Há 70 anos, a cidade de Koenigsberg foi praticamente desapareceu da face da Terra pela Força Aérea britânica. Milhares de pessoas, um terço das quais eram crianças, foram mortas.
Alexandra Dibizheva | Voz da Rússia
Aviação britânica bombardeou pela primeira vez a cidade na noite de 27 de agosto de 1944, tendo destruído toda a parte oriental de Koenigsberg. Mas isso pareceu insuficiente aos ingleses. Dentro de um dia foi feita a segunda incursão. Naquela noite, foi arruinado todo o centro da cidade. Aqueles ataques aéreos foram de fato horríveis, lembra o músico Michael Wieck, natural de Koenigsberg:
“Como descrever um bombardeio aéreo?.. Primeiro vêem-se foguetes de iluminação que se lançam sobre a cidade antes do ataque. A seguir caem bombas fazendo forte ruído e voam aviões. No primeiro dia do ataque havia cerca de 600 aviões, e dentro de dois dias – já 800. Havia um ruído terrível, estávamos escondidos em porões, esperando que não fossemos atingidos. Tínhamos grande medo de morrer, porque essas bombas eram como minas, transformando prédios inteiros em grandes crateras. Praticamente não havia chances de sobreviver”.
Bombas de napalm foram utilizadas pela primeira vez nomeadamente em ataques aéreos a Koenigsberg. Habitantes mortalmente assustados da cidade sentiram plenamente em si a “novidade”, recorda Michael Wieck:
“Essas armas inflamáveis faziam queimar tão rapidamente a cidade que as pessoas escondidas em porões nem tinham a possibilidade de abandonar abrigos. O fogo envolvia ruas inteiras, provocando uma tormenta ardente, e não importava onde se escondiam as pessoas, porque o calor era tão forte que ninguém o podia suportar, morrendo carbonizado. Muitos habitantes do centro da cidade saltavam no rio Prególia, mas o fogo matava milhares de pessoas. Eu vivia nos arredores de Koenigsberg e estávamos em relativa segurança. Apenas algumas bombas alcançavam o nosso bairro”.
Foi impossível escapar desse furacão de fogo. A temperatura foi tão alta que o asfalto das ruas se derretia e muitas pessoas ficavam presas nessa mistura de terra e alcatrão. Centenas de pessoas foram queimadas vivas. Mas o número de vítimas continua desconhecido até hoje, diz o diretor do Museu de Koenigsberg, Maxim Popov:
“Segundo o relatório do chefe de bombeiros, houve 5 mil vítimas mortais confirmadas. Mas o número exato de mortos é desconhecido, porque todo o centro da cidade, onde vivia a maioria de mortos, foi consumido completamente pelo fogo. Quando se trata de um incêndio isolado, é possível combater contra o fogo, mas quando foram lançados 10 mil bombas numa hora e o incêndio se alastrou por uma área de dezenas de quilômetros, já é impossível fazer algo”.
Mais de cinco mil mortos e ainda duzentas pessoas sem lar são os resultados mais modestos daquelas duas noites terríveis. Mas apesar da escala e do horror da tragédia, essa história não suscitou grande ressonância internacional, em primeiro lugar porque os britânicos faziam parte da coalizão anti-hitleriana. E, como se sabe, o vencedor leva tudo, diz Mikhail Bykov, escritor e historiador da aviação militar:
“Pelo direito do vencedor esses fatos foram votados ao esquecimento em parte e não levaram à ressonância alguma. Esses episódios não se destacam especialmente, embora houvesse casos que podem ser qualificados como criminosos. É mais ou menos assim que a opinião pública também não considera criminosos os bombardeios de Hiroshima e de Nagasaki, embora na realidade esses atos foram puro crime contra a humanidade”.
O “bombardeio infernal” de Kaliningrado (nome que Koenigsberg obteve em 1946 após ter sido integrada pela União Soviética) está sendo recordado até hoje. Mas já há muito que vencedores haviam virado aquela página da história, pretendendo não remexer o passado indecoroso.