Na segunda matéria da série, conheça a história completa do barco cabista.
Filme vai relembrar a maior tragédia da pesca no litoral do estado.
Rebeca Nascimento e Anna Paula Di Cicco
Do G1 Região dos Lagos
Um caso recontado após 72 anos. Mais do que a produção de um longa, o documentário ficcional "O Destino de Changri-lá", é a reconstituição de um fato que marcou a população de Arraial do Cabo, na Região dos Lagos do Rio. Na segunda matéria da série de cinco publicações do G1 que leva o nome do filme, vamos abordar o resgate da história do barco pesqueiro, afundado durante a Segunda Guerra. Um trabalho não tão simples, já que os registros eram imprecisos.
Flávio Cândido, cineasta que idealizou o projeto do longa, explica que as informações mais acessíveis estavam na internet mas que a história dos pescadores e de seus descendentes estava em Arraial do Cabo. Logo no início do projeto, ele encontrou Paulo Silva e Elísio Gomes. Paulo liderou a recuperação dos fatos. "Sem o Paulo Silva, que esteve junto ao projeto todo esse tempo, esse filme não exisitiria. Ele me inundou de documentos e de vontade", conta Flávio. O outro contato foi Elísio Gomes, historiador que desvendou o mistério do naufrágio e pediu a reabertura do processo junto à Marinha.
Um caso recontado após 72 anos. Mais do que a produção de um longa, o documentário ficcional "O Destino de Changri-lá", é a reconstituição de um fato que marcou a população de Arraial do Cabo, na Região dos Lagos do Rio. Na segunda matéria da série de cinco publicações do G1 que leva o nome do filme, vamos abordar o resgate da história do barco pesqueiro, afundado durante a Segunda Guerra. Um trabalho não tão simples, já que os registros eram imprecisos.
Flávio Cândido, cineasta que idealizou o projeto do longa, explica que as informações mais acessíveis estavam na internet mas que a história dos pescadores e de seus descendentes estava em Arraial do Cabo. Logo no início do projeto, ele encontrou Paulo Silva e Elísio Gomes. Paulo liderou a recuperação dos fatos. "Sem o Paulo Silva, que esteve junto ao projeto todo esse tempo, esse filme não exisitiria. Ele me inundou de documentos e de vontade", conta Flávio. O outro contato foi Elísio Gomes, historiador que desvendou o mistério do naufrágio e pediu a reabertura do processo junto à Marinha.
Registro mostra idade de um dos pescadores mortos: apenas 16 anos (Foto: Alessandra Rezende)
Histórias cruzadas
O resgate da história começou quando, há alguns anos, um historiador encontrou informações que se completaram e pediu a reabertura do caso de um pequeno barco desaparecido no litoral fluminense. Elísio Gomes, especialista em naufrágios, descobriu o caso nos anos 1990. Na época, quando ainda era pesquisador autodidata, ele também tinha conhecimento de um submarino que havia afundado uma pequena embarcação não identificada no litoral.
"Pesquisando sobre os anuários do tribunal marítimo achei o processo de Changri-lá, arquivado por falta de provas. Eu cruzei as informações com a história do submarino U-199 e constatei que era a mesma história", conta o pesquisador. Ele explica o possível motivo do caso não ter seguido. "Acredito que, como era uma embarcação pequena, faltou um pouco de interesse do tribunal da Marinha na época. Mas foi feito um inquérito e existiam provas que poderiam ter dado continuidade".
O inquérito pós-guerra dos tripulantes do submarino alemão revelou as provas que faltavam para a conclusão do caso, incerto aos olhos da Marinha. Após ser abatido, 12 homens sobreviveram. Em depoimento eles confessaram o abatimento de "uma embarcação pequena e de carga". "O capitão comandava o maior submarino enviado, de 1.200 toneladas. Eram homens ávidos por fazerem o maior número de vítimas. Não havia nenhuma necessidade de ataque de um barco pesqueiro", explica Elísio Gomes. "Eles assassinaram, foi um crime". O U-199 nunca foi encontrado após seu abatimento.
A família Changri-lá
Descendente dos primeiros portugueses que viveram em Arraial e filho de uma das "viúvas de Changri-lá", Paulo Silva conta com pesar o que foi um fator para desencadear o acidente: um decreto que fez dos pescadores auxiliares das forças navais. O grupo deveria registrar e notificar sobre tudo que acontecesse no litoral. "Eles circulavam livremente no período de guerra e, de acordo com o decreto, deviam ajudar na defesa das águas brasileiras. Mas com o que? Remos?", ele questiona, indignado. Paulo explica que houve uma grande proximidade entre o barco e o submarino. "Foram rajadas de metralhadoras e cinco tiros de canhões (que abateram o barco)".
Silva, que tinha contato íntimo com as famílias, foi quem apresentou a a história em detalhes para o cineasta. "Levei o Flávio para conhecer filhos de pescadores, que atestaram que os pais pescaram lado a lado com os submarinos a vista". Ele fala também da situação das famílias das vítimas. "Foram seis famílias cabistas afetadas. A esposa e mãe de duas vítimas morreu em estado vegetativo, ficou louca após saber do que tinha acontecido". O filho tinha apenas 16 anos na época.
Sem comunicações, o destino do barco não podia ser conhecido. Sem notícias de Changri-lá, o dono da embarcação começou a ficar preocupado. "Ele ia todos os dias saber sobre a volta. Outros barcos retornaram e os familiares ficaram apreensivos". Foi ele que fez o boletim de ocorrência que originou o registro do caso na justiça, até mesmo porque apenas poucos deles tinham documentos de nascimento", explica Paulo. "Minha mãe foi consultar uma vidente, que disse que ela e todas as outras esposas podiam vestir luto". Em menos de 15 dias depois um pedaço do barco chegou à orla", conta.
O senhor de 64 anos conta com pesar que todas as viúvas, exceto sua mãe, morreram antes de saber o que realmente havia acontecido com seus esposos, já que o processo só foi reativado em 2001. "Em 2004 a Marinha fez uma grande homenagem e elevou os pescadores a título de heróis de guerra", ele conta. Mesmo com esse reconhecimento, ainda existe luta para que os descendentes recebam algum tipo de indenização.