Por Redação, com agências internacionais - de Moscou
Cerca de 100 caminhões, parte de um comboio russo que havia cruzado a fronteira leste da Ucrânia, retornaram à Rússia neste sábado. O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, tinha acusado a Rússia de “flagrante violação da lei internacional” após a entrada de 220 veículos na sexta-feira. A chanceler alemã, Angela Merkel, que está na capital ucraniana, Kiev, para negociações com Poroshenko, classificou o ato de “escalada perigosa”.
Após a entrega dos víveres, os militares que guiaram os caminhões russos voltaram ao país com a sensação do dever cumprido
O comboio foi até a cidade de Lugansk, que está sob controle dos grupos separatistas pró-Rússia que vêm combatendo as tropas do governo da Ucrânia. Os militares russos foram recebidos com festa e o Kremlin elogiou a bravura dos homens que conduziram os caminhões com geradores, comida, bebida e outros itens de ajuda humanitária. Autoridades ocidentais suspeitavam tratar-se de reforços para uma intervenção militar, mas tiveram que voltar atrás nas críticas.
O comboio aguardou durante uma semana a autorização ucraniana para cruzar a fronteira, mas acabou entrando sem qualquer controle aduaneiro e sem o acompanhamento da Cruz Vermelha, que também tentou negociar a passagem dos veículos, para evitar que os víveres se estragassem. Autoridades russas disseram que não era mais possível esperar diante da cada vez mais grave crise humanitária no leste ucraniano.
Depois de quatro meses de confrontos entre separatistas pró-Rússia e forças ucranianas, mais de 2 mil pessoas já morreram. Mais de 330 mil foram forçadas a abandonar as suas casas. Os Estados Unidos também afirmaram que o deslocamento do comboio russo era uma violação da soberania ucraniana e uma escalada “perigosa” do conflito. A Casa Branca afirmou ainda que os russos deveriam recuar ou sofreriam um isolamento ainda maior, mas não intimidou o governo russo.
Em um telefonema, o presidente Barack Obama e Angela Merkel disseram que a situação “vem se deteriorando” desde que um avião comercial da Malásia foi derrubado em território rebelde no mês passado, matando todos as 298 pessoas a bordo.
Oficiais da Otan acusam a Rússia de estar reforçando as suas tropas na fronteira e mesmo operando com artilharia dentro da Ucrânia. No entanto, o embaixador russo no Conselho de Segurança da ONU, Vitaly Churkink, acusou os governos ocidentais de distorção da realidade.
– Às vezes, tenho a impressão de estar assistindo um filme surrealista, porque alguns integrantes do Conselho não estão preocupados com o fato de centenas de pessoas estarem morrendo – disse. A situação é tão grave na área que moradores da região de Donetsk estão coletando água da chuva para sobreviver à crise humanitária.
Churkink afirmou que a Rússia teve que tomar providências para não desperdiçar produtos perecíveis e que espera que a Cruz Vermelha ajude a distribuí-los.
– Esperamos o suficiente. Estava na hora de nos mexermos, e foi o que fizemos – disse Churkink.