O semanário alemão Die Zeit qualificou como uma “guerra não declarada” o uso pelo Pentágono de veículos não tripulados no combate aos “terroristas”.
Oleg Severguin | Voz da Rússia
Os drones têm sido utilizados no Afeganistão, no Paquistão e em uma série de outros países. Para além de aspectos dúbios desse método de “assalto de tocaia”, na sequência do seu emprego no combate ao terrorismo foram mortas milhares de pessoas inocentes.
O tema voltou a ser focado após a publicação pelo periódico The Guardian dos resultados de uma investigação feita pela Reprieve, organização da defesa de direitos humanos com a sede em Londres, que se manifesta pela abolição da pena de morte e prática de torturas. A pesquisa tinha por objectivo analisar os efeitos do emprego de drones contra presumíveis terroristas.
O semanário Die Zeit caracteriza os ataques aéreos como uma “execução sem culpa formada”. Tais atos não proporcionam aos condenados à morte nenhuma possibilidade de se proteger e sobreviver.
Também aqueles que se consideram “perdas colaterais” são privados de tal possibilidade. Segundo escreve o The Guardian, os peritos da Reprieve analisaram a ação de drones norte-americanos no Paquistão e no Iêmen. No Paquistão se colocava a tarefa de neutralizar, dessa forma, 24 pessoas inscritas na lista especial de terroristas, no Iêmen, 17.
Conforme adianta a mesma fonte, para aniquilar um só terrorista era preciso alvejá-lo, por meio de drones, mais de uma vez. Em resultado disso, até ao final de novembro, em ambos os países, foram liquidados 34 terroristas do total de 41 condenados à morte. Em paralelo, os golpes aéreos ceifaram a vida de 1147 pessoas, inclusive 150 crianças.
A “eficiência” dessa “arma de alta precisão” tem sido comprovada por um simples cálculo aritmético: 33 vítimas por cada suspeito de terrorismo.
Entretanto, os números citados constituem uma pequena parte da guerra travada mediante os drones. A CIA e a NSA, que a protagonizam, bem como, em parte, o Pentágono, têm enviado seus “guerreiros silenciosos” não só para “caçar” e matar os “criminosos”. O “castigo divino” vai abrangendo aqueles que não fizeram nada de mal, mas, por essa mesma razão, parecem causar suspeitas.
Dizem que tais pessoas podem chefiar “células terroristas”. Segundo o centro analítico Council on Foreign Relations, fora do Afeganistão e do Iraque, tinham sido efetuados 500 ataques de mísseis a partir de drones que, ao todo, aniquilaram 3.674 pessoas.
Convém perguntar: será que todos se empenharam em hediondos atos terroristas? O jornal alemão Neues Deutschland citou dados, tornados públicos pelo Bureau of Investigative Journalism, (TBIJ) – dos 2.500 suspeitos que foram mortos no Afeganistão e no Paquistão, apenas 12% podem ser considerados extremistas e apenas 4% - militantes da Al-Qaeda. A mesma fonte observa que o “princípio de identificação” de possíveis vítimas de drones é muito simples: se um morto usava barba e cabelo comprido, teria sido terrorista ou extremista. Parece que esse critério pode ser aplicado em relação a todos os habitantes do Afeganistão de sexo masculino.
Após a assinatura de um acordo de segurança entre Washington e Kabul, que deu luz verde à missão da OTAN em Hindu Kush, Barack Obama rubricou uma portaria secreta, segundo a qual o contingente militar dos EUA no Afeganistão não se limitará ao cumprimento de tarefas de instrução, assessoria e consultas. O documento permite que os soldados dos EUA participem de operações militares contra Al-Qaeda, o Taliban e outros grupos terroristas. A Casa Branca também tomou a decisão de apoiar as tropas afegãs e utilizar para esse fim os aviões de combate e veículos não tripulados.
O The Guardian constata ainda que Obama faltou à promessa de limitar o uso de drones e de acabar com o ambiente de secretismo à sua volta. A informação fornecida a esse respeito por Washington contém mais perguntas do que respostas. Será que essas respostas existem?