O bloco de granito das Forças Armadas do regime bolivariano nunca foi "único e indivisível" como gostava de dizer o ex-presidente Hugo Chávez e repete, hoje, seu sucessor, Nicolás Maduro. A ponta quebrada, a Força Aérea, jamais aceitou as regras populistas impostas pelo governo. A aviação militar da Venezuela, como em quase todos os países, era formada até 2002 por estratos da classe média, com boa formação acadêmica e certa sofisticação intelectual - imposições da arma, essencialmente tecnológica. Chávez, após a tentativa de golpe sofrida em abril daquele ano, iniciou um acelerado processo de promoções de quadros não qualificados, mas politicamente alinhados com ele. Um desastre.
A primeira reação, em 2002, foi um êxodo de bem treinados oficiais-aviadores em direção às empresas aéreas comerciais e corporativas. A qualidade do contingente começou a cair e a operacionalidade dos grupamentos de combate ficou seriamente ameaçada. Chávez lançou, então, um ambicioso programa de reequipamento - destinado a transformar o país "na única potência militar regional" - e anunciou compras bilionárias de caças pesados, aviões de ataque ao solo e helicópteros artilhados. O Brasil apareceu como fornecedor de jatos AMX e turboélices do modelo Super Tucano. A operação foi vetada pelo governo dos Estados Unidos, fornecedor de componentes eletrônicos de ambos os modelos. Em Brasília, o presidente da época, Luiz Inácio Lula da Silva, lamentou fortemente a interferência, embora houvesse claro sentimento de alívio entre os diplomatas do Itamaraty.
As compras da Defesa venezuelana passaram a ser feitas na Rússia. Ao longo do tempo os problemas cresceram. A aquisição de um lote de 24 supersônicos Su-30 implicou em gastos de US$ 1,6 bilhão. Recebidos a partir de 2006, os caças nunca puderam atuar acima do limite crítico de 45% da disponibilidade - apenas 8 ou 10 aeronaves costumam estar prontas para uso. Há falta de peças e componentes. Os jatos não participaram de exercícios fora dos limites venezuelanos. Sem dinheiro, a Aeronáutica está realizando só 45 horas anuais de voos de instrução. A média mundial, excluídos EUA, Rússia e China, é de 158 horas. A tropa soma pouco mais de 11 mil homens e mulheres - ao menos 30% abaixo do necessário. A maior parte das missões é cumprida por velhos modelos F-16A americanos, mantidos no ar graças à canibalização de sistemas entre as unidades. Nesse ambiente de crise, Maduro adquiriu, e está pagando, várias baterias de mísseis antiaéreos russos S-300.