Negociações em Minsk alcançaram resultados tímidos, mas houve progressos em questões ligadas à fronteira entre os países.
Nikolai Litóvkin e Aleksandra Trifonova, especial para Gazeta Russa
Na noite de terça-feira (26) foram divulgados os primeiros resultados das conversações em Minsk entre o presidente russo, Vladímir Pútin, e o presidente ucraniano, Petro Porochenko, sobre a atual situação da Ucrânia. Os chefes de governo não conseguiram fazer progressos quanto à resolução do conflito, mas obtiveram alguns resultados positivos na reunião.
Segundo especialistas russos, os resultados das negociações ficaram muito aquém das expectativas, e ainda permanece em aberto a questão de uma maior cooperação econômica entre os países por meio do trio União Aduaneira – UE – Ucrânia. Apesar disso, Moscou e Kiev avançaram em questões relacionadas com a interação dos organismos das fronteiras, o que ajudará a reduzir o grau de tensão nas relações entre os dois países. Confira abaixo a opinião de especialistas ouvidos pela Gazeta Russa.
Iúli Nisnevitch, professor do Departamento de Política Aplicada da Universidade Nacional de Pesquisa Escola Superior de Economia (NIU VChE na sigla russa)
Todas as expectativas que existiam na véspera da reunião de Pútin com Porochenko desapareceram, como se não tivessem passado de um mito. Ficou claro que nenhum progresso real acontecerá no relacionamento, já que o encontro dos chefes de Estado não trouxe quaisquer resultados sérios. O único aspecto que surgiu é o fato de ter se tornado claro o posicionamento da Rússia sobre a entrada da Ucrânia na União Europeia a partir de um ponto de vista puramente econômico.
Tirando isso, não vimos quaisquer progressos na resolução da crise política interna na Ucrânia. Durante as conversações se falou em criar um grupo de cooperação dos serviços de fronteiras da Federação Russa e da Ucrânia. Isso, é claro, é uma tentativa de encontrar um terreno comum, mas não é capaz de levar ao cessar-fogo. Normalmente, qualquer conversação se destina a tatear as divergências mais cruciais e os momentos nos quais é possível chegar a um compromisso, mas nessa situação eu não vejo esses momentos. Para começar, isso poderá ser feito com a troca de prisioneiros, que é uma variante possível.
Víktor Murakhóvski, especialista militar, editor-chefe da revista “Arsenal”
Como resultado das negociações de Minsk, a Rússia e a Ucrânia concordaram em realizar consultas entre os organismos das fronteiras e os Estados-maiores de ambos os países, no contexto da resolução da situação nas regiões orientais da Ucrânia. No entanto, ainda é muito difícil de dizer no que isso vai resultar. Até agora, a Ucrânia, sem apresentar qualquer evidência direta da intervenção russa, fez alegações sobre o fornecimento de equipamento militar de Moscou às milícias do sudeste do país.
Existe o pressuposto de que a Rússia é uma das partes do conflito: no Ocidente isso é um fato aceito por todos e entre nós existe uma série de especialistas que também pensam assim. No entanto, Moscou não está fornecendo armamento às milícias, fato que mais uma vez Vladímir Pútin fez questão de reiterar perante os jornalistas. A Rússia não participa do conflito na Ucrânia. O presidente nos disse sem rodeios que nós não podemos impor condições para as negociações de paz, que aquela é uma questão interna entre Kiev e as autoridades das repúblicas populares. Nós podemos apenas promover o início do processo de paz.
Um outro resultado das negociações foi ter se chegado a um acordo para a realização de consultas sobre questões energéticas e para a realização de encontros de peritos sobre a questão do impacto econômico da zona de comércio livre entre a Ucrânia e a UE.
Iákov Mírkin, responsável da seção de Mercados Internacionais de Capital do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais da Academia Russa de Ciências (para a edição russa do Expert Online)
O encontro da União Aduaneira com a Ucrânia, depois da assinatura do último acordo de associação com a UE, vinha amadurecendo há muito tempo, e mais cedo ou mais tarde um acordo terá que ser feito. Seja como for, somos países vizinhos, histórica e economicamente unidos. A Ucrânia continuará sendo um país de trânsito para nós, por isso será necessário encontrar mecanismos que permitam cumprir os interesses econômicos mútuos.
Sim, existe o risco de os produtos da Europa inundarem a Rússia, mas sejamos objetivos: nós aprendemos a superar esse risco. Como, por exemplo, a Suíça se protege assinando em julho de 2013 um acordo de livre comércio com a China, já que é precisamente através da China que o país é inundado de produtos isentos de taxa oriundos da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático), Chile, Peru, etc, com os quais o governo chinês tem acordos semelhantes? A resposta é simples. O objeto do acordo de livre comércio abrange unicamente os artigos com 100% dos seus componentes obtidos e produzidos no país, ou que sejam no país submetidos a uma "transformação substancial". Ao mesmo tempo, o acordo explica detalhadamente o que significa "totalmente obtidos e produzidos" e o que significa "transformação substancial", indicando todos os casos possíveis. Um acordo semelhante poderá vir a ser assinado entre os países da União Aduaneira, União Europeia e Ucrânia.