com agências internacionais - de Munique
A chanceler alemã, Angela Merkel, avisou neste sábado que enviar armas para ajudar a Ucrânia a combater os separatistas pró-Rússia não resolveria a crise no país, atraindo uma resposta crítica dos EUA, que acusam Berlim de virar as costas para um aliado em apuros. A discussão áspera em uma conferência de segurança em Munique demonstrou a fragilidade do consenso transatlântico sobre como confrontar o presidente russo, Vladimir Putin, sobre o conflito no leste da Ucrânia, no qual já morreram mais de 5 mil pessoas.
A anexação russa da península da Crimeia, em março do ano passado, e evidências de que o país estaria apoiando as forças separatistas no leste do país, o que é negado pelo Kremlin, levaram as relações de Moscou com o Ocidente a um dos piores momentos desde o fim da Guerra Fria.
Uma recente ofensiva rebelde desencadeou uma série de intensas negociações diplomáticas, com Merkel e o presidente francês, François Hollande, viajando a Moscou para tentar convencer Putin a negociar um acordo de paz.
Mas autoridades europeias dizem que o líder russo tem poucos incentivos para negociar agora, e prefere sentar e assistir os separatistas ganharem mais território na Ucrânia, que desrespeitou um acordo de cessar fogo anterior, firmado em setembro em Minsk, capital de Belarus.
Porta-voz do exército da Ucrânia disse no sábado que os separatistas pró-Rússia haviam aumentado os ataques às forças do governo, e pareciam estar reunindo forças para novas ofensivas na importante cidade ferroviária Debaltseve e na costeira Mariupol.
A líder alemã declarou em Munique, depois de retornar de Moscou no meio da noite, que era incerta a possibilidade de sucesso do plano de paz franco-alemão apresentado a Kiev e Moscou nesta semana. Mas ela rejeitou diretamente a ideia de enviar armas para Kiev, considerada pelo presidente norte-americano, Barack Obama.
– Eu entendo o debate, mas acredito que mais armas não levarão ao progresso que a Ucrânia precisa. Eu realmente duvido. O problema é que eu não consigo visualizar nenhuma situação na qual uma Ucrânia mais armada convenceria o presidente Putin de que ele poderia perder militarmente – disse Merkel, que está liderando uma iniciativa ocidental para resolver a crise através de negociações.
O ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, também em Munique, disse que havia “um momento bom para otimismo” de que as negociações entre Merkel, Putin e Hollande possam chegar a um acordo.
Mas Lavrov também cutucou o Ocidente acusando a Europa e os Estados Unidos de apoiarem um golpe de Estado contra o líder deposto Viktor Yanukovich, um aliado de Moscou, um ano atrás, e virando as costas para os nacionalistas que ele dizia ter intenções de promover uma limpeza étnica no leste da Ucrânia.
– Há apelos crescentes no Ocidente para suportar a política de militarização de Kiev, encher a Ucrânia de armas letais e trazê-la para a Otan – disse Lavrov.
Falando após Merkel, o senador dos EUA Lyndsey Graham, um veterano republicano, elogiou a chanceler por seu engajamento na crise, mas disse que era hora de ela acordar para a realidade do que ele chamou de agressões de Moscou.
– No final das contas, para os nossos amigos europeus, isso não está funcionando… Levantem-se para o que claramente é uma mentira e um perigo – disse Graham.
Ele acusou Merkel de virar as costas para uma democracia em perigo ao rejeitar o pedido de Kiev por armas.
– Isso é exatamente o que você está fazendo – disse.
Mais armas
Na esteira dos argumentos de Graham, o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também disse neste sábado que o governo norte-americano busca uma solução pacífica para o conflito na Ucrânia, mas acrescentou que Kiev tem o direito de se defender da Rússia, e que os EUA podem fornecer meios para isso.
– Eu e o presidente concordamos que precisamos fazer todos os esforços para salvar vidas e resolver o conflito pacificamente. Como a chanceler Merkel disse hoje, a tentativa vale a pena – disse Biden em uma conferência sobre segurança em Munique.
Mas ele acrescentou:
– Muitas vezes o presidente Putin prometeu a paz e entregou tanques, tropas e armas. Então vamos continuar a ajudar a Ucrânia com assistência de segurança, não para encorajar a guerra, mas para permitir que a Ucrânia se defenda. Para ser claro, nós não acreditamos que exista uma solução militar na Ucrânia. Mas, para ser igualmente claro, não acreditamos que a Rússia esteja certa de fazer o que está fazendo. Acreditamos que devemos buscar uma paz honrada. Também acreditamos que o povo da Ucrânia tem o direito de se defender – conclui Biden.