Os planos do Japão quanto à criação de Forças Militares Espaciais tornar-se-á em um factor de forte irritação nas relações sino-nipónicas e agudizará a concorrência das duas potências no espaço.
Natalia Antakovskaya | Voz da Rússia
Esta é a opinião do investigador do Centro de Estudos Nipónicos, Viktor Pavliatenko. A aprovação, pelo Ministério da Defesa, da criação de uma Unidade de Defesa Espacial, é um novo passo para reforçar a capacidade militar do Japão, considera ele.
O principal objetivo declarado da nova Unidade prende-se com a monitorização do lixo espacial. Ou seja, evitar colisões entre satélites fora de serviço e fragmentos de mísseis com aparelhos da Unidade Japonesa que se encontram em funcionamento. Contudo, os japoneses não estão a criar a Unidade de Defesa Espacial apenas para combater o lixo. A tensão política no relacionamento com Pequim cria todas as condições para que sejam utilizadas as capacidades da nova Unidade para monitorizar a atividade militar da China, considera Viktor Pavliatenko:
“Este processo existe e é levado a cabo com todos os meios disponíveis, incluindo a Unidade Espacial que existe no Japão. Ela declara que monitoriza a atividade dos mísseis norte-coreanos e resolve questões de segurança nacional. Mas os satélites recolhem a mesma informação acerca da China. Aliás, há muito que o fazem, é natural. Novas áreas espaciais irão alargar o espetro do controle, pois terão o apoio de uma estação terrestre equipada com radares e telescópios”.
O Japão começou a equacionar a necessidade de reforçar o controle sobre o espaço após a experiência bem sucedida da China com um míssil antissatélite, em 2007. Um ano após, introduziu alterações legislativas que limitavam o estudo do espaço à Academia.
Alegadamente, em julho, a China lançou um novo míssil contra aparelhos espaciais. Foi exactamente nessa altura que chegou a aprovação do projeto nipónico para a criação da Unidade de Defesa Espacial, referiu Viktor Pavliatenko:
“É evidente que já não é o nível de competitividade que aumenta, mas de rivalidade entre a China e o Japão. Já passaram de uma fase para a outra. A China está à frente do Japão em diversas áreas. Por isso é que, no âmbito desta rivalidade, o fator espacial emerge e se reforça. China já avançou bastante – já lançou estações espaciais tripuladas. E o potencial é bastante elevado. A China já se transformou numa das potências líder em termos espaciais, em termos de rivalidade, o Japão está atualmente perdendo”.
A China reage de forma dolorosa a qualquer tentativa do governo de Shinzo Abe de rever a orientação pacifista da Constituição. Particularmente ao dar às Forças de Autodefesa japonesas o caráter de forças atacantes. A legalização da Unidade de Defesa Espacial é um novo elemento de irritação para Pequim, considera Viktor Pavliatenko:
“É evidente que isso irá deixar Pequim em estado de alerta face a novos desenvolvimentos, ativando a sua ação política, apesar de já ser bastante intensa. Já para os japoneses trata-se de um passo em frente em termos morais. O Japão dirige-se, passo a passo, em direção ao objetivo que muitos dirigentes denominam de “tornar-se em um Estado normal”. Ser a terceira potência econômica mas não ter nenhum papel em termos de resolução de questões político-militares não só na região, mas também na arena internacional, já não serve os interesses do Japão contemporâneo. Tornar-se num Estado normal significa ter um aparelho militar que possa ser utilizado como elemento de demonstração de capacidade e de assertividade do Japão. Ele acaba por dar força e autoconfiança aos japoneses. E a criação da Unidade Espacial é um balsamo para a alma de cada japonês”.
Os peritos consideram que a criação, por parte do Japão, de uma força espacial militar poderá aumentar o risco de militarização do espaço. Além disso, tanto os EUA como a China estão reforçando as suas Unidades Espaciais e trabalham ativamente no desenvolvimento de armamento antissatélite.