Editor de Opinião da Revista Forças de Defesa
Após passar os últimos quatro meses assistindo a busca ansiosa dos militares argentinos pelo apoio financeiro da China à renovação dos seus meios de patrulha naval, da sua aviação de caça e do seu parque de blindados sobre rodas, os militares brasileiros começam a perceber que a silhueta do gigante chinês se desenha com nitidez crescente também no horizonte de Brasília.
E que o diligente governo de Pequim parece ter feito a leitura correta da janela de oportunidades que vem se abrindo no Brasil, desde que as investigações da Operação Lava Jato criminalizaram boa parte das atividades das principais empreiteiras nacionais.
Some-se a isso o fato de o caixa do governo federal estar prestes a ser esvaziado de 60 bilhões de Reais – a conta provável do “ajuste fiscal” –, e fica fácil concluir o tamanho da chance que os chineses têm, de fazer sucesso no Brasil – inclusive na área da Defesa Nacional.
Tal perspectiva não deriva de análises ou percepções recentes.
Comitê
Circunstâncias favoráveis à aproximação Brasil-China no campo militar existem desde que, em 2010, os dois países estabeleceram um Comitê Conjunto de Defesa Brasil-China – mais tarde redenominado Comissão Conjunta de Intercâmbio e Cooperação dos Ministérios da Defesa da China e do Brasil.
O 4º Encontro dessa Comissão aconteceu na primeira quinzena do mês passado, em Brasília, sob o manto de discrição que é um dos dogmas da política chinesa de penetração estratégica.
Conforme o ForTe – Forças Terrestres - informou com exclusividade, à testa da delegação do Exército de Libertação Popular da China (leia-se Forças Armadas chinesas), estava ninguém menos que o almirante de quatro estrelas Sun Jianguo, de 63 anos, principal negociador internacional dos militares chineses.
O problema é que bem pouca gente, entre os formadores de opinião e a imprensa tida como “especializada” em assuntos militares, dá importância às investidas dos chineses no campo da Defesa, no Brasil.
Prevalece a impressão de que, em face da nossa tradicional história de cooperação militar e industrial-militar com os Estados Unidos e a Europa (França, Alemanha, Inglaterra, Itália e agora Suécia e Turquia), os militares brasileiros jamais se afastarão de marcas ocidentais consagradas como General Dynamics, Boeing, TKMS, Thales e tantas outras.
Embranav
O 4º Encontro dessa Comissão aconteceu na primeira quinzena do mês passado, em Brasília, sob o manto de discrição que é um dos dogmas da política chinesa de penetração estratégica.
Conforme o ForTe – Forças Terrestres - informou com exclusividade, à testa da delegação do Exército de Libertação Popular da China (leia-se Forças Armadas chinesas), estava ninguém menos que o almirante de quatro estrelas Sun Jianguo, de 63 anos, principal negociador internacional dos militares chineses.
O problema é que bem pouca gente, entre os formadores de opinião e a imprensa tida como “especializada” em assuntos militares, dá importância às investidas dos chineses no campo da Defesa, no Brasil.
Prevalece a impressão de que, em face da nossa tradicional história de cooperação militar e industrial-militar com os Estados Unidos e a Europa (França, Alemanha, Inglaterra, Itália e agora Suécia e Turquia), os militares brasileiros jamais se afastarão de marcas ocidentais consagradas como General Dynamics, Boeing, TKMS, Thales e tantas outras.
Embranav
Essa percepção da realidade existiu, realmente, mas vem mudando.
E com o enfraquecimento do poderio das grandes empreiteiras nacionais, vem mudando muito mais rapidamente.
Nos últimos dez meses recebemos as visitas do presidente da China, Xi Jinping, e de seu ministro da Ciência, Tecnologia e Indústria de Defesa, Xu Dazhe – em julho de 2014. Em janeiro passado o vice-presidente chinês Li Yuanchao também apareceu em Brasília; em abril foi a vez do almirante Jianguo e nesta terça-feira fará sua aparição o Primeiro-Ministro Li Keqiang, que trará na pasta um pacote de 53,3 bilhões de dólares para ser investido a curto, médio e longo prazos no país – aproximadamente 20% de tudo o que os chineses pretendem investir na América do Sul.
Como forma de dar consequência à sua passagem por Brasília, Li Keqiang deve anunciar um financiamento para que a empresa de aviação regional Tianjin Airlines compre 22 aeronaves da Embraer. A companhia é uma das empresas-símbolo da tecnologia nacional – verdadeiro orgulho dos brasileiros – e tem sofrido com a inadimplência do governo federal nos contratos de fornecimento de aeronaves e serviços militares – tanto que já pensa em desaquecer suas atividades da linha de Defesa.
A Marinha do Brasil sonhou, tempos atrás, em fazer da empresa Odebrecht Defesa e Tecnologia (ODT), sua parceira no Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB), uma Embraer do mar – a Embranav, conforme gostavam de chamar alguns chefes navais –, mas a direção da empreiteira preferiu não enfrentar esse Mar Tenebroso, e dar máquinas à ré…
Prioridades
E com o enfraquecimento do poderio das grandes empreiteiras nacionais, vem mudando muito mais rapidamente.
Nos últimos dez meses recebemos as visitas do presidente da China, Xi Jinping, e de seu ministro da Ciência, Tecnologia e Indústria de Defesa, Xu Dazhe – em julho de 2014. Em janeiro passado o vice-presidente chinês Li Yuanchao também apareceu em Brasília; em abril foi a vez do almirante Jianguo e nesta terça-feira fará sua aparição o Primeiro-Ministro Li Keqiang, que trará na pasta um pacote de 53,3 bilhões de dólares para ser investido a curto, médio e longo prazos no país – aproximadamente 20% de tudo o que os chineses pretendem investir na América do Sul.
Como forma de dar consequência à sua passagem por Brasília, Li Keqiang deve anunciar um financiamento para que a empresa de aviação regional Tianjin Airlines compre 22 aeronaves da Embraer. A companhia é uma das empresas-símbolo da tecnologia nacional – verdadeiro orgulho dos brasileiros – e tem sofrido com a inadimplência do governo federal nos contratos de fornecimento de aeronaves e serviços militares – tanto que já pensa em desaquecer suas atividades da linha de Defesa.
A Marinha do Brasil sonhou, tempos atrás, em fazer da empresa Odebrecht Defesa e Tecnologia (ODT), sua parceira no Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB), uma Embraer do mar – a Embranav, conforme gostavam de chamar alguns chefes navais –, mas a direção da empreiteira preferiu não enfrentar esse Mar Tenebroso, e dar máquinas à ré…
Prioridades
Espaço para cooperação é, portanto, o que não falta.
No ministério chefiado pelo petista Jaques Wagner há espaço para colaboração
No ministério chefiado pelo petista Jaques Wagner há espaço para colaboração
(1) no desenvolvimento do projeto do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas – SGDCE – (para quem não sabe, a grande prioridade dos militares que servem no Ministério da Defesa);
(2) na implantação do Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAZ);
(3) no estabelecimento de uma capacitação verde-amarela em cyberdefesa;
(4) no provimento das obras e dos equipamentos que se fazem necessários ao projeto PROTEGER;
(5) na alavancagem dos financiamentos indispensáveis à viabilização do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON), e em mais de 20 outros programas prioritários das Forças Armadas que, em seu conjunto – por força do sucateamento das Forças Armadas brasileiras entre as décadas de 1970 e 2000 –, vão requerer um somatório bilionário de verbas.
Os chineses, sabe-se, têm uma fixação por investimentos em infraestrutura.
Na passagem de Keqiang por Brasília devem ser assinados 36 diferentes acordos, incluindo o que cria a linha de crédito para o financiamento da ferrovia transoceânica, ligando a linha brasileira Norte-Sul ao oceano Pacífico, passando pelo Peru – tudo isso é do interesse das Forças Armadas.
Mas há outras áreas que os chineses consideram preferenciais: autopeças, equipamentos de transporte, energia, ferrovias, portos, estradas, aeroportos, estruturas de armazenamento, siderurgia – e tudo o que possa facilitar o escoamento da produção de matérias-primas de seu interesse.
O roteiro do giro do Primeiro-Ministro Li Keqiang pela América do Sul, a partir desta semana, dá bem ideia da preferencia que Pequim confere às nações sul-americanas: Brasil, Chile, Colômbia e Peru.
Os chineses, sabe-se, têm uma fixação por investimentos em infraestrutura.
Na passagem de Keqiang por Brasília devem ser assinados 36 diferentes acordos, incluindo o que cria a linha de crédito para o financiamento da ferrovia transoceânica, ligando a linha brasileira Norte-Sul ao oceano Pacífico, passando pelo Peru – tudo isso é do interesse das Forças Armadas.
Mas há outras áreas que os chineses consideram preferenciais: autopeças, equipamentos de transporte, energia, ferrovias, portos, estradas, aeroportos, estruturas de armazenamento, siderurgia – e tudo o que possa facilitar o escoamento da produção de matérias-primas de seu interesse.
O roteiro do giro do Primeiro-Ministro Li Keqiang pela América do Sul, a partir desta semana, dá bem ideia da preferencia que Pequim confere às nações sul-americanas: Brasil, Chile, Colômbia e Peru.