Um dos resultados mais marcantes do ano que está findando foi o reforço inesperado das posições da organização terrorista Estado Islâmico (EI) que entrou em guerra contra Bashar Assad ainda em 2013.
Yuri Mavashev | Voz da Rússia
Mais tarde, se tornou evidente que ela se distingue de todas organizações terroristas tanto do ponto de vista das metas pretendidas, como em termos metodológicos para alcançar os objetivos traçados. Os combatentes do EI se destacam pela crueldade em relação aos prisioneiros de guerra e à população civil. Em Junho de 2014, o EI terá proclamado o Califado Islâmico no território da Síria e do Iraque.
Enfim, o que é o Estado Islâmico? Que perspectivas tem? Que passos poderá a comunidade mundial dar para combatê-lo?
© Colagem: Voz da Rússia
O cientista político turco, especialista em conflitos étnicos e presidente do Instituto de Perspectivas Estratégicas, Yusuf Cinar, comentou em uma entrevista à rádio Sputnik:
“Tenho a certeza que o EI pôs termo às aspirações daqueles países que possam ter sonhado com as ideias da Primavera Árabe. O EI serve os interesses dos países muçulmanos não democráticos – as monarquias árabes. Porque, apesar da natureza democrática das mudanças inevitáveis ocorridas no Oriente Médio em 2011, após o surgimento do EI, tais países como a Arábia Saudita iniciaram a luta contra esse movimento extremista.
Também se pode dizer que o Estado Islâmico veio contribuir para a popularização do presidente Bashar Assad, ajudando-o a se manter no poder. Deste modo, podemos ver que o EI não é somente uma nova entidade terrorista. O EI se virou a causa de mudanças na estratégia dos principais “jogadores” globais e regionais.
Quanto ao seu futuro e métodos de combate ao EI, posso realçar ser muito grande a hipótese de o EI poder permanecer no território do Iraque e da Síria. Quanto maior for o nível de radicalismo, tanto maior será a probabilidade de que, para além do EI, possam surgir na região novas organizações terroristas com a mediação, digamos, da Al-Qaeda. Por isso, o EI não irá desaparecer.
Se a comunidade mundial conseguir privar o EI do apoio real no meio da população local, marginalizando esta organização a nível global e regional, será possível alcançar sucesso. Por outro lado, se os problemas sociais não forem resolvidos, a estabilidade regional será novamente posta em causa”.
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Eis o que pensa a esse respeito mais um interlocutor nosso, Ahmed Yarlykapov, colaborador sénior do Centro de Problemas do Cáucaso e Segurança Regional, especialista em religião maometana:
“O EI é um projeto que se fragmentou da Al-Qaeda. É que, em 2013, um dos líderes dos extremistas, al-Baghdadi, proclamou o califado, se desviando da linha geral da Al-Qaeda e apresentando um projeto de sua própria lavra, visando a fundação de um novo Estado islâmico. Por isso, o surgimento do EI em 2013 terá sido encarado por círculos islâmicos sob prismas diferentes. A Al-Qaeda e muitos outros jihadistas se pronunciaram contra esse projeto.
Mas esse, apesar de tudo, se tornou muito aliciante, dado que o EI tinha ocupado algumas zonas e assegurado um financiamento contínuo à custa de petróleo. O Estado Islâmico organizou uma máquina estatal devido à contratação de militares sunitas, antigos oficiais do Exército de Saddam Hussein. Essa “aliança” entre os militares e os extremistas se tornou mutuamente vantajosa. O EI necessita de experiência dos oficiais. Por isso, o EI está longe de ser um simples grupo de bandoleiros, uma quadrilha qualquer. Não, o EI passou a ser uma estrutura política real e esse fato deve ser encarado e analisado a sério.
Se o problema for examinado no contexto da região do Oriente Médio, teremos de aceitar o fato de o mapa político atual não corresponder à realidade. Na realidade, já não existem nem o Iraque, nem a Síria por terem sido fundados artificialmente na época colonial. É pouco provável que suas fronteiras não se alterem.
À luz disso, a comunidade internacional deverá agir com muita cautela e ponderação na solução do problema do Estado Islâmico”.