O Canadá se recusou a extraditar para a Rússia o criminoso de guerra Vladimir Katryuk, 94 anos, acusado de participar do massacre de civis na aldeia bielorrussa de Khatyn em 1943, segundo informou o vice-procurador-geral russo Alexander Zvyagintsev à Sputnik.
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No início de maio, o Comitê de Investigações da Rússia abriu um processo criminal contra Katryuk, descendente de ucranianos e residente no Canadá desde 1951, acusando-o de cumplicidade com genocídio.
"Infelizmente, o Canadá, que deveria tê-lo trazido à responsabilidade, rejeitou nosso pedido para extraditar Katryuk", disse Zvyagintsev, acrescentando que "o Canadá retirou todas as acusações contra ele por certas razões desconhecidas".
De acordo com os investigadores russos, durante a Segunda Guerra Mundial Katryuk se juntou voluntariamente a um batalhão ucraniano da polícia nazista que, em 23 de março de 1943, participou do extermínio de todos os moradores do vilarejo bielorrusso de Khatyn, perto de Minsk.
Katryuk teria sido um dos homens que arrastaram as vítimas de suas casas, levando-as em seguida a um celeiro nos arredores da comunidade. Lá, segundo os registros históricos, elas foram trancadas e queimadas vivas. Todos os que tentaram escapar do incêndio foram baleados. No total, foram 149 civis mortos, incluindo 75 jovens e crianças. Além disso, todas as casas da aldeia foram destruídas.
Durante a ocupação nazista entre 1941 e 1944 – época em que a Bielorrússia era uma república constitutiva da União Soviética, cerca de 400.000 civis locais foram exterminados em prol da “limpeza étnica” promovida pela Alemanha de Hitler.
Na década de 1970, em um tribunal militar da Bielorrússia criado para investigar o massacre de Khatyn, dois cúmplices de Katryuk, Grigory Vasyura e Vasily Meleshko, foram considerados culpados de genocídio e condenados à morte. Ambos foram executados em 1975.
Em 1999, o Canadá destituiu Katryuk de sua cidadania após as autoridades nacionais terem descoberto que ele havia chegado ao país com documentos falsos, escondendo seu envolvimento com a polícia nazista. Na ocasião, as evidências de seus crimes de guerra chamaram a atenção pública, mas aparentemente não foram suficientes para determinar sua participação ativa nas atrocidades. Em 2007, o gabinete do premiê Stephen Harper decidiu restaurar seus direitos como cidadão canadense.
Em 2012, os chamados caçadores de nazistas da organização não-governamental Centro Simon Wiesenthal desenterraram documentos confirmando que Katryuk estava entre o grupo que atirou nos habitantes de Khatyn em 1943.
No entanto, segundo o diário The Globe and Mail, Ottawa se recusou a comentar a decisão de não extraditar o criminoso de guerra a pedido da Rússia. Quando questionado, o governo canadense simplesmente trocou o assunto para a questão da Crimeia.
"Enquanto eu não posso comentar sobre qualquer pedido de extradição específico, para ser clara, nós nunca vamos aceitar ou reconhecer a anexação russa da Crimeia ou a ocupação ilegal de qualquer território soberano ucraniano", disse Clarissa Lamb, secretária de imprensa do ministro da Justiça canadense, Peter MacKay.
O Canadá, que abriga uma grande comunidade de ucranianos e descendentes de ucranianos – os quais representam um lobby político bastante significativo no país –, é um dos Estados que, ao lado dos EUA e seus aliados, resolveu impor sanções à Federação Russa devido ao suposto envolvimento de Moscou na crise da Ucrânia – alegação constantemente negada pelo Kremlin.
A acusação a respeito de uma “agressão” ou “anexação russa” da Crimeia, no entanto, ignora o amplo referendo democrático realizado na península, no qual a vasta maioria da população decidiu exercer o direito à autodeterminação e se separar da Ucrânia após o golpe de Estado ocorrido em Kiev em fevereiro do ano passado – golpe que, aliás, foi conduzido com o apoio explícito dos EUA e de seus aliados ocidentais.