Editor de Opinião da Revista Forças de Defesa e autor do livro “As Garras do Cisne”
Parece claro, a essa altura dos acontecimentos – ou da falta de acontecimentos (no campo do PROSUPER) –, que alguma medida precisa ser tomada, no sentido de garantir o funcionamento da força de superfície da Esquadra pelos próximos nove ou dez anos.
Temos, hoje, apenas um dos nossos cinco submarinos de tecnologia alemã disponível – o Tapajó –, mas a renovação dessa flotilha já está em andamento, e com a prioridade adequada.
Entre os escoltas a situação é diferente.
Há anos que fragatas e corvetas vêm sendo usadas até o limite das suas capacidades. E isso em um contexto de intensa demanda, cujas consequências são agravadas pela falta de todos os recursos necessários à manutenção dos navios.
O resultado é que das seis fragatas classe Niterói, apenas três estão disponíveis, sob diferentes graus de restrição operacional; entre as três classe Greenhalgh (Tipo 22), apenas a Rademaker pode ser considerada em razoável estado; e das quatro corvetas, só a Barroso estaria em condições de, hoje, responder a uma convocação de emergência.
Espera-se que a Júlio de Noronha inicie ainda este ano os seus testes de motores – e que, portanto, também ela esteja de volta ao setor operativo da Marinha em 2016. Mas essa, por enquanto, é só uma expectativa.
O outro aspecto preocupante é que os navios-patrulha oceânicos classe Amazonas – barcos construídos (não nos esqueçamos!) para a Guarda Costeira de Trinidad Tobago – vêm sendo comissionados como se fragatas ligeiras fossem. E isso a despeito de seu fraco armamento e das suas conhecidas carências (para a guerra antissubmarino e a simulação de combates de superfície) – que, nos exercícios, as transformam quase que em meros elementos de figuração.
É impossível pensar que a Esquadra possa singrar mais uma década composta apenas por oito ou nove navios cansados, que sequer chegam a constituir um modesto agrupamento dessa ordem, visto que um deles precisa estar, permanentemente, a serviço da Força-Tarefa Marítima das Nações Unidas no Líbano.
E pensar que, até 2013, a Marinha ainda planejava estender sua presença, de forma mais sistemática, ao Golfo da Guiné e ao Chifre da África (como parte da força antipirataria da Operação Atalanta)…
Deixemos esses devaneios de lado.
É preciso focar no fato de que, para a renovação da força de superfície, não há, nem mesmo, estaleiros nacionais preparados. E mesmo a alternativa representada pelo histórico e valoroso Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ) não pode ser considerada, ainda, uma opção.
O atual comandante da Marinha enxerga com propriedade a necessidade urgente de recuperação das carreiras 1 e 2 do AMRJ, de obras nos diques principais dessa OM – como, de resto a modernização do próprio Arsenal –, mas esse é um plano que vem sendo considerado prioritário desde, pelo menos, 2008, e pouca coisa (além de planejamentos) pôde ser feita até aqui…
A grave crise na indústria naval brasileira só torna o cenário ainda mais difícil e urgente.
Estamos gastando cinco anos para fabricar um navio-patrulha de 500 toneladas, que deveria estar sendo produzido nos estaleiros nacionais ao ritmo de um a cada 18 ou 24 meses… (Como faremos para atender o contrato firmado com a Marinha de Angola, de fornecimento de sete NPa de 500?)
Ainda que a Presidência da República escolhesse hoje, nesse momento, um dos seis grupos empresariais estrangeiros que se dispõem a atender o Programa de Obtenção de Meios de Superfície – o festejado PROSUPER (5 fragatas de 6.000 toneladas, 5 navios-patrulha oceânicos e um navio de apoio logístico) –, permitindo à Marinha encomendar suas novas unidades já no primeiro trimestre de 2016, parece claro que a força de superfície da Esquadra não poderia ser reforçada com uma nova geração de fragatas antes de 2023 ou 2024. Isso, claro, no caso de o novo parceiro da Marinha identificar um estaleiro nacional capaz de absorver as modernas tecnologias construtivas de navios militares; ou seja, no caso de tudo ir muito bem, sem imprevistos importantes.
Como não se prevê que o Executivo venha a demonstrar preocupação com a defesa naval – ou o PROSUPER –, e a Marinha seja capaz de, por seus próprios meios, encomendar algum navio (por mais simples que seja), urge que os chefes navais mobilizem seus contatos, dentro do governo e com as marinhas de nações amigas, no sentido de localizar e buscar, no mercado internacional, ao menos quatro escoltas usados, aptos a agregarem valor ao atual nível de modernidade da Esquadra.
Precisamos dessa flotilha de embarcações para fazer a travessia da Força Naval brasileira até o fim da década de 2020, rezando (muito) para que até 2030 já tenhamos, no mínimo, duas fragatas do PROSUPER em operação.
Será, portanto, forçoso visitar – ou revisitar – as parcelas mais antigas das principais frotas que empregam sistemas ocidentais de navegação, de varredura eletrônica e de armas. Barcos considerados disponíveis, prestes a serem declarados desimpedidos ou em vias de terem a sua disponibilidade confirmada nos próximos dois ou três anos (no máximo).
Os critérios de seleção dos navios deverão, obviamente, servir para orientar, não para representar um óbice à escolha: fragatas e/ou destróieres (de preferência) polivalentes lançados a partir de 1990 (ou em torno dessa época), com deslocamento entre 3.000 e 5.000 toneladas, algum design furtivo e capacidade de transportar helicópteros, dotados de sensores e de sistemas de armas que – mediante atualização – possam, dentro da próxima década, manter certa eficácia. E aqueles que, por suas boas condições de casco, de operação e de manutenção (não dispendiosa em demasia), devam ser considerados de interesse da Marinha do Brasil.
Há muitos modelos de embarcações que se enquadram nesses padrões.
As fragatas Brandenburg alemães, as KDX I sul-coreanas, as fragatas leves tipo Floréal francesas e as Tipo 23 da Royal Navy são algumas delas, além das fragatas classe Oliver Hazard Perry, desativadas pela Marinha dos EUA. Mas, de novo, é preciso saber se elas estarão desembaraçadas para se tornarem alvo de uma “compra de oportunidade”.
Apesar dos desmentidos oficiais, os planejadores da Armada vêm, há alguns anos, lidando com esse tipo de pesquisa.
Em 2013, a correspondente do grupo editorial britânico Jane’s em Montevidéu, Patricia Samfelt, obteve a informação de que oficiais brasileiros examinavam o estado de fragatas italianas da classe Maestrale – navios da década de 1980 que, afinal, pareceram não oferecer vantagens além das já exibidas pela classe Greenhalgh, por exemplo.
Não há dúvidas de que a busca continua. E também não há dúvidas de que, em face das circunstâncias, hoje ela é muito mais urgente do que era em 2013.
STATUS DA ESQUADRA BRASILEIRA EM 2015, COM BASE EM INFORMAÇÕES OSTENSIVAS
Tipo | Nome | Status |
Navio-Aeródromo | São Paulo (A12) | Parado, em reforma até 2019 |
Fragata | Niterói (F40) | Vai docar para reparos em Aratu-BA |
Fragata | Defensora (F41) | Parada em PMG, há vários anos |
Fragata | Constituição (F42) | Operacional |
Fragata | Liberal (F43) | Operacional |
Fragata | Independência (F44) | Em reparos |
Fragata | União (F45) | Quebrou no Líbano, em reparos |
Fragata | Greenhalgh (F46) | Operacional |
Fragata | Bosísio (F48) | Prestes a dar baixa |
Fragata | Rademaker (F49) | Operacional |
Corveta | Inhaúma (V30) | Em reparos, há vários anos |
Corveta | Jaceguai (V31) | Em reparos, há vários anos |
Corveta | Julio de Noronha (V32) | Em reparos, há vários anos |
Corveta | Barroso (V34) | Operacional |
Submarino | Tupi (S30) | Em reparos |
Submarino | Tamoio (S31) | Em reparos |
Submarino | Timbira (S32) | Em reparos |
Submarino | Tapajó (S33) | Operacional |
Submarino | Tikuna (S34) | Em reparos |