Bagdá, 25 Mai 2015 (AFP) - Bagdá rejeitou as críticas americanas sobre a "falta de vontade" do exército iraquiano de lutar contra os jihadistas, enquanto um general iraniano acusou Washington de "não fazer nada" para ajudar suas tropas em Ramadi, agora nas mãos dos jhadistas.
O secretário americano da Defesa, Ashton Carter, afirmou que a queda de Ramadi, em 17 de maio, a pior derrota sofrida pelo governo de Bagdá em cerca de um ano, poderia ter sido evitada.
"Temos um problema com a vontade dos iraquianos de lutar contra o EI e se defender", disse no domingo à CNN o funcionário americano.
As forças iraquianas não estavam em inferioridade numérica, pois "superavam amplamente as forças de seus inimigos", no entanto, "foram incapazes ao combater e se retiraram da região", disse o funcionário.
Washington foi um dos aliados-chave da guerra lançada pelas autoridades iraquianas no ano passado para recuperar os territórios conquistados pelo grupo jihadista EI, razão pela qual o premiê, Haider al Abadi, não quis criar polêmica.
"Fico surpreso de que tenha dito isso. Quero dizer, que ele foi um grande apoio para o Iraque. Estou certo de que contava com a informação imprecisa", disse Abadi à BBC.
O vice-presidente americano, Joe Biden, tentou nesta segunda-feira por um fim à incômoda situação provocada pelas declarações de Carter.
A Casa Branca informou que Biden convocou Abadi poucas horas depois. Biden "admitiu o enorme sacrifício e valentia das forças iraquianas nos últimos 18 meses em Ramadi e outros lugares", informou Washington.
Em alusão aos comentários de Carter, Biden reafirmou "o apoio dos Estados Unidos à luta do governo iraquiano contra" os jihadistas do EI.
Após meses de bombardeios e de mobilização de assessores para reformar e treinar as forças de segurança iraquianas, a estratégia parece ter fracassado diante das agressivas táticas do grupo.
"As declarações do secretário Carter são surpreendentes e provavelmente afetarão a moral das forças", disse o especialista iraquiano, Ahmed Ali, professor convidado do Centro de Educação para a Paz.
Para o porta-voz das Unidades de Mobilização Popular, que reúnem várias milícias xiitas, a reticência de Abadi de pedir sua participação influenciou na queda de Ramadi.
"Esta falta de vontade mencionada pelo secretário de Defesa americano é a forma que os inimigos do Iraque tiveram de representar as forças iraquianas", disse à AFP Ahmed al Asadi.
Dúvidas sobre a estratégia dos EUA
A queda de Ramadi, ponto chave da província de Al Anbar, situada uma centena de quilômetros a oeste de Bagdá, gera dúvidas, não apenas sobre a estratégia do governo de Abadi, mas também sobre o plano dos Estados Unidos.
O governo iraquiano admitiu que houve erros e prometeu investigar a caótica retirada de suas tropas.
Os mais de 3.000 bombardeios da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos tampouco impediram que o EI reforçasse sua presença na região entre o Iraque e a Síria, onde declarou um califado.
O influente general iraniano Ghassem Souleimani declarou que os Estados Unidos "não fizeram nada" para ajudar o exército iraquiano em Ramadi.
"Obama, qual é a distância entre Ramadi e a base Al-Assad, onde os aviões americanos estão estacionados? Como vocês podem se instalar neste local sob o pretexto de proteger os iraquianos e não fazer nada? Isso não me parece outra coisa a não ser um complô", declarou o chefe da força Qods, encarregada das operações externas do exército de elite do regime, em um discurso pronunciado domingo à noite.
Na Síria, os combates prosseguiam nesta segunda-feira nos arredores da cidade de Palmira, após sua conquista pelo grupo Estado Islâmico (EI), que executou mais de 200 soldados e civis no centro do país nos últimos dias, segundo uma ONG.
Segundo uma fonte militar, o exército atacou "mais de 160 alvos" dos jihadistas na localidade.
Os bombardeios não impediram, no entanto, o avanço do EI rumo a Damasco e a tomada pelo grupo radical das minas de fosfato de Khnaifess, as segundas mais importantes do país, 70 km ao sul de Palmira, informou a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
O EI executou pelo menos 217 pessoas, inclusive civis, desde que há nove dias assumiu o controle de uma parte da província síria de Homs, incluindo Palmira, informou no domingo o OSDH.
Segundo esta ONG, os jihadistas executaram 67 civis, inclusive crianças, e 150 soldados sírios em vários enclaves da província de Homs desde 16 de maio.