A guerra na Ucrânia pode ser travada. O plano do presidente da Rússia, Vladimir Putin, abre uma oportunidade para isso.
Nina Antakolskaya | Voz da Rússia
O presidente da Rússia propõe travar as ações ofensivas ativas de ambas as partes nas direções de Donetsk e Lugansk e afastar as unidades armadas das estruturas militares de Kiev para uma distância que torne impossível bombardeamentos de artilharia de cidades e localidades.
O seguinte passo é a troca de prisioneiros segundo a fórmula “todos por todos”, a abertura de corredores humanitários nas zonas de cessar de fogo, a reconstrução das infraestruturas e sistemas vitais para a população destruídas.
Finalmente, a organização de uma monitorização internacional do respeito pelo regime de cessar de fogo.
É proposta uma forma de solução operativa e rápida de um problema concreto: o fim das ações militares. Não se trata da receita do tratamento do doente, mas uma proposta de medidas capazes de travar o mais rapidamente possível o derramamento de sangue. Qual é a probabilidade de que o “pronto-socorro”, proposto de Moscou às partes do conflito, seja utilizado? Konstantin Zatulin, diretor do Instituto dos Países da CEI, partilhou a sua opinião com a Voz da Rússia:
“Na Ucrânia há forças radicais que estão prontas a combater até ao último ucraniano. Claro que, para eles, tudo o que parte de Putin, da Rússia, é inaceitável. Mesmo se tratar de ajuda humanitária, que é o que se propõe no plano de Putin. Mesmo que seja a proposta de travar a ofensiva dos milicianos.
Por outro lado, claro que, em geral, não só a situação militar, mas também económica da Ucrânia deteriora-se. Ela está no limiar da fome e do frio de inverno. Poroshenko deve compreender que isso é muito perigoso para ele pessoalmente. Por isso, há fortes possibilidades de que o plano de Putin seja avaliado de alguma forma em Kiev”.
Serguei Kunitsyn, conselheiro do presidente da Ucrânia, declarou que o plano de Putin, em certa medida, congela o conflito. Mas Kiev não tem outra saída: o país está exausto tanto do ponto de vista material, como financeiro e militar. Ela precisa respirar.
A primeira reação de Washington ao plano de Putin limitou-se à sua substituição pela tese americana sobre as tropas russas na Ucrânia. Jen Psaki, representante do Departamento de Estado dos EUA, declarou que no plano não se aborda o tema fulcral: o que fazer com a participação russa na invasão da Ucrânia. Entretanto, Moscou refutou várias vezes as acusações de ingerência no conflito na Ucrânia e exigiu insistentemente que fossem apresentadas pelo menos algumas provas reais dessas afirmações. Nada foi apresentado até agora.
Andrei Klimov, vice-presidente do Comitê do Conselho da Federação para Relações exteriores, fala da reação do Ocidente ao plano de Putin:
“Os americanos não estão muito interessados no abrandamento do conflito. Eles podem falar disso, mas, no plano prático, agem de outra forma. A UE está mais preocupada com a situação e penso que ficam mais contentes com a possibilidade de saída do beco. Embora se note a inércia na atividade sancionadora . No que respeita aos milicianos, não se trata de um exército disciplinado com uma rígida vertical de poder. São diferentes pessoas que também têm determinado interesses. E que não estão subordinados ao Kremlin, como pensam no Ocidente. Por isso é importante que aí também se estude os pontos do plano de Putin. Eles declaram que, em geral, apoiam esse plano, embora com algumas reticências. Por isso a Rússia terá de fazer esforços complementares para que este conflito ucraniano interno passe para a face das conversações”.
O plano de paz de Putin, revelado de forma breve durante o voo do avião sobre a Sibéria, provocou incômodo nos círculos diplomáticos do Ocidente. Isso foi reconhecido pelo jornal New York Times. O plano deu ao Ocidente um pretexto para adiar as sanções punitivas contra a Rússia, que prejudicariam a economia dos países europeus que se encontram no limiar de uma nova recessão, assinala o jornal.
A Rússia não é parte do conflito na Ucrânia, por isso o plano de Putin aponta apenas vias para a saída da situação, é lançar um braço de ajuda à Ucrânia, capaz de travar o derramamento de sangue. Não é por acaso que o plano foi revelado na véspera da reunião do grupo de contato para a normalização da situação na Ucrânia. Ela realiza-se a 5 de setembro em Minsk. E na véspera da cúpula da NATO no País de Gales.
Nota-se mais uma forte jogada do presidente da Rússia com vista a receber uma reação adequada dos parceiros ocidentais, que dizem-se interessados na busca de uma via pacífica para a saída da crise na Ucrânia.