Kiev fez o balanço do período de cessar-fogo com as milícias do Donbass. As forças armadas foram reagrupadas, o funcionamento das empresas da indústria militar foi otimizada e foi concluída mais uma vaga de mobilizações.
Nina Antakolskaya | Voz da Rússia
Na prática, apenas ainda não foi revelada a data da ofensiva contra o leste. Mas as autoridades de Kiev não deixam margem para dúvidas que a Ucrânia se prepara a bom ritmo para a continuação da guerra.
Já passou um mês desde o início do cessar-fogo na Ucrânia e as autoridades de Kiev fazem o balanço do que fizeram entretanto. Na terça-feira o conselheiro do presidente da Ucrânia Yuri Lutsenko explicou em direto na televisão ucraniana que foram entretanto deslocados centenas de blindados e milhares de militares bem treinados para a linha da frente.
Na segunda-feira o porta-voz do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia Andrei Lysenko relatou que os equipamentos danificados tinham sido reparados, as forças do exército foram reagrupadas e foi efetuada uma grande operação de reconhecimento.
Um pouco antes, o presidente Piotr Poroshenko anunciava perante o povo que a economia ucraniana foi adaptada à situação de guerra e que a trégua estava sendo aproveitada para reforçar as estruturas defensivas e para o aumento das capacidades de combate do exército.
Contudo, desde o início que poucos tinham ilusões relativamente ao uso que Kiev iria fazer do cessar-fogo. Mas habitualmente essas coisas são feitas em segredo. Mas neste caso as personalidades mais importantes apregoam sua violação do memorando aprovado pela OSCE, pelo secretário-geral da ONU e pelos mediadores internacionais, refere o analista político Alexei Mukhin:
“Se cumpriram os piores receios e suspeitas dos milicianos de Donbass. As autoridades de Kiev aproveitaram abertamente a trégua não para estabelecer um diálogo político, mas para reagrupar e concentrar suas forças armadas.
É evidente que essa prática deveria alertar a União Europeia, a qual está na realidade amarrada a Kiev por determinados documentos e para a qual é transferida parte da responsabilidade pelos atos de Kiev. As futuras ações da União Europeia terão de ser bastante mais decididas do que foram até agora.”
Realmente, os recuos evidentes de Kiev estão provocando gradualmente o descontentamento de Bruxelas. A Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), a qual foi encarregada de coordenar o processo negocial entre Kiev e o Donbass e supervisionar o cumprimento dos acordos alcançados, descobriu há dias que os militares ucranianos mentiram.
Os militares transmitiram aos observadores da OSCE dados, segundo os quais os milicianos teriam aberto fogo contra o posto de controle perto de Mariupol e que os militares tiveram de ripostar. Uma situação idêntica foi descrita por um oficial ucraniano em seu relatório sobre a situação perto da cidade de Debaltsevo, no distrito de Donetsk. Contudo, os colaboradores da missão da OSCE, que se encontravam nesses locais, desmentiram as informações dos militares ucranianos.
Também a morte de um voluntário da Cruz Vermelha Internacional, o suíço Laurent Etienne du Pasquier, de 38 anos, provocou um grande impacto. Ele foi morto a 2 de outubro durante o bombardeio pelo exército ucraniano do escritório dessa missão humanitária no centro de Donetsk.
Contudo, o caso não provocou mais do que uma condenação pública. Não houve explicações claras por parte das autoridades de Kiev sobre as circunstâncias da morte do representante da Cruz Vermelha, nem foram dados passos reais para a descoberta e punição dos culpados.
Além disso, como afirmou o Ministério das Relações Exteriores da Rússia, uma série de estruturas internacionais, incluindo a União Europeia, nos seus comentários fecham pudicamente os olhos ao fato de o escritório da Cruz Vermelha Internacional se encontrar em território controlado pelas milícias e ter sido bombardeado precisamente do lado onde se encontravam os militares ucranianos.
Isso corrói o prestígio das organizações que pretendem ser objetivas e independentes e dá a Kiev a sensação de impunidade pelos seus crimes.