A Rússia está seriamente preocupada com a situação no Iraque, onde militantes do Estado Islâmico estão construindo com bastante sucesso o seu “califado global”, utilizando para isso métodos chocantes para qualquer pessoa civilizada.
Serguei Duz | Voz da Rússia
Moscou está exortando seus parceiros ocidentais a abandonarem os duplos padrões na luta contra o terrorismo. Esta prática só pode ser ultrapassada com base nos princípios do direito internacional e em estreita cooperação com as autoridades legítimas. A ameaça do Estado Islâmico ultrapassou as fronteiras regionais tornando-se uma dor de cabeça para toda a comunidade mundial. Ao mesmo tempo, segundo o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, o Ocidente e a Rússia devem unir-se no desejo de vencer o terrorismo internacional e de evitar que terroristas ocupem novos territórios criando assim, essencialmente, um Estado terrorista.
“Mas quando nós lutamos contra o terrorismo, é preciso fazê-lo com base no direito internacional, inclusive respeitar à soberania dos respectivos estados”, disse Lavrov. Quando começou a Primavera Árabe, a Rússia propôs a seus parceiros trabalhar em conjunto, com base em abordagens mutuamente acordadas, mas no Ocidente prevaleceram considerações de conveniência política:
“O que é mais importante: mudar regimes e satisfazer antipatias pessoais, ou unir forças contra a ameaça comum – o terrorismo? Somos a favor da segunda opção. Antipatias pessoais incentivaram os esforços para derrubar Saddam Hussein. Agora vemos em quê se transformou o Iraque. Antipatias pessoais foram em grande parte a causa da derrubada de Kadhafi. Como resultado, a Líbia se desmoronou. E Deus sabe quando tudo isto acabará”.
O Estado Islâmico, com o qual agora estão tentando lutar os norte-americanos, também, inicialmente também gozava de seu apoio, como os Mujahidin que criaram a Al-Qaeda e organizaram o ataque 11 de setembro de 2001. No Iraque, os Estados Unidos correm o risco de cometerem o mesmo erro, acredita o vice-presidente da Academia de Problemas Geopolíticos, Vladimir Anokhin:
“Os Estados Unidos entendem perfeitamente que o seu fracasso no Iraque a precipitação deste estado num caos incontrolável pode levar a sérias perdas políticas e econômicas. Terroristas do EI, ao contrário do Taliban e da Irmandade Muçulmana, têm propriedade territorial e armamentos poderosos que os norte-americanos forneceram ao exército iraquiano. É óbvio que a coisa não ficará só pelo Iraque”.
Tendo percebido todo o escopo do seu erro, os norte-americanos estão começando a reconhecer que a posição do Ocidente em relação à guerra civil síria estava errada e que, provavelmente, eles deveriam ter ouvido as advertências do presidente russo, Vladimir Putin.
O jornal The Washington Post recorda como mudou a abordagem ao problema em apenas um ano. Ainda no outono passado o Ocidente estava se preparando para uma ação militar contra o regime de Bashar Assad, e agora a Força Aérea dos EUA está atacando opositores do líder sírio. A ironia do momento é trágica, observa o jornal. Mas desde o início estava claro que na Síria está acontecendo não uma luta pela democracia mas um conflito armado entre o governo e a oposição num país multirreligioso. Só que até certa altura para o Ocidente era inconveniente admiti-lo.
Agora os norte-americanos estão à procura de novos aliados na região pois os velhos já não são adequados, diz Vladimir Anokhin:
“O medo de atos terroristas obrigará a cooperar com quem quer que seja. Há um ano, os Estados Unidos diziam que os rebeldes na Síria devem ser ajudados por quaisquer meios, inclusive com armas. Agora eles começam a flertar com Assad para para estrangular os fundamentalistas com suas mãos”.
Há que admitir que o Estado Islâmico está agindo com muito sucesso. Os militantes conseguiram chegar a Bagdá de três direções: do sul, norte e oeste. Por todo o Iraque estão decorrendo batalhas. O exército regular do país se viu impotente perante o ataque dos fundamentalistas. Havia esperanças no Exército de Guardiães da Revolução Islâmica, mas ele não foi capaz de atingir os objetivos propostos. Mesmo a milícia curda Peshmerga estava recuando até que recebeu apoio da aviação norte-americana.
Entretanto, grupos de militantes tentaram avançar para o Mediterrâneo para ganhar acesso a novos centros de transportes e controlar comunicações. Eles foram parados, mas a própria tentativa mostra que o Estado Islâmico não vai parar na sua expansão territorial. Os terroristas devem ser parados hoje.
Mas esta organização é impossível de derrotar pelas forças de um só Estado, e nenhum deles manifestou a vontade de fazê-lo. Para vencer, são necessários esforços conjuntos. Apesar da escalada de tensões em torno da Ucrânia, a Rússia e os Estados Unidos ainda são aqui aliados naturais. É necessário, pelo menos temporariamente, fechar o tema ucraniano artificialmente inflado pelo Ocidente e se concentrar no essencial, enquanto junto da Europa não surgiu um verdadeiro estado terrorista.
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