O governo ucraniano não controla o Setor de Direita, de ânimos ultranacionalistas. A sua última “demarche” empreendida contra o Ministério do Interior (MI), comprova este fato consumado, anunciou hoje o chanceler russo, Serguei Lavrov. Pouco antes, o líder do Setor de Direita, Dmitry Yarosh, tinha avançado um ultimato, apontando a “necessidade de purgas no meio do MI” e ameaçando com uma eventual marcha de seus combatentes em direção a Kiev.
Igor Siletsky | Voz da Rússia
Todavia, a marcha foi cancelada. O líder de ultranacionalistas disse que os poderes tinham cumprido algumas reivindicações – puseram em liberdade alguns militantes, designados por Yarosh de “irmãos”. Por isso, muitos membros do Setor de Direita continuam combatendo no leste da Ucrânia. Mais um ponto do ultimato - a demissão do primeiro vice-ministro do Interior - está sendo examinado. Deste modo, o Setor de Direita mantém suas posições, ainda por cima se gabando dessa pequena “vitória”.
O chefe do Ministério do Interior, Arsen Avakov, qualificou a demarche de Yarosh de “um ato de pompa”, acentuando que a alegada demissão de um dos seus “vices” se examina há já duas semanas. As declarações “hostis” do chefe do Setor de Direita se devem à aproximação das legislativas. Nas eleições presidenciais, Yarosh nem sequer ganhou 1% dos votos. Agora, para ser eleito à Suprema Rada, deverá contar com apoio de 5% dos eleitores. Em geral, o Setor de Direita ainda “não cresceu tanto para colocar ultimatos perante aos poderes legítimos”, realçou o conselheiro do ministro do Interior, Anton Geraschenko.
A história com o ultimato ilustra muito bem até ponto tem sido efêmero a influência de Kiev sobre destacamentos paramilitares, frisou em relação com isso, o chanceler russo, Serguei Lavrov:
“Claro que as autoridades de Kiev não controlam múltiplos grupos armados, incluindo o Setor de Direita que constitui o grosso da Guarda Nacional. O governo da Ucrânia não controla os batalhões criados por oligarcas, tais como Azov, Dnepr e outros tantos. É por isso que a Rússia insiste em que os poderes de Kiev iniciem um diálogo com todas as forças regionais, demonstrando assim ao Sudeste o seu interesse em reconciliação nacional”.
Mas os dirigentes ucranianos não reagem aos apelos de bom senso. Parece que não tem tempo para isso, visto que a luta pelo poder está em fase inicial, considera Kira Sazonova, professora associada da Academia Nacional de Serviços Públicos:
“É uma situação absolutamente esperada. Claro que o Setor de Direita, graças ao qual o atual governo chegou ao poder, é uma organização “explosiva” que poderá provocar consequências desagradáveis aos atuais governadores. Sem dúvida, a luta pelo poder continua”.
Ao passo que as eleições para Suprema Rada vão se aproximando, essa luta se torna cada vez mais dura. Para já, não há premissas para que a situação na Ucrânia se melhore em breve, acentua Vitali Zhuravlev, perito do Instituto de Comunidades Russas no Exterior:
“A situação irá agudizar-se mediante falsificações informativas, mentiras e calúnias. Nesse sentido, o quadro político nas vésperas das eleições, não será estável perante o agravamento da situação político-social - a crise de gás, o próximo inverno frio, problemas com o pagamento de salários e aposentadorias. O período de outono e inverno será muito complicado”.
A luta será travada não apenas no campo informativo. Poroshenko, Yatsenyuk e Avakov, bem como os governadores locais, têm demonstrado que seus fins políticos justificam os meios. Não lhes custou nada reduzir em ruínas um terço do seu país. Eles irão afastar seus correligionários “oportunistas” sem pensar em consequências – basta recordar o assassínio de um dos adjuntos de Yarosh, Alexander Muzychko (Sashko Bily).
Por isso, o líder do Setor de Direita tem de tomar cuidado para que as “purgas” exigidas por ele no Ministério do Interior não afetem, de forma radical, a sua “diocese”.