Editor de Opinião da Revista Forças de Defesa
O anúncio da venda de 79 caças Northrop F-5 Tiger pertencentes à Força Aérea da Arábia Saudita, publicado na última edição da Revista AvBuyer – publicação britânica especializada na venda de aeronaves executivas usadas – traz, logo abaixo da fotografia de uma formação de quatro jatos que ostentam pintura de camuflagem, a primeira condição para a realização do negócio: “O comprador deve obter uma licença de exportação dos Estados Unidos da América após nossa aprovação deste pedido para comprar as aeronaves acima”.
O governo de Riad não poderia ser mais claro.
Em tese, a advertência é um empecilho para a aviação militar da Argentina, que – em meio a um contencioso com a Grã-Bretanha por causa da soberania das Ilhas Malvinas – busca no mercado de caças usados uma aeronave-tampão capaz de prover o treinamento de seus pilotos em missões de interceptação e superioridade aérea.
Na Força Aérea Argentina essas operações estão fortemente prejudicadas pelo obsoletismo de seus caças Mirage III e Dagger, e pela falta de modernização dos seus modelos subsônicos Lockheed Martin A-4AR Fightinghawk.
O anúncio da AvBuyer dá o nome do funcionário saudita incumbido de prestar informações sobre a oferta – Bader Abdulrahman –, um e-mail, um número de fax, e o alerta sobre a data de abertura dos envelopes com a manifestação dos interessados: 25 de abril deste ano.
Garantias - Os governos que venham a considerar a compra dos aviões devem apresentar garantias bancárias equivalentes a 2% “do valor de oferta real para o certame”, procedentes “de um banco respeitável e certificadas por um Banco da Arábia Saudita”. Mas o anúncio não menciona o valor pedido pelos sauditas.
Seis anos atrás, quando ofertou 55 caças F-5 por 125 milhões de dólares, Riad ainda ofereceu no pacote um par de simuladores, além de suprimentos. Nessa situação, cada aeronave saía por cerca de 2,2 milhões de dólares.
O assunto é discretamente acompanhado pela empresa brasileira Embraer, que possui um kit de atualização para aeronaves F-5, em cooperação com empresas de Israel, de custo estimado em 9 milhões de dólares por avião.
Em 2014 a Força Aérea do Uruguai definiu com o governo da Suíça as linhas gerais de um acordo para a aquisição de dez aeronaves F-5 dos estoques suíços, mas esses entendimentos pararam no final do ano, depois que uma checagem de rotina identificou rachaduras importantes na fuselagem de duas aeronaves do lote.
Os aviões seriam modernizados pela empresa suíça Ruag, e a simples menção da oferta saudita – e de uma outra que ainda se espera seja lançada no mercado este ano pela Força Aérea da Malaísia –, deixam a direção da Ruag irritadíssima.
Células - De acordo com uma fonte da indústria israelense ouvida com exclusividade pelo Poder Aéreo, os jatos sauditas devem ter células com um restante de vida útil importante, favorecidas pelo clima de baixa umidade do Golfo Arábico.
Segundo o mesmo informante, os aviões, possivelmente, operam sistemas básicos para aparelhos militares de capacidade supersônica: de navegação inercial, receptor de alerta radar (RWR), reabastecimento em voo e lançador de despistadores anti-mísseis.
As dúvidas se concentram na capacidade que essas aeronaves têm de portar armamento moderno.
Normalmente elas estarão capacitadas a disparar mísseis AGM-65 Maverick, alguns modelos da família Sidewinder (acredita-se que nas versões AIM-9L e AIM-9M-7) e os vetores de engajamento a curta distância Matra R-550 Magic.
De qualquer forma, nada disso impediria que a indústria israelense habilitasse alguns jatos ao disparo dos mísseis Derby, por exemplo.
Entre 1974 e 1982 a Arábia Saudita adquiriu 75 interceptadores F-5E, 24 treinadores F-F e 10 jatos de reconhecimento RF-5E Tigereye.