Em cinco horas da “reunião ucraniana” em Berlim dos ministros de Relações Exteriores da Rússia, Alemanha, França e Ucrânia não houve milagres, mas já o simples fato de que as negociações aconteceram, dá esperança. Segundo disse o chanceler russo, Serguei Lavrov, isso mostra que a UE e a Rússia estão dispostos a buscar maneiras de acabar com a guerra civil no coração da Europa. Washington não está oficialmente participando no formato quadripartite, embora por trás das condições inaceitáveis que Kiev impõe constantemente em tais reuniões, sentem-se claramente “dicas” dos Estados Unidos.
Andrei Fedyashin | Voz da Rússia
Os rumores sobre a possibilidade de uma próxima reunião de alto nível entre os presidentes da Rússia e da Ucrânia, e até mesmo dos líderes da França e da Alemanha, como seria de esperar, foram um grande exagero. Os participantes das consultas de Berlim, nos próximos dois dias, tentarão “elaborar formulações mutuamente aceitáveis” e passá-las aos líderes dos estados. Só depois disso será decidido o formato provável das negociações seguintes. O respectivo anúncio foi feito após a reunião quadripartida de domingo em Berlim pelo chanceler russo, Serguei Lavrov.
O ministro russo, aliás, foi o único dos participantes da reunião que deu, depois dela, uma extensa conferência de imprensa:
“É importante o próprio facto de que ninguém na reunião se opôs a confirmar a Declaração de Genebra. Isto é, em si, uma conquista. É triste, claro, que temos que considerar uma conquista a confirmação de um consenso que foi registrado ainda vários meses atrás. Mas na verdade isso já é positivo. Porque até recentemente, na Europa já nem sequer queriam mencionar a Declaração de Genebra”.
A Declaração de Genebra de 17 de abril foi adotada pela Rússia, os EUA, a UE e a Ucrânia. Ela era um “roteiro” da resolução e previa o desarmamento de todos os grupos armados ilegais, uma anistia, e a libertação dos edifícios ocupados. E, o mais importante, “o início imediato de um abrangente diálogo nacional, que tivesse em conta os interesses de todas as regiões e formações políticas da Ucrânia”.
Em vez disso, Kiev, por iniciativa dos Estados Unidos, propôs um “plano de paz de Poroshenko”. Era um ultimato exigindo a rendição imediata de membros de milícias no Sudeste, o que teria causado uma carnificina nas regiões de Donbass e Lugansk. Nas cidades e vilas dessas regiões controladas pela Guarda Nacional da Ucrânia já começaram operações de “limpeza” e “filtragem” semelhantes às que realizavam nos territórios ocupados da União Soviética os punidores nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
O ministro russo lembrou que Kiev e seus patrocinadores ocidentais ou têm uma memória muito curta ou longas lacunas nela. Os mesmos princípios que em Genebra foram registrados ainda na declaração de Kiev de 21 de fevereiro, assinada por ministros de Relações Exteriores da França, Alemanha e Polônia, disse Lavrov:
“O conceito de unidade nacional é a base de tudo o resto. Este é o primeiro parágrafo daquele acordo de Kiev. Todos partiam justamente disso. De que haveria um governo de unidade nacional. Um governo transitório, mas de unidade nacional. Dois dias depois do acordo ter sido assinado, ele foi quebrado. Teve lugar um golpe, e foi anunciado que em Kiev se instalou o “governo dos vencedores”. Sinta a diferença: por um lado, a unidade nacional, por outro, os vencedores e os perdedores. É aí que está o problema, que hoje está levando a novas e novas tragédias na Ucrânia”.
A principal evolução positiva na reunião em Berlim foi o consenso sobre o fornecimento da ajuda humanitária da Rússia aos habitantes do sudeste da Ucrânia, disse Serguei Lavrov. Foram removidas “todas as questões que tinham sido postas em grande parte artificialmente pela Ucrânia e o Ocidente”.
Infelizmente, acrescentou Lavrov, nada parecido aconteceu na abordagem ao cessar-fogo e ao início de um processo político de resolução:
“O cessar-fogo é a tarefa mais urgente, porque estão morrendo pessoas e está sendo destruída a infraestrutura civil. Nós reafirmamos a nossa posição que é, como já o dissemos várias vezes, que o cessar-fogo deve ser incondicional. Nossos colegas ucranianos, infelizmente, continuam apresentando várias condições. E bastante vagas, incluindo a garantia, como eles dizem, de “impenetrabilida de de fronteiras”.
Lavrov lembrou que a Rússia já admitiu em seu território observadores da OSCE e eles ainda nunca registaram quaisquer “movimentos ilegais” na fronteira com a Ucrânia.
Ele chamou de desinformação as declarações de Kiev de que suas forças de segurança supostamente destruíram há dias um “comboio de automóveis russo” que tinha secretamente cruzado a fronteira. Enquanto que a destruição pelas milícias de um comboio ucraniano, que tentou cercar Lugansk, realmente teve lugar, disse Serguei Lavrov.