O Japão e os EUA manterão em Tóquio, no dia 8 de outubro, consultas visando o reforço da cooperação militar. Espera-se que até ao fim do ano corrente, as forças de defesa nipônicas obtenham um direito de apoiar ações das tropas norte-americanas em qualquer lugar do mundo, podendo tal auxílio vir a ser prestado em casos de “ameaça direta à segurança do Japão”.
Nina Antakolskaya | Voz da Rússia
Como se sabe, as forças de autodefesa do Japão receberam o direito de proceder a ações coletivas em caso de agressão militar. Agora esse direito poderá ser alargado. Para o efeito, será necessário levantar os obstáculos para o emprego de contingentes militares nipônicos no estrangeiro que façam parte das unidades dos EUA. Isto põe em causa os resultados da Segunda Guerra Mundial, já que, ao antigo agressor derrotado está rigorosamente proibido usar seus soldados fora do país.
Esta norma está igualmente consignada na Constituição, podendo vir a ser revista, sustenta o perito do Instituto de Oriente Médio, Viktor Pavlyatenko:
“Tóquio está tentando fazer uma interpretação da Lei Fundamental que parece ser uma renúncia aos resultados da Segunda Guerra Mundial. Tal negação não tem sido feita de forma patente ou formal, mas, indiretamente, leva à revisão ou tem-na pressuposto”.
As negociações serão conduzidas pelo secretário de Estado adjunto para os assuntos da Ásia Oriental e a região do Oceano Pacífico, Daniel Russell e o assessor do Ministro da Defesa para as questões de segurança, David Shear. Na segunda e na terça-feira eles se deslocarão a Seul para consultas sobre essa temática. Ao mesmo tempo, se pode dizer que Washington põe seu aliado asiático numa situação dúbia.
Na Coreia do Sul vai crescendo uma vaga de descontentamento e protestos contra as tendências militaristas no rumo político de Tóquio, incluindo as tentativas no sentido de se distanciar dos compromissos atribuídos ao regime militarista por países vencedores da Segunda Guerra.
O levantamento das restrições, outrora impostas às forças de defesa nipônicas, poderá provocar uma nova espiral da tensão nas suas relações com a China, considera o perito russo, Viktor Pavlyatenko a adianta:
“A reação da China será, com certeza, negativa. No entender das autoridades chinesas, a nova interpretação da Constituição do Japão constitui uma tentativa de se distanciar e de rever os resultados da Segunda Guerra Mundial, uma espécie de fortalecimento da vertente militarista na política externa nipónica.
Entretanto, as medidas tomadas pela China a fim de reforçar seu potencial militar constituem uma resposta às ações do Japão empreendidas nesse sentido. Não se trata de uma reposta direta, mas, se calhar, indireta para deixar claro que, em algumas ocasiões, a China sabe e terá de reagir a ações provocatórias do Japão”.
As provocações do género advêm ainda dos EUA. Washington conhece bem a reação negativa de Pequim a tudo que se relacione ao ressurgimento do militarismo japonês. No entanto, as provocações não cessam, impelindo o Japão para uma política revisionista no período pós-guerra.
Claro que, na realidade, os EUA não necessitam tanto de um apoio nipónico na esfera militar em uma ou noutra parte do mundo. Mas muito mais necessitam de consolidar a sua presença militar na região asiática, inclusive nas ilhas nipónicas. Dai a táctica de provocar cisões e conflitos entre a China e o Japão.