estratégico Vladímir Monomakh, e que tanto a Marinha como a Aeronáutica estão sendo complementadas”, destacou Ofitserov-Belski.
Vladímir Monomakh |
Alarmismo sem causa
“As palavras de Pútin caíram em solo fértil, uma vez que as relações políticas entre a Rússia e os EUA/Otan entraram no domínio da troca de acusações e ameaças”, disse à Gazeta Russa Piotr Topitchkanov, funcionário do Centro Carnegie de Moscou. “Assim, o anúncio de que o país ganha estas ou outras capacidades no campo das armas nucleares ou convencionais é entendido como uma ameaça ao adversário.”
Topitchkanov ressaltou, contudo, que o programa de renovação das forças nucleares russas “não foi iniciado hoje nem ontem” e a complementação anunciada não coloca as forças russas de dissuasão nuclear para além do limite máximo estipulado no Start. “Esse tratado estabelece um regime de inspeções que restringe seriamente a possibilidade de violações do mesmo”, afirmou.
Ainda segundo o especialista do Centro Carnegie, a possibilidade de conflito militar não é interessante nem para a Rússia, nem para o Ocidente. “Tanto Moscou como Washington e Bruxelas entendem que qualquer conflito armado entre a Rússia e a Otan seria difícil de conter em termos de escalada para uma guerra nuclear.”
Corrida cara
Após as críticas ocidentais, as autoridades russas também negaram qualquer ameaça nas palavras do presidente Vladímir Pútin. “Nós não estamos entrando em nenhuma corrida armamentista – somos contra isso, pois iria apenas enfraquecer as nossas capacidades na esfera econômica”, declarou o assessor da presidência, Iúri Uchakov.
O assessor de imprensa do Kremlin, Dmítri Peskov, acrescentou ainda que a Rússia não pretende atacar ninguém – pelo contrário, o país teme se tornar vítima de agressão. “Pútin explicou detalhadamente ao seu homólogo finlandês que não é a Rússia que está se aproximando das fronteiras de ninguém. A infraestrutura militar da Otan é que está se aproximando das fronteiras da Rússia e estão sendo tomadas medidas destinadas a mudar o equilíbrio estratégico de forças”, disse Peskov.