Moradores do bairro, familiares e amigos dos militares que possuíam carteirinha terão permissão reduzida para seis meses
Joana Dale | O Globo
RIO — Localizada entre o Pão de Açúcar e o Morro Cara de Cão, a Praia de Fora, na Urca, é um paraíso conhecido apenas por seletos cariocas. E justamente quando o Rio está festejando seus 450 anos, a faixa de areia onde Estácio de Sá, o fundador da cidade, pisou pela primeira vez em terras cariocas passou a ter acesso ainda mais restrito. Em janeiro, notícias davam conta de que o Exército proibiria o banho de mar de civis na praia da Fortaleza de São João. Foi um ti-ti-ti danado nos grupos do bairro em redes sociais e nas rodinhas ao longo da mureta.
Visão aérea da Praia de Fora, na entrada da Baía de Guanabara - Custodio Coimbra / Agência O Globo
Após os rumores, moradores da Urca, familiares e amigos dos militares que possuíam carteirinha de acesso à Praia de Fora foram informados de que a permissão seria reduzida de um ano para seis meses, em trimestres alternados. E as novas regras não pararam por aí: ninguém mais — além dos 2.310 titulares, os seus 3.201 dependentes e os 564 pescadores cadastrados — terá a chance de conquistar o passe livre. Pelo menos até segunda ordem.
— No início do ano, soubemos que a praia poderia ser fechada ou aberta de vez. Houve um certo inconformismo, pois a carteirinha é uma tradição no bairro, passada de pai para filho há gerações — lembra Valéria Grynberg, presidente da Associação de Moradores da Urca (Amour). — Já a nova determinação, que reduz em 50% o acesso ao longo do ano, de um modo geral, está sendo respeitada pelos moradores. Poderia ser pior, e quem renovou a carteirinha até dezembro de 2014 ainda tem acesso integral durante este ano.
IMBRÓGLIO JUDICIAL EM NITERÓI
As novas regras foram recomendadas pela Advocacia Geral da União (AGU) após o Ministério Público Federal pedir a anulação do benefício de um grupo que tinha a permissão de frequentar a praia do Forte do Rio Branco, em Niterói — exatamente no mesmo esquema de controle por carteirinhas da Praia de Fora. Instaurado pelo procurador da República Wanderley Sanan Dantas, em dezembro de 2013, o inquérito questionava alguns pontos: se o espaço é considerado uma área de segurança, o acesso de civis, por mais restrito que seja, não poderia comprometer a defesa? Ou, a partir do momento que a área não é mais considerada de segurança, por que não abrir a todos? Antes mesmo do fim do processo, o forte de Niterói adotou o sistema trimestral.
Indagado sobre a proibição da entrada a reles mortais sem carteirinha, o comando da Fortaleza de São João, que por séculos guardou a estratégica entrada da Baía de Guanabara, explica, por nota: “Desde a fundação da cidade, este local sempre abrigou uma instalação militar que visava proteger a Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro contra possíveis invasores. Desde então, o acesso se mantém restrito por medidas de segurança e controle.”
E convida cariocas e visitantes da cidade a conheceram as instalações — mas sem banho de mar, é bom deixar claro: “O acesso ao sítio histórico é aberto à visitação pública, mediante agendamento prévio com dois dias de antecedência, pelo telefone 2586-2291 ou pelo email sitiohistorico.fsj@gmail.com. A visitação é gratuita e ocorre de terça-feira a domingo, das 9h às 16h.” O tour inclui visitas ao Museu do Desporto, ao Ginásio Leite de Castro, ao Portão Histórico da Fortaleza e à Praça da Fundação da Cidade, ladeada por amendoeiras e com vista para a Praia de Fora. No final de fevereiro, o livro de visitação do museu registrava menos de cem assinaturas.
— Realmente, o carioca se interessa pouco em conhecer a própria cidade. Os nossos principais visitantes são turmas de escolas — observa o coronel Thadeu Marques de Macedo, diretor do Museu do Desporto.
Numa sexta-feira quente de verão, quem passeava pela Praça da Fundação podia ver jovens de sunga praticando cooper, senhoras de maiô caminhando à beira d’água, crianças construindo castelinhos de areia, casais apaixonados fazendo selfies. Eram menos de 50 pessoas. A poucos metros dali, a Praia da Urca estava lotada, mesmo imprópria para o banho. As condições de balneabilidade da Praia de Fora, aliás, não constam dos boletins do Instituto Estadual do Ambiente (Inea).
Aos sábados e domingos, ela costuma ficar bem mais cheia, a ponto de os seus privilegiados frequentadores terem que chegar cedo para garantir um lugar ao sol. Quando o estacionamento — com capacidade para 180 veículos — lota, até quem tem carteirinha é barrado no portão do forte.
Para frequentar a praia da alta patente, agora, os titulares da carteirinha pagam R$ 100 por trimestre mais R$ 50 para cada dependente — antes, o valor da anuidade era R$ 400. A verba é usada na manutenção da praia. A limpeza, por exemplo, é realizada por uma empresa terceirizada.
Vendedores de mate ou biscoito de polvilho não podem circular pelas areias. O jeito é levar comes e bebes num isopor ou consumir no único quiosque, que vende água a R$ 2, cerveja a R$ 4 e coco a R$ 5.
— É uma praia reservada e segura. Posso ir nadar e deixar as minhas coisas na barraca sem medo de ser roubado — afirma o militar Eduardo Barros, de 36 anos, enquanto comia uma ameixa levada na bolsa térmica.
— No início do ano, soubemos que a praia poderia ser fechada ou aberta de vez. Houve um certo inconformismo, pois a carteirinha é uma tradição no bairro, passada de pai para filho há gerações — lembra Valéria Grynberg, presidente da Associação de Moradores da Urca (Amour). — Já a nova determinação, que reduz em 50% o acesso ao longo do ano, de um modo geral, está sendo respeitada pelos moradores. Poderia ser pior, e quem renovou a carteirinha até dezembro de 2014 ainda tem acesso integral durante este ano.
IMBRÓGLIO JUDICIAL EM NITERÓI
As novas regras foram recomendadas pela Advocacia Geral da União (AGU) após o Ministério Público Federal pedir a anulação do benefício de um grupo que tinha a permissão de frequentar a praia do Forte do Rio Branco, em Niterói — exatamente no mesmo esquema de controle por carteirinhas da Praia de Fora. Instaurado pelo procurador da República Wanderley Sanan Dantas, em dezembro de 2013, o inquérito questionava alguns pontos: se o espaço é considerado uma área de segurança, o acesso de civis, por mais restrito que seja, não poderia comprometer a defesa? Ou, a partir do momento que a área não é mais considerada de segurança, por que não abrir a todos? Antes mesmo do fim do processo, o forte de Niterói adotou o sistema trimestral.
Indagado sobre a proibição da entrada a reles mortais sem carteirinha, o comando da Fortaleza de São João, que por séculos guardou a estratégica entrada da Baía de Guanabara, explica, por nota: “Desde a fundação da cidade, este local sempre abrigou uma instalação militar que visava proteger a Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro contra possíveis invasores. Desde então, o acesso se mantém restrito por medidas de segurança e controle.”
E convida cariocas e visitantes da cidade a conheceram as instalações — mas sem banho de mar, é bom deixar claro: “O acesso ao sítio histórico é aberto à visitação pública, mediante agendamento prévio com dois dias de antecedência, pelo telefone 2586-2291 ou pelo email sitiohistorico.fsj@gmail.com. A visitação é gratuita e ocorre de terça-feira a domingo, das 9h às 16h.” O tour inclui visitas ao Museu do Desporto, ao Ginásio Leite de Castro, ao Portão Histórico da Fortaleza e à Praça da Fundação da Cidade, ladeada por amendoeiras e com vista para a Praia de Fora. No final de fevereiro, o livro de visitação do museu registrava menos de cem assinaturas.
— Realmente, o carioca se interessa pouco em conhecer a própria cidade. Os nossos principais visitantes são turmas de escolas — observa o coronel Thadeu Marques de Macedo, diretor do Museu do Desporto.
Numa sexta-feira quente de verão, quem passeava pela Praça da Fundação podia ver jovens de sunga praticando cooper, senhoras de maiô caminhando à beira d’água, crianças construindo castelinhos de areia, casais apaixonados fazendo selfies. Eram menos de 50 pessoas. A poucos metros dali, a Praia da Urca estava lotada, mesmo imprópria para o banho. As condições de balneabilidade da Praia de Fora, aliás, não constam dos boletins do Instituto Estadual do Ambiente (Inea).
Aos sábados e domingos, ela costuma ficar bem mais cheia, a ponto de os seus privilegiados frequentadores terem que chegar cedo para garantir um lugar ao sol. Quando o estacionamento — com capacidade para 180 veículos — lota, até quem tem carteirinha é barrado no portão do forte.
Para frequentar a praia da alta patente, agora, os titulares da carteirinha pagam R$ 100 por trimestre mais R$ 50 para cada dependente — antes, o valor da anuidade era R$ 400. A verba é usada na manutenção da praia. A limpeza, por exemplo, é realizada por uma empresa terceirizada.
Vendedores de mate ou biscoito de polvilho não podem circular pelas areias. O jeito é levar comes e bebes num isopor ou consumir no único quiosque, que vende água a R$ 2, cerveja a R$ 4 e coco a R$ 5.
— É uma praia reservada e segura. Posso ir nadar e deixar as minhas coisas na barraca sem medo de ser roubado — afirma o militar Eduardo Barros, de 36 anos, enquanto comia uma ameixa levada na bolsa térmica.
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