Editor de Opinião da Revista Forças de Defesa
A proposta é tentadora: vender um pacote de armamentos às Forças Armadas iraquianas que poderia representar o ingresso no país de algumas centenas de milhões de dólares em divisas – mas os riscos são altos também, e o governo Dilma Roussef não parece disposto a corrê-los.
Este é o resumo da situação criada pela visita a Brasília, no dia 2 de junho, do novo ministro da Defesa do Iraque, Ibrahim Al-Jaafari, que se reuniu com o seu colega brasileiro Jaques Wagner, na presença do chefe do Departamento de Oriente Médio do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Carlos Ceglia, e do embaixador iraquiano no Brasil, Adel Al Kurdi.
Até poucas semanas atrás, o ex-Primeiro-Ministro do Iraque Ibrahim al-Eshaiker al-Jaafari, de 68 anos, vinha exercendo o cargo de Ministro do Exterior, mas, recentemente, o governo do presidente Fuad Masum o removeu para a Pasta da Defesa – que necessita de apoio internacional para combater os terroristas do Estado Islâmico (EI) atuantes no território iraquiano.
Al-Jaafari desembarcou na capital brasileira com o discurso de que Bagdá gostaria de ver o Brasil alinhado às potências que condenam e ajudam a combater o EI. Mas tanto o Itamaraty como a área de Assuntos Estratégicos do Ministério da Defesa brasileiro, chefiada pelo general Gerson Menandro Garcia de Freitas, temem que uma aproximação do Brasil com o Iraque, nesse momento, possa atrair para o país – que se prepara para promover os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro – a vingança de algum grupo terrorista ligado à selvageria do EI.
Lista
De acordo com uma reportagem do correspondente do site IHS Jane Defence Weeklyem Washington, Inigo Guevara, os iraquianos teriam interesse em obter turboélices de ataque ao solo Embraer A-29 Super Tucano, blindados de transporte de pessoal do tipo VBTP-MR Guarani, de tração 6×6, viaturas leves Agrale Marruá, 4×4, baterias Astros 2 de foguetes de saturação, armas anti-tanque de 84 mm e radares de defesa aérea tática Bradar M60 SABER.
O Poder Aéreo apurou que representantes do governo Masum já haviam conversado sobre o assunto, rapidamente, com o ministro Jaques Wagner, durante a LAAD 2015, na segunda semana de abril – ocasião em que ficou acertada a viagem do ministro Al-Jaafari viria ao Brasil.
Em Brasília, os dois trocaram declarações protocolares.
Al-Jaafari: “A guerra contra o terrorismo não é uma guerra convencional. Buscamos os países amigos e democráticos para defender aqueles que estão sofrendo com esse fenômeno”, disse o chanceler iraquiano.
Jaques Wagner retrucou: “o Brasil tem tradição, de longa data, de paz e solidariedade. Expressamos nossa total solidariedade ao Iraque em face das atrocidades que estão sendo perpetradas no país”.
Tudo aparentemente muito claro e inequívoco, mas também descompromissado… O mais provável é que a diplomacia brasileira só autorize as vendas dos armamentos brasileiros na metade final de 2016 – se, até lá, os iraquianos mantiverem seu interesse nesses produtos.
Perspectivas
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abimde), a chamada Base Industrial de Defesa (BID) movimenta cerca de 6,5 bilhões de dólares ao ano (3 bi em exportação e 3,5 em importação), gerando 30 mil empregos diretos e uns 100 mil indiretos.
E a despeito da desaceleração dos investimentos do governo nesse segmento industrial, a expectativa é de que, até o final desta década, cerca de 40 mil novos postos de trabalho sejam criados na BID.
O mercado mundial de Defesa gira em torno de US$ 1,5 trilhão por ano. A participação brasileira nesse bolo foi pequena: em 2014, o ministério hoje comandado por Wagner só autorizou exportações de armamentos no valor de, aproximadamente, US$ 600 milhões.
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E a despeito da desaceleração dos investimentos do governo nesse segmento industrial, a expectativa é de que, até o final desta década, cerca de 40 mil novos postos de trabalho sejam criados na BID.
O mercado mundial de Defesa gira em torno de US$ 1,5 trilhão por ano. A participação brasileira nesse bolo foi pequena: em 2014, o ministério hoje comandado por Wagner só autorizou exportações de armamentos no valor de, aproximadamente, US$ 600 milhões.