Aprovação de emenda sobre status especial de Donbass por parlamento ucraniano deveria ser primeiro passo para mediação política do conflito. Segundo governo russo, medida contradiz os acordos de paz de Minsk, que poderiam ser seguidos por Kiev sob pressão de Paris e Berlim.
Aleksêi Timofeitchev | Gazeta Russa
O ministro dos Negócios Exteriores da Rússia, Serguêi Lavrov, acusou a Ucrânia de cometer uma "violação gritante" dos acordos de Minsk e pediu que os líderes da Alemanha e da França criem com Kiev um esforço tripartite.
"Talvez estejamos ainda mais longe de realizar os acordos de Minsk do que estávamos há alguns dias", declarou o porta-voz do presidente russo, Dmítri Peskov, sobre a resolução da Rada Suprema (o parlamento ucraniano).
Na terça-feira (17), a Rada aprovou uma emenda com uma lista de áreas de Donbass onde deve funcionar uma ordem especial de autogestão. Essa ordem especial é elemento-chave para a resolução política da situação no âmbito do processo de paz de Minsk, já que deverá permitir o início do diálogo com os rebeldes.
Apesar disso, de acordo com a emenda aprovada, a nova ordem ficará suspensa por tempo indeterminado até a realização de eleições regionais que sigam a lei ucraniana.
A Rada também aprovou uma resolução segundo a qual as áreas revoltosas são intituladas "territórios temporariamente ocupados", e pediu à ONU e à União Europeia que introduzam ali forças de paz.
Sem consulta
Lavrov ressaltou que, segundo os acordos de Minsk, as partes inicialmente devem discutir "a modalidade de realização das eleições", já que Kiev não coordenou nada com os separatistas.
Segundo o chanceler russo, ao intitular como "ocupado" o território de Donbass, Kiev anunciou a necessidade de limpar essas áreas ao invés de introduzir a lei sobre seu status especial prevista pelos acordos de Minsk.
"Subentende-se da resolução da Rada Suprema que a lei sobre o status especial somente terá força legal quanto esses territórios forem administrados por aqueles considerados admissíveis por Kiev", disse Lavrov.
Analistas políticos russos consideram razoável a avaliação de Moscou.
"Esse ponto [os acordos de Minsk] não foi executado: não houve qualquer consulta [com os separatistas], foram aprovadas emendas que não são aceitáveis para um dos lados", disse à Gazeta Russa o chefe do Departamento Europeu de Segurança da Academia Russa de Ciências, Dmítri Danilov.
"Kiev também deixou de fora da lista uma série de territórios que no momento estão sob controle dos separatistas", ressalta Mikhail Aleksandrov, chefe do Centro de Pesquisas Político-Militares do Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscou (MGIMO).
"Berlim e Paris devem tomar para si a parcela de responsabilidade que declararam ao assinar os acordos de Minsk", acrescenta Danilov.