O combate das forças da coalizão contra a organização Estado Islâmico (EI) está se reforçando. Os franceses se juntaram aos ataques aéreos dos EUA contra objetivos do Estado Islâmico. No total foram realizados quase 200 ataques aéreos.
Vladimir Sazhin | Voz da Rússia
Esta semana os norte-americanos alargaram o território de operações da sua força aérea ao território sírio. Foram efetuados quase 20 ataques. À operação militar estadunidense na Síria se juntaram cinco Estados árabes: a Jordânia, o Bahrein, o Qatar, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos.
Entretanto, o Ocidente não tenciona por enquanto realizar nenhuma operação terrestre contra o Estado Islâmico. Esse papel está destinado ao Irã. Hoje Teerã está disposto a cooperar. O presidente iraniano Hassan Rohani declarou que as forças armadas iranianas irão apoiar os países do Oriente Médio no combate aos grupos terroristas. Mas em troca Teerã gostaria de ver uma posição mais flexível dos estadunidenses nas negociações sobre seu programa nuclear.
Tudo indica que os EUA poderão suavizar sua posição. Segundo algumas informações, no âmbito do processo negocial sobre a questão nuclear do Irã, os norte-americanos estão dispostos a alterar sua posição relativamente a suas anteriores exigências de redução do número de centrífugas para obtenção de urânio enriquecido. Aliás, isso poderá se tornar em uma base para um futuro sucesso nas negociações do grupo de países G5+1 com o Irã.
Esse passo de Washington demonstra o papel importantíssimo desempenhado por Teerã para se alcançar o sucesso no combate contra o Estado Islâmico. Pois os EUA, e não apenas eles, compreendem perfeitamente que apenas os ataques aéreos, mesmo os mais poderosos, não permitirão alcançar a vitória final. Entretanto, nem o fraco exército iraquiano, nem os destacamentos dispersos das forças sírias, tanto governamentais como da oposição, estão em condições de se opor com eficácia aos bem apetrechados fanáticos do Estado Islâmico.
Hoje o Irã é precisamente o adversário mais sério do Estado Islâmico. O Irã, que durante oito anos combateu o exército iraquiano de Saddam Hussein, está bem familiarizado com esse teatro de operações e conhece perfeitamente a situação no Iraque e, o que é mais importante, em caso algum irá aceitar a criação de um califado obscurantista no país vizinho. Por outras palavras, ele é uma força político-militar real e capaz de contribuir para a destruição do Estado Islâmico.
Além disso, Teerã tem certamente uma rede de informações ativa e eficaz no Iraque, assim como destacamentos de operações especiais capazes de atuar nas condições locais iraquianas. Também não podemos esquecer que os iranianos possuem estreitas ligações aos grupos militares xiitas iraquianos, o que também contribui para o valor de uma intervenção iraniana contra o Estado Islâmico.
Claro que é difícil supor que as forças armadas iranianas vão transpor a fronteira entre o Irã e o Iraque com dezenas de divisões, formando uma extensa frente, irrompendo nos territórios ocupados pelo Estado Islâmico. Isso seria possível, provavelmente, apenas a pedido do governo iraquiano para defender Bagdá ou os locais sagrados dos xiitas. Mas o Irã já está em condições de usar destacamentos de operações especiais para realizar ataques pontuais contra alvos estratégicos do Estado Islâmico. Além disso, Teerã pode reforçar seu apoio tanto ao exército iraquiano, como aos combatentes curdos do Peshmerga, o que ele neste momento já está fazendo enviando armamento e seus conselheiros militares.
Também tem bastante importância a capacidade da inteligência iraniana no âmbito da troca de informações com seus parceiros na luta antiterrorista.
Depois do início das operações aéreas dos EUA em território da Síria e sem a sua autorização, surgiram receios que os norte-americanos iriam atacar simultaneamente alvos do governo de Bashar Assad. Neste momento isso parece pouco provável. Todos compreendem que o principal é destruir o Estado Islâmico e seus satélites no Iraque e na Síria.
Há dias o ministro das Relações Exteriores da Síria Walid Muallem declarou que, se se tratar realmente de atacar o Estado Islâmico, a Síria não se irá opor a esses ataques. A situação terá de ser avaliada conforme os resultados, disse o ministro sírio.
Os ataques contra alvos do Estado Islâmico na Síria foram apoiados tanto pela direção iraquiana, como pelos restantes membros da coalizão. Realmente, é no território desse país que estão localizados os principais centros de comando, bases e campos do Estado Islâmico. Foi precisamente a partir daí que os terroristas começaram sua ofensiva contra o Iraque. Sem a destruição da base dos terroristas na Síria será impossível vencê-los.
Sem dúvida que os norte-americanos terão de ser extremamente cuidadosos nos seus ataques contra território da Síria. Qualquer erro ou falha nos cálculos pode ter consequências catastróficas que podem inviabilizar as perspetivas de vitória sobre o inimigo comum.