A recente declaração de um dos líderes do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) que esse movimento pretendia atacar a Arábia Saudita provocou sérias preocupações nesse reino. Para a fronteira com o Iraque, cuja maior parte já é controlada pelo EIIL, foram deslocados mais 30 mil soldados.
Vadim Fersovich | Voz da Rússia
Riad pediu garantias de segurança a seus principais aliados no mundo árabe – o Egito e o Paquistão. Parece que o país que ocupa o quarto lugar do mundo em orçamento de defesa não está confiante na eficácia de suas próprias forças armadas. Depois da campanha do EIIL no Iraque se tornou evidente que nem a ciência militar estrangeira, nem os meios de combate modernos, são capazes de travar os processos que foram iniciados há muitos anos, inclusivamente por forças influentes no Reino da Arábia Saudita.
Tal como foi previsto pelos peritos ainda no final do século passado, a ideia da redução da tensão interna através da exportação dos seus portadores apenas aumentou seus números e agravou a situação.
Claro que todos percebiam o perigo dos cidadãos radicais do reino regressarem um dia. Mas, segundo vemos pela reação de Riad, dificilmente alguém pensaria que na própria fronteira do país iria surgir de repente uma força tão grande, organizada, equipada e motivada.
Assim como a eficiência e a flexibilidade da estratégia militar do recém-formado “califado”. Desde o início a liderança do EIIL executou uma cadeia de tarefas consequentes e realistas. Tendo obtido experiência de combate na Síria, ele concentrou em momento oportuno seus esforços na frente leste.
Tendo obtido no Iraque uma base material suficiente e um território com vias de comunicação, que permitem manobrar tropas e transferir material pesado, o exército do califado agora se dedica à consolidação dos territórios ocupados e ao reagrupamento de forças.
Irá o “califado” continuar tentando atacar na Síria e no Iraque já em territórios com populações que lhe são hostis e com grandes formações de exércitos regulares? Muitos por enquanto esperam que sim. Mas Theodore Karasik, do Instituto de Análise Militar do Oriente Médio e Golfo Pérsico no Dubai, pensa que logo após a consolidação de forças existe um perigo real de “eles tentarem regressar ao reino”. Existem fundamentos para esse ponto de vista.
Tal como no Iraque, o EIIL dificilmente conta apenas com o êxito de uma intervenção exterior. Ainda na primavera no reino surgiram sinais de ativação da “quinta coluna” desse movimento.
De abril a junho o EIIL usou ativamente no reino aplicações móveis para propaganda e recrutamento de apoiantes.
Em maio Riad declarou que foi descoberta uma conspiração de terroristas ligados ao EIIL. Seu objetivo era o assassinato de altas personalidades sauditas e ativistas religiosos.
Desde o verão que o EIIL escreve seus slogans em paredes por todo o reino, em junho na capital também surgiram folhetos do “califado”.
Desde 1 de agosto o EIIL desenrolou nas redes sociais da Arábia Saudita uma campanha para recolha de dados pessoais de funcionários dos serviços secretos sauditas com o objetivo de liquidá-los. O resultado foram as cerca de 30 mil postagens com moradas, fotografias e números de telefone de uma grande quantidade de cidadãos alegadamente associados à Inteligência Geral.
A ativação do EIIL já foi apoiada por seu aliado da “frente sul” – a Al-Qaeda na Península Arábica (AQAP, na sigla em inglês). O vídeo de um atentado em 4 de julho, quando dois terroristas da AQAP explodiram num posto de controle na fronteira com o Iêmen, terminava com ameaças de novos ataques não apenas na fronteira, mas também no interior do território da Arábia Saudita.
Mas se o “califado” não conseguir sucesso com sua operação militar no reino, suas ameaças de destruir santuários islâmicos são bem reais. Isso já aconteceu antes.
Hoje poucos se lembram que em 1979, quando no Irã foi criada uma república islâmica depois da derrubada do xá, na Arábia Saudita ocorreram processos idênticos. No dia 20 de novembro, 500 extremistas religiosos ocuparam, e mantiveram em seu poder, a Grande Mesquita de Meca, exigindo o derrube da monarquia e a expulsão das companhias ocidentais e dos “infiéis” para fora do país.
Durante o assalto a mesquita foi destruída. Foram decapitados publicamente 63 terroristas, mas um dos suspeitos, um tal Mahrous bin Laden, foi liberado. Já o chefe da operação e da Inteligência Geral príncipe Turki bin Faisal Al Saud propôs a seu irmão Osama que viajasse para o Afeganistão para ajudar os mujahedins...
Trinta e cinco anos depois, os que cresceram com as ideias de Ozama bin Laden voltam ameaçando destruir a Grande Mesquita de Meca. Mas agora eles podem fazer muito mais.